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Opinião

Combater o desemprego e a inflação mostra-se politicamente inevitável em 2025

MILAGRE OU MIRAGEM?

Claramente que esperar que o mercado por si só resolva este problema não é opção, o que abre espaço para o Estado intervir. Todavia, não podemos nos esquecer que o Executivo angolano tem um longo histórico de tentativas falhadas no processo de dinamização da produção de alimentos.

O início de um ano novo normalmente representa um renovar das esperanças e optimismo afinal, com o novo ano vem a possibilidade de alcançarmos os objectivos falhados no ano anterior. Para o caso do Executivo angolano acreditamos que em 2025 o desemprego e a inflação deverão constituir-se como os principais desafios. Notem que resolver ou pelo menos dar indicação de que se está a começar a resolver estes dois problemas, de forma sustentável e orgânica, poderá colocar a economia no tão desejado caminho do crescimento sustentável e inclusivo.

Os dados do INE mostram- -nos que Angola teve uma taxa de desemprego de 32,3% no 2.º trimestre de 2024 (Gráfico 1), contudo o desemprego juvenil (15-24 anos) situou-se nos 56,4% (Gráfico 2) no mesmo período. Isto acontece num contexto em que os jovens têm mais escolaridade do que os mais velhos (dados do Afrobarometer indicam que mais de 6 em cada 10 jovens têm o ensino secundário ou universitário).

A causa deste alto desemprego, em nosso entender, não está apenas na "fraca empregabilidade" dos jovens, isto é, na falta de habilidades e competências para assegurarem um emprego no mercado de trabalho, como nos faz crer vezes sem conta o discurso político. Afinal, os dados do "Recenseamento de Empresas e Estabelecimentos 2020-21" do INE mostram que, após o choque da pandemia da Covid-19, houve uma alarmante redução da actividade económica em Angola. Na Tabela 1 vemos um aumento do número de empresas com a actividade suspensa e encerradas, enquanto que aqueles empreendedores que aguardavam o início das suas actividades em 2019 desistiram. Reverter este estado de coisas, em nosso entender, deve ser prioridade do Executivo neste ano. Lamentavelmente, em Angola fica-se com a sensação de que temos mais instituições a fecharem empresas do que a fomentarem a criação de empresas e postos de trabalho. O fomento empresarial deve estar virado para aqueles sectores (e segmentos) intensivos em mão- -de-obra, por forma a acomodar essa juventude hoje desempregada. Felizmente, em Angola existem investimentos em sectores como a indústria têxtil, alimentar e bebidas, indústria de materiais de construção e no sector da construção, que tendo a devida atenção da governação poderiam fazer a diferença. Abrimos aqui um parêntesis para esclarecer que a teoria económica, nos estudos por exemplo, de Alexander Gerschenkron (para o caso dos EUA e alguns países europeus) ou os estudos da Profª Alice Amsden, do Prof Ha-Joon Chang (para o caso do sudeste Asiático) ou mais recentemente o trabalho de Chris Cramer, John Sender e Arkebe Oqubay "African Economic Development: Evidence, theory and policy" sobre África, mostra que o Estado tem um papel preponderante na transformação estrutural de economias como a de Angola.

Aliado à criação de emprego, o Executivo precisa reduzir de forma sustentável o alto índice de inflação. De facto, o Gráfico 4 mostra que em Janeiro 2024 os preços aumentarem 9.45 pp versus Janeiro 2023. Este ritmo atingiu o seu pico em Junho 2024 com 19.75 pp. De Junho a Novembro temos assistido uma desaceleração, desejável, mas ainda assim o nível mantém-se muito elevado, em Novembro 2024 foi 28.41% (um aumento de 10.22 pp).

Os dados do INE mostram igualmente que a classe "Alimentação e bebidas não alcoólicas" tem sido a que mais contribui para o aumento do nível geral de preços. Aqui abrimos um outro parêntesis para explicar que resolver este problema passa necessariamente pelo fomento da produção nacional, já que Angola não tem condições de sustentar um alto nível de importação de alimentos, como fez num passado recente. Logo, dinamizar a produção local de alimentos e a indústria alimentar mostra-se em 2025 politicamente inevitável. Essa aposta não só contribuiria para a criação de postos de trabalho, particularmente para a juventude, como também diminuiria a pressão inflacionista que hoje se assiste.

Claramente que esperar que o mercado por si só resolva este problema não é opção, o que abre espaço para o Estado intervir. Todavia, não podemos nos esquecer que o Executivo angolano tem um longo histórico de tentativas falhadas no processo de dinamização da produção de alimentos. Podemos citar o Projecto Aldeia Nova ou o Projecto Grandes Fazendas (projecto chave na mão financiado pela China). Uma outra intervenção por parte do Estado precisa ser equilibrada e promotora da iniciativa privada, especialmente num contexto em que a dívida pública inspira cuidados.

Leia o artigo integral na edição 809 do Expansão, de sexta-feira, dia 17 de Janeiro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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