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Opinião

Corredor do Lobito e a nova Administração Trump: O que esperar?

CONVIDADO

A geopolítica global está em transformação e o Corredor do Lobito continuará a ser um ponto-chave dessa disputa. A questão central não é se o projecto sobrevive a uma mudança de administração, mas sim como o Ocidente escolhe utilizá-lo para moldar a sua presença no futuro da economia africana e global.

Com a posse de Donald Trump, como 47.º Presidente dos Estados Unidos, multiplicam-se as especulações sobre o impacto da sua administração nos investimentos internacionais, incluindo o Corredor do Lobito, um dos projectos de infra-estruturas mais estratégicos para África. Durante a administração Biden, Washington apostou neste projecto como uma ferramenta para fortalecer parcerias económicas e contrabalançar a crescente influência chinesa na região. No entanto, é fundamental separar os factos da desinformação. A ideia de que a possível revogação de decretos da administração anterior afectaria directamente este projecto revela uma compreensão equivocada sobre a sua estrutura de financiamento e a lógica dos investimentos internacionais.

Diferentemente do que alguns sugerem, o Corredor do Lobito não é financiado directamente pelo governo dos Estados Unidos ou da União Europeia. Trata-se de um empreendimento que atrai capital privado e se sustenta por meio de parcerias público- -privadas e da Parceria para Investimentos e Infra-estruturas Globais (PGII), um mecanismo que visa oferecer alternativas viáveis à influência chinesa em África, sem implicar financiamento governamental directo.

O projecto tem atraído apoio financeiro de diversas entidades internacionais, incluindo:

● Banco Mundial: Investimento de 300 milhões de dólares para fomentar a infra-estrutura, destacando a necessidade de os países envolvidos facilitarem condições para o investimento externo.

● Development Finance Corporation (DFC) dos EUA: Financiamento directo de 550 milhões de dólares para acelerar o desenvolvimento regional através do corredor.

● Grupo dos 7 (G7): Aprovação de um financiamento de 370 milhões de dólares, reforçando a coordenação entre os países beneficiados pelo projecto.

● União Europeia (UE): Compromisso de 600 milhões de euros, reconhecendo o Corredor do Lobito como uma infra-estrutura crucial para a economia da região.

Estes valores demonstram de forma inequívoca que o projecto transcende governos e administrações, consolidando-se como um investimento estratégico e sustentável, independentemente de quem ocupe a Casa Branca.

A continuidade do envolvimento dos EUA no Corredor do Lobito sob a administração Trump é um tema de interesse global. Embora o ex-presidente tenha demonstrado pouco foco no continente africano durante o seu primeiro mandato, a dinâmica geopolítica com a China pode levar a uma abordagem diferente desta vez.

Pequim tem investido biliões de dólares em infra-estrutura africana, através da Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI), consolidando a sua presença na região. Caso a nova administração perceba o risco de perder influência para a China, poderá ver no Corredor do Lobito um activo indispensável para conter o avanço chinês e garantir o acesso a minerais estratégicos, como o cobre e o cobalto, fundamentais para a transição energética global.

Empresas americanas e europeias já reconhecem o potencial estratégico e económico do Corredor do Lobito. A modernização desta infra-estrutura fortalece as cadeias de abastecimento de minerais críticos e reduz a dependência do Ocidente em relação ao fornecimento chinês. Se Trump quiser reafirmar o protagonismo dos EUA no cenário internacional, manter o apoio a este projecto poderá ser um movimento lógico e pragmático.

A noção de que as revogações de decretos presidenciais podem impactar directamente o Corredor do Lobito é uma simplificação excessiva da realidade. Esta narrativa ignora o facto que investimentos privados e decisões governamentais são esferas distintas.

O Corredor do Lobito não é um projecto dependente de decretos políticos, mas sim uma oportunidade altamente atractiva para investidores internacionais. A sua relevância será determinada pela viabilidade económica, pelo interesse contínuo do sector privado e pelo seu impacto nas cadeias globais de suprimentos, a julgar pela corrida em investimentos em tecnologia com grande destaque para a inteligência artificial.

Especular sobre o impacto de mudanças políticas internas nos EUA apenas desvia o foco do que realmente importa: como os Estados Unidos e os seus aliados podem usar investimentos estratégicos para reforçar a sua posição global e competir com a China em mercados emergentes.

Leia o artigo integral na edição 811 do Expansão, de sexta-feira, dia 31 de Janeiro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

*Janísio Salomão, Consultor de empresas e docente universitário

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