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Opinião

Angola: A elegia arcana dos algarismos no destino da República em 2024

CONVIDADO

A taxa de pobreza extrema, embora mascarada por médias estatísticas, esconde realidades cruas de famílias que subsistem no limiar da miséria, entrelaçadas num tecido social que se desfia a cada dia. As disparidades regionais transformam Angola num mosaico de desigualdades, onde o luxo das metrópoles contrasta cruelmente com a indigência das aldeias esquecidas.

Este texto é um réquiem por Angola em 2024, - Requiem æternam dona eis, Domine (Dai-lhes o repouso eterno, Senhor), - uma meditação lúgubre onde os algarismos, frios e inexoráveis, se metamorfoseiam em epitáfios silenciosos de um ano que flagelou o corpo e a alma da pátria. Cada estatística ressoa como um eco distante de lamentos, estilhaçando o coração daquele que, acima de tudo, é patriota e, mais ainda, é angolano ou nutre um amor profundo por Angola. A análise que se segue, alicerçada nas dimensões Política, Económica, Social, Tecnológica, Ambiental e Jurídica (PESTAL), procura descortinar as chagas ocultas que os dados do Banco Mundial de 2024 apenas insinuam, mas que as vozes sufocadas confirmam em sussurros pungentes.

Dimensão política

A corrupção, uma praga que persiste como uma hera insidiosa a corroer os alicerces do edifício institucional, aprofunda-se. O índice declina de -0,60 para -0,84, enquanto o percentil se despedaça de 29,2 para 22,0. A eficácia governativa, esse termómetro da dignidade estatal, desce de -1,01 para -1,09, evidenciando uma máquina administrativa paralisada pela sua própria apatia. Lideranças titubeantes, ensombradas pela magnitude das expectativas e pelo espectro do fracasso, deixam esmorecer o sonho de uma nação íntegra, dissolvendo-o num rasto de confiança traída e de uma esperança que se esbate, como o último raio de sol de um dia que não volta. Entre os corredores do poder, o eco das promessas incumpridas ressoa como um coro de vozes perdidas, enquanto a cidadania aguarda por gestos que nunca se concretizam.

Dimensão económica

A economia, cambaleante e exaurida, oscila entre a agonia e o colapso. O PIB, que em 2023 vislumbrava um modesto crescimento de 1,00%, retrocede para -0,40%, enquanto a inflação, voraz como uma labareda, alastra de 13,64% para 19,95%, consumindo os parcos recursos das famílias. O investimento direto estrangeiro despenca de USD -2,11 mil milhões para USD -4,24 mil milhões, deixando a nação desamparada no cenário global. A poupança interna definha, como um relicário vazio de esperança, hipotecada por um presente sufocante que deixa pouco espaço para sonhar com o futuro. As exportações, em sua dependência dos combustíveis fósseis, aprisionam Angola numa armadilha de preços voláteis, como um navio encalhado em marés traiçoeiras. O sector informal, que deveria ser um esteio para a sobrevivência, é relegado ao ostracismo, perpetuando desigualdades e acentuando a vulnerabilidade de milhões.

Dimensão social

A esfera social emerge como um drama trágico. O desemprego juvenil atinge os 30,56%, um clamor abafado de gerações desorientadas, perdidas num labirinto de promessas não cumpridas. As cidades, inchadas pelo êxodo rural, veem a urbanização acelerar de 3,96% para 4,21%, transformando promessas de progresso em enclaves de desespero. A taxa de pobreza extrema, embora mascarada por médias estatísticas, esconde realidades cruas de famílias que subsistem no limiar da miséria, entrelaçadas num tecido social que se desfia a cada dia. As disparidades regionais transformam Angola num mosaico de desigualdades, onde o luxo das metrópoles contrasta cruelmente com a indigência das aldeias esquecidas.

Dimensão tecnológica

O sector tecnológico, que deveria ser o farol iluminador do progresso, transforma-se num poente melancólico. As exportações de serviços TIC desmoronam de 45,4% para 22,4%, e as tímidas melhorias nas subscrições de telefonia fixa parecem anacrónicas numa era que exige conectividade ubíqua. A infraestrutura digital, longe de ser robusta, é uma colcha de retalhos de soluções precárias, incapaz de suportar o peso das aspirações modernas de um povo que anseia por se conectar ao mundo. O potencial dos jovens inovadores, que poderia ser o estandarte de uma revolução digital, esvai-se perante a falta de apoios e de incentivos.

Dimensão ambiental

A terra, espoliada e expectante, observa em silêncio a exploração incessante dos combustíveis fósseis, que representam 94,53% das exportações. Este monólogo de dependência ecoa como uma negação obstinada do apelo à sustentabilidade, uma travessia no deserto que ignora o oásis à vista. A desflorestamento, silencioso e implacável, consome as veias verdes do país, enquanto o impacto das mudanças climáticas paira como um presságio de tempestades por vir. Os rios, outrora veias de fertilidade, tornam-se espectros secos de um passado abundante, ecoando a urgência de um pacto de responsabilidade ambiental.

Dimensão jurídica

No campo jurídico, o retrocesso no índice Women, Business and the Law é um golpe profundo numa sociedade que ainda tolhe os direitos das mulheres. O recuo de 79,3 para 76,2 não é apenas uma cifra; é a abdicação a sonhos, e a futuros de metade da população. A perceção de impunidade, que corrói a confiança na justiça, perpetua um ciclo de desesperança, onde a lei, em vez de libertar, aprisiona. A morosidade judicial, uma sombra sobre a eficácia institucional, transforma cada busca por justiça numa peregrinação sem fim.

