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Opinião

Desconfiança

EDITORIAL

Eu sinto uma mão invisível que nos tenta separar a todos, que alimenta um ambiente de desconfiança na sociedade, separando os cidadãos em dois blocos - os nossos e os outros - quando, na verdade, devíamos ser um bloco único com diversas tonalidades.

Hoje volto a falar de confiança. Ou antes, de desconfiança. Que cresce entre os cidadãos e quem dirige o País, com manifestações públicas de muitos e pronunciamentos privados de outros, que por questões de manutenção de estatuto e de negócios, preferem as assentadas familiares ou os jantares de amigos para fazerem as suas queixas e expressar as suas mágoas.

E isto não tem apenas a ver com atitudes, mas fundamentalmente com a comunicação do Governo com os cidadãos, que, como já referi várias vezes, é feita sem uma estratégia de inclusão, numa base de esconder ou maquilhar o que não corre bem e exacerbar, por vezes de uma forma quase ridícula, coisas que podem ser consideradas positivas.

Hoje praticamente todos estão de acordo, embora alguns não o admitam porque também são responsáveis por este fenómeno, que a comunicação social pública causa uma enorme desconfiança aos cidadãos. E é exactamente por este canal, descredibilizado, que os governantes optam por passar a mensagem. Com um discurso de endeusamento do que é nosso e diabolização do que é dos outros, assente numa adjectivação dos factos de acordo com uma visão única, que muito raramente incorpora também o contraditório ou o direito à diferença.

Se a nossa entrevistada desta edição diz que "sente uma mão invisível que proíbe o País de acontecer", eu sinto uma mão invisível que nos tenta separar a todos, que alimenta um ambiente de desconfiança na sociedade, separando os cidadãos emdois blocos - os nossos e os outros - quando, na verdade, devíamos ser um bloco único com diversas tonalidades. Ou seja, diferentes na maneira de pensar e sentir, mas unidos por um pensamento único de desenvolvimento do País, conscientes de que, apesar das diferenças, estávamos todos no mesmo barco e com os mesmos objectivos. Mas não é isso que acontece.

Hoje, mesmo quando nos trazem boas notícias, não acreditamos. Mesmo quando as pessoas têm gestos nobres, o pensamento é que querem alguma coisa de nós. Isto aplica-se também aos que nos governam. Mesmo quando a medida ou a proposta parece acertada, o pensamento é logo perceber o que é que "eles" vão ganhar com isso. São consequências de anos e anos em que os actos e as palavras criaram uma onda de desconfiança que vai durar gerações. Mas também entre os ministros é assim.

Todos sentimos que não há um governo único e, para quem tem acesso a alguns dos seus membros, percebe que o sentimento que caracteriza as suas relações, na quase totalidade dos casos, é a desconfiança. E isso pega-se..

E como é que esta roda se quebra? Pois não tenho certezas absolutas, mas acho que deve ser de cima para baixo. O que sei é que sem um clima de confiança não vamos ter desenvolvimento económico e social. Cada um está no seu casulo a acumular o que pode, sem pensar País. Infelizmente estamos assim. Acho eu....

Edição 826 do Expansão, de sexta-feira, dia 16 de Maio de 2025

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