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Opinião

Angola, cooperativas e a urgência de um novo contrato com o campo e a cidade

CONVIDADO

Experiências internacionais e regionais demonstram que o modelo cooperativo pode viabilizar habitação condigna com participação activa das famílias, reduzindo a informalidade e criando comunidades mais organizadas, coesas e resilientes. Em Angola, urge criar condições para que este modelo seja reconhecido e promovido como via complementar às políticas públicas.

O potencial agrícola, pecuário e humano de Angola constitui uma base estratégica que necessita de ser estruturada, capitalizada e dinamizada para transformar-se numa potência produtiva sustentável. Esta constatação tem sido reafirmada por estudos, programas nacionais e intervenções de diversas entidades públicas e privadas. No entanto, é chegado o momento de intensificar os esforços para transformar esse potencial em realidade concreta e duradoura, com impacto visível na produção, no rendimento das famílias e na segurança alimentar nacional.

Acreditamos firmemente que é possível alcançar uma verdadeira transformação produtiva nos próximos cinco anos. Esta não é uma aspiração remota, mas sim uma possibilidade concreta - desde que se continue a reforçar a organização cooperativa, o investimento estratégico e o envolvimento activo das comunidades locais.

O tempo de produzir com organização:

Angola está, hoje, perante oportunidades únicas para reestruturar o seu modelo produtivo e consolidar as bases de uma economia sólida e diversificada. Nesse contexto, as cooperativas agrícolas e pecuárias surgem como parceiros estratégicos para a dinamização do campo, a geração de emprego e o fortalecimento do tecido económico rural.

As cooperativas são espaços de partilha, de trabalho colectivo, de inclusão de jovens e mulheres, e de valorização da produção local. Constituem uma ferramenta legítima e eficaz para estruturar a produção, organizar o escoamento, reduzir desperdícios e elevar o rendimento dos produtores.

Pensar Angola a partir do campo:

Angola reúne condições excepcionais: solos férteis, recursos hídricos, biodiversidade e uma população maioritariamente jovem. Para potenciar esses factores, torna-se essencial reforçar as capacidades locais de produção e transformação, promovendo o associativismo, a cooperação entre sectores e a ligação das cooperativas a cadeias de valor estruturadas.

As cooperativas angolanas não se limitam a produzir bens - produzem esperança, geram estabilidade económica local e contribuem para o bem comum. A sua actuação deve ser entendida como parte integrante do esforço nacional de desenvolvimento.

Habitação: Um desafio social que o cooperativismo pode ajudar a responder:

A crise habitacional é hoje uma das maiores preocupações sociais em Angola, sobretudo nas cidades, onde a pressão demográfica supera largamente o crescimento económico e a capacidade pública de resposta habitacional.

Neste domínio, o cooperativismo também pode e deve ser parte da solução. Cooperativas de habitação - devidamente legalizadas, capacitadas e integradas em políticas urbanas inclusivas - têm o potencial de promover autoconstrução assistida, acesso comunitário ao crédito, mobilização de terrenos e edificação de bairros planeados, com qualidade e custos reduzidos.

Experiências internacionais e regionais demonstram que o modelo cooperativo pode viabilizar habitação condigna com participação activa das famílias, reduzindo a informalidade e criando comunidades mais organizadas, coesas e resilientes. Em Angola, urge criar condições para que este modelo seja reconhecido e promovido como via complementar às políticas públicas.

Saneamento básico, energia e serviços comunitários: Outras frentes de actuação cooperativa:

A expansão do cooperativismo não deve limitar-se aos sectores agroalimentar e habitacional. O acesso ao saneamento básico, água potável, energia renovável, gestão de resíduos e serviços comunitários essenciais pode e deve contar com o envolvimento activo das cooperativas, sobretudo nas zonas periurbanas e rurais.

Em muitas localidades, as cooperativas já desempenham um papel vital na organização de brigadas de limpeza, construção de latrinas comunitárias, sistemas de captação de água e soluções de energia solar de uso colectivo. Trata-se de uma abordagem participativa, baseada em auto-organização, que fortalece o tecido social, reduz riscos sanitários e contribui para os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Com o apoio institucional adequado, as cooperativas podem ser parceiras relevantes na melhoria do ambiente urbano e rural, promovendo saúde pública, dignidade e coesão social.

Leia o artigo integral na edição 839 do Expansão, de Sexta-feira, dia 15 de Agosto de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

Salvador Rodrigues, Presidente da FENACOOPA

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