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Opinião

Carros de luxo

EDITORIAL

Queria dizer aos conselheiros que eles também têm o direito à indignação não recebendo carros de luxo, preferindo circular em viaturas mais modestas, por metade do preço já é possível ter um carro perfeitamente digno e eficaz.

Querer transformar esta questão da oferta dos carros de 100 milhões Kz aos membros do Conselho Económico e Social numa coisa normal e tolerável, sem tentar perceber os sinais que são passados aos cidadãos e o impacto que pode ter no País como um todo, é simplesmente assumir que já não estamos preocupados com o colectivo, mas que estamos todos de mão estendida à espera que caia um "diamante" do Poder para nos afagar a barriga e a vaidade. Que perdemos o sentido patriótico de pensar primeiro a Nação e só depois o bem-estar, como nos ensinaram alguns dos mais velhos que "fizeram" a independência do País.

Em prol da verdade, há que dizer duas coisas: não foram os membros do conselho que pediram os carros de luxo e que esta foi uma decisão política. Foi a presidência quem decidiu. E porquê, podemos perguntar?

Para os que acreditam em teorias da conspiração, esta é a fórmula mais simples de descredibilizar o órgão e as pessoas que fazem parte do CSE aos olhos do cidadão comum, que passa acreditar que são eles os culpados da pobreza em que vivem e dos problemas que têm. Desfocando a contestação da governação para um novo alvo.

Tal como aconteceu com os deputados na história dos Lexus, que passaram a ser os "maus" da fita, referenciados pela maioria da população como pessoas que nada fazem e que vivem à custa da riqueza que deveria ser distribuída por todos, quando na verdade não têm nada a ver com essa distribuição.

Eu sou dos que não vou cair na armadilha de passar a olhar para os membros deste conselho com uma desconfiança agravada, mas também é necessário acrescentar que todos temos direito à indignação quando se gastam pelo menos 4,5 mil milhões Kz em carros para um grupo de 45 pessoas que se reúne presencialmente cinco vezes por ano. Mas também queria dizer aos conselheiros que eles também têm o direito à indignação não recebendo carros de luxo, preferindo circular em viaturas mais modestas, por metade do preço já é possível ter um carro perfeitamente digno e eficaz.

Não vou cair na comparação fácil de dizer que com este valor era possível garantir os aumentos que os médicos, enfermeiros e professores reivindicam há anos, mas preocupa-me muito o que estamos a passar ao País e especialmente aos mais novos. Que os luxos não se conseguem com trabalho e poupança, mas com a "bênção" de ser convidado para uma destas comissões, conselhos ou entidades que trazem regalias milionárias.

Também a abordagem deve ser feita a outro nível, do negócio propriamente dito. Quem é que vendeu os carros e a que preço, tendo em atenção que as concessionárias nacionais das marcas em questão confirmam que não os venderam. Como é que foi pago e quantos são na verdade. Não se trata apenas de um esclarecimento, mas de um direito de todos, uma vez que estamos a falar de dinheiro público. Ou não? Se calhar foi uma oferta de um qualquer mecenas...

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