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Opinião

Fraca produção agrícola também é por não rentabilização de infraestruturas

Convidado

No mês de Janeiro foi destaque na imprensa o facto do licenciamento às importações de produtos da cesta básica terem registado uma redução de 100 milhões USD em Dezembro de 2020. Na altura , este dado foi interpretado pelos governantes angolanos como um sinal de que os programas que visam fomentar a produção nacional estavam a dar resultados.

Num outro texto, indicámos que a actual situação de crise global, provocada pela pandemia da Covid-19, fazia com que o preço de alguns produtos básicos, como o açúcar e o arroz, registassem um aumento nos mercados globais (cf. "Commodity Markets Outlook" do Banco Mundial). Sendo Angola um país importador, a governação não poderia estar alheia a esta situação sob pena de agravar ainda mais a actual crise social. Ora bem, recentemente, o INE indicou no seu "Índice de Preços no Consumidor - IPCN, Março 2021" que a variação homóloga do IPCN se situou em 24,77%. É interessante notar neste relatório que a classe que mais contribuiu para esse aumento foi a classe de "Alimentação e Bebidas não Alcoólicas".

Dos 24 produtos que mais contribuíram para o aumento de preços em Luanda, por ex., notamos no top 10 produtos como o açúcar branco granulado (0,07 pp), arroz grão longo (agulha) (0,06 pp), fuba de bombó (0,05 pp), carne bovina segunda, com osso (0,05 pp), arroz grão médio (corrente) (0,06 pp). Trata-se de produtos que o País pode muito bem produzir em quantidade suficiente, com vista a satisfazer a procura local, assegurando desta forma a estabilidade dos preços.

Tudo indica que o primeiro mandato de João Lourenço poderá ficar marcado pela falta de rentabilização de infraestruturas produtivas ligadas aos sectores da agricultura e da indústria. É incompreensível, por ex., que dos 7 perímetros irrigados existentes nenhum deles esteja 100% operacional. Os governantes dizem que 90% da produção agrícola em Angola é assegurada pelos pequenos agricultores. Este dado tem servido para justificar a suposta aposta na agricultura familiar. Porém, esses mesmos governantes esquecem-se de notar que essa produção agrícola é feita através da agricultura de sequeiro. Num contexto de alterações climáticas, que tornam imprevisíveis as colheitas, não se compreende como o Executivo não tenha como meta, por ex., fazer com que menos de 10% da produção agrícola em Angola esteja dependente das quedas pluviométricas, o que contribuiria para reduzir a insegurança alimentar.

O projecto jornalístico "Andar o País pelos Caminhos da Agricultura e do Desenvolvimento" veio mostrar que muito pouco foi feito pela agricultura, se tivermos em conta que Angola completou neste mês 19 anos de paz. E como nos mostrou o Expansão recentemente, neste período não houve falta de recursos financeiros, especialmente na primeira década. A presente campanha agrícola em Angola está comprometida devido a estiagem. Porém, nas zonas afectadas existe pelo menos um rio de grande curso, o que não existe é sistemas de irrigação que poderiam assegurar uma produção regular ao longo do ano.

*Docente e investigador da UAN

(Leia o artigo integral na edição 621 do Expansão, de sexta-feira, dia 23 de Abril de 2021, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)

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