Leia o artigo integral na edição 808 do Expansão, de sexta-feira, dia 10 de Janeiro de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

Este texto é um réquiem por Angola em 2024, - Requiem æternam dona eis, Domine (Dai-lhes o repouso eterno, Senhor), - uma meditação lúgubre onde os algarismos, frios e inexoráveis, se metamorfoseiam em epitáfios silenciosos de um ano que flagelou o corpo e a alma da pátria. Cada estatística ressoa como um eco distante de lamentos, estilhaçando o coração daquele que, acima de tudo, é patriota e, mais ainda, é angolano ou nutre um amor profundo por Angola. A análise que se segue, alicerçada nas dimensões Política, Económica, Social, Tecnológica, Ambiental e Jurídica (PESTAL), procura descortinar as chagas ocultas que os dados do Banco Mundial de 2024 apenas insinuam, mas que as vozes sufocadas confirmam em sussurros pungentes.

Dimensão política

A corrupção, uma praga que persiste como uma hera insidiosa a corroer os alicerces do edifício institucional, aprofunda-se. O índice declina de -0,60 para -0,84, enquanto o percentil se despedaça de 29,2 para 22,0. A eficácia governativa, esse termómetro da dignidade estatal, desce de -1,01 para -1,09, evidenciando uma máquina administrativa paralisada pela sua própria apatia. Lideranças titubeantes, ensombradas pela magnitude das expectativas e pelo espectro do fracasso, deixam esmorecer o sonho de uma nação íntegra, dissolvendo-o num rasto de confiança traída e de uma esperança que se esbate, como o último raio de sol de um dia que não volta. Entre os corredores do poder, o eco das promessas incumpridas ressoa como um coro de vozes perdidas, enquanto a cidadania aguarda por gestos que nunca se concretizam.

Dimensão económica

A economia, cambaleante e exaurida, oscila entre a agonia e o colapso. O PIB, que em 2023 vislumbrava um modesto crescimento de 1,00%, retrocede para -0,40%, enquanto a inflação, voraz como uma labareda, alastra de 13,64% para 19,95%, consumindo os parcos recursos das famílias. O investimento direto estrangeiro despenca de USD -2,11 mil milhões para USD -4,24 mil milhões, deixando a nação desamparada no cenário global. A poupança interna definha, como um relicário vazio de esperança, hipotecada por um presente sufocante que deixa pouco espaço para sonhar com o futuro. As exportações, em sua dependência dos combustíveis fósseis, aprisionam Angola numa armadilha de preços voláteis, como um navio encalhado em marés traiçoeiras. O sector informal, que deveria ser um esteio para a sobrevivência, é relegado ao ostracismo, perpetuando desigualdades e acentuando a vulnerabilidade de milhões.

Dimensão social

A esfera social emerge como um drama trágico. O desemprego juvenil atinge os 30,56%, um clamor abafado de gerações desorientadas, perdidas num labirinto de promessas não cumpridas. As cidades, inchadas pelo êxodo rural, veem a urbanização acelerar de 3,96% para 4,21%, transformando promessas de progresso em enclaves de desespero. A taxa de pobreza extrema, embora mascarada por médias estatísticas, esconde realidades cruas de famílias que subsistem no limiar da miséria, entrelaçadas num tecido social que se desfia a cada dia. As disparidades regionais transformam Angola num mosaico de desigualdades, onde o luxo das metrópoles contrasta cruelmente com a indigência das aldeias esquecidas.

Dimensão tecnológica

O sector tecnológico, que deveria ser o farol iluminador do progresso, transforma-se num poente melancólico. As exportações de serviços TIC desmoronam de 45,4% para 22,4%, e as tímidas melhorias nas subscrições de telefonia fixa parecem anacrónicas numa era que exige conectividade ubíqua. A infraestrutura digital, longe de ser robusta, é uma colcha de retalhos de soluções precárias, incapaz de suportar o peso das aspirações modernas de um povo que anseia por se conectar ao mundo. O potencial dos jovens inovadores, que poderia ser o estandarte de uma revolução digital, esvai-se perante a falta de apoios e de incentivos.

Dimensão ambiental

A terra, espoliada e expectante, observa em silêncio a exploração incessante dos combustíveis fósseis, que representam 94,53% das exportações. Este monólogo de dependência ecoa como uma negação obstinada do apelo à sustentabilidade, uma travessia no deserto que ignora o oásis à vista. A desflorestamento, silencioso e implacável, consome as veias verdes do país, enquanto o impacto das mudanças climáticas paira como um presságio de tempestades por vir. Os rios, outrora veias de fertilidade, tornam-se espectros secos de um passado abundante, ecoando a urgência de um pacto de responsabilidade ambiental.

Dimensão jurídica

No campo jurídico, o retrocesso no índice Women, Business and the Law é um golpe profundo numa sociedade que ainda tolhe os direitos das mulheres. O recuo de 79,3 para 76,2 não é apenas uma cifra; é a abdicação a sonhos, e a futuros de metade da população. A perceção de impunidade, que corrói a confiança na justiça, perpetua um ciclo de desesperança, onde a lei, em vez de libertar, aprisiona. A morosidade judicial, uma sombra sobre a eficácia institucional, transforma cada busca por justiça numa peregrinação sem fim.

Leia o artigo integral na edição 808 do Expansão, de sexta-feira, dia 10 de Janeiro de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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