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Opinião

Desemprego e informalidade em Angola: Quando o Estado intervém mal

MILAGRE OU MIRAGEM?

Alguns autores na literatura especializada defendem que o Estado, muitas vezes, precisa intervir para acelerar o desenvolvimento. E é verdade. O problema no País não tem sido a ausência de intervenção estatal, mas sim a má concepção e implementação das políticas públicas. Basta lembrar, por exemplo, a entrega de tractores a cooperativas, muitos dos quais estão hoje inoperacionais; ou os perímetros irrigados que, apesar do avultado investimento, geram baixos retornos e hoje paralisados.

Recentemente, o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou a Folha de Informação Rápida (FIR) do Inquérito ao Emprego em Angola (IEA), referente ao 1.º trimestre de 2025. Entre os principais destaques está a redução da taxa de desemprego em 1 ponto percentual face ao 4.º trimestre de 2024 - de 30,4% para 29,4%. Apesar da ligeira melhoria, continuamos a lidar com uma taxa extremamente elevada.

A análise detalhada revela que o desemprego caiu em quase todas as categorias - por área de residência, sexo e faixa etária jovem - excepto entre os homens e nas zonas urbanas, onde aumentou 0,6 pontos percentuais. Mas há um dado ainda mais preocupante: a informalidade laboral, que atinge 80,8% da população empregada e chega a incríveis 96,7% entre os jovens de 15 a 24 anos - um aumento em relação aos 92,4% registados no final de 2024.

A desigualdade de género também é evidente: 89,4% das mulheres estão no sector informal, face a 71,9% dos homens. Estes números não são apenas estatísticas: são um alerta sobre a precariedade generalizada do mercado de trabalho e sobre os efeitos estruturais da ausência de políticas eficazes.

Os sectores que mais empregaram neste primeiro trimestre de 2025 foram, uma vez mais, os de sempre: agricultura, produção animal, caça, florestas e pesca (50,7%), seguidos pelo comércio (20,1%). Esses dados expõem, de forma clara, a falta de transformação estrutural da economia angolana - um tema que temos debatido recorrentemente neste espaço. Embora o sector agrícola represente apenas 10,2% do PIB nominal, é nele que se concentra mais da metade do emprego no país. O terceiro maior empregador é o sector da administração pública, defesa e segurança social (6,6%), enquanto sectores estratégicos como a construção (3,2%) e a indústria (4,9%) continuam a ter um peso irrisório no emprego.

A teoria do desenvolvimento económico mostra que, num contexto onde se esteja a criar um modelo de economia de mercado, é natural que, numa fase inicial, a agricultura absorva uma grande parte da mão de obra. Porém, espera-se que, com o aumento da produtividade - por meio da mecanização, da introdução de insumos como fertilizantes e adubos e da qualificação da mão de obra - ocorra uma migração progressiva para sectores mais produtivos, como a indústria. Os dados do IEA mostram que essa transição em Angola está a ocorrer de forma muito lenta, quase estagnada.

Alguns autores na literatura especializada defendem que o Estado, muitas vezes, precisa intervir para acelerar o desenvolvimento. E é verdade. O problema no País não tem sido a ausência de intervenção estatal, mas sim a má concepção e implementação das políticas públicas. Basta lembrar, por exemplo, a entrega de tractores a cooperativas, muitos dos quais estão hoje inoperacionais; ou os perímetros irrigados que, apesar do avultado investimento, geram baixos retornos e hoje paralisados; ou ainda o projecto "chave na mão" das grandes fazendas, financiado pela China, que fracassou completamente por má gestão do processo.

Na indústria, a situação não é diferente. Angola está entre os países africanos classificados como tendo um processo de industrialização estagnado, segundo o Índice de Industrialização em África do Banco Africano de Desenvolvimento. E, novamente, não se pode culpar a falta de planos. Entre 2009 e 2023 foram elaborados ao menos quatro programas estratégicos para a industrialização - todos sem implementação efectiva ou com execução irrisória. Como consequência, o sector da indústria continua a empregar menos de 5% da população.

Leia o artigo integral na edição 827 do Expansão, de Sexta-feira, dia 23 de Maio de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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