Saltar para conteúdo da página

Logo Jornal EXPANSÃO

EXPANSÃO - Página Inicial

Opinião

Medidas disruptivas

EDITORIAL

Este chutar para a frente, mais financiamentos para fazer mais despesas, mais dinheiro para pagar mais dívida, não é seguramente a melhor solução. Temos de olhar é par os gastos. Ter o discernimento e a humildade para cortar no volume enorme de despesas correntes, muitas delas só servem para alimentar as vaidades pessoais dos que integram o actual regime, e perceber que o Estado e as instituições públicas estão a viver acima das possibilidades que o País pode pagar.

Esta autorização aprovada na Lei do OGE 2025 que permite ao BNA emprestar dinheiro ao Governo em troca de uma carteira de títulos com maturidade até 5 anos viola aquilo que é a própria lei do BNA. Não se sabe se irá acontecer ou mesmo se o banco central aceita esta transacção, mas a verdade é que demonstra desde logo uma postura e um desconhecimento que é preocupante. Por um lado, porque os deputados acham que a lei do OGE se pode sobrepor à lei do BNA, o que objectivamente não é bem assim, e por outro, porque objectivamente estão a ser mal aconselhados pelos seus especialistas.

Como se sabe, a independência do banco central é referenciada várias vezes pelas instituições financeiras e investidores estrangeiros, lembrar que estamos na lista cinzenta do GAFI o que faz com que a monitorização das nossas instituições seja mais apertada, pelo que não faz nenhum sentido que se tenha aprovado esta norma. Tal como vários consultores confirmaram ao Expansão, não havia necessidade nenhuma para esta decisão, mesmo reconhecendo que o Estado passa por momentos graves de falta de liquidez. Ou seja, vai apenas dar razão aos que são cépticos face à independência do BNA, sem que isso traga benefícios decisivos para o País.

Quero acreditar que os deputados deixaram passar esta norma na lei do OGE 2025 apenas por desconhecimento, e que não seja mais uma atitude de soberba por parte de quem acha que está acima das leis. Vários representantes de instituições financeiras internacionais mostraram a sua perplexidade ao Expansão, pedindo- -nos explicações que infelizmente não podemos dar. Tentámos junto do Ministério das Finanças, mas não nos responderam. E o mais curioso é que também não se ouviu uma palavra da oposição, possivelmente também por desconhecimento, porque não é crível que estejam alinhados com o partido da maioria.

Todos sabemos, e sentimos, que a situação financeira do País não é nada boa, que falta liquidez a todos os níveis, o que implica que se tenham feito financiamentos que em tempos mais calmos certamente não aconteceriam, mas existem linhas que não devem ser ultrapassadas. Como um economista nos disse, "estamos a gerir a dívida pública no fio da navalha", o que não é nada bom para todos.

Este chutar para a frente, mais financiamentos para fazer mais despesas, mais dinheiro para pagar mais dívida, não é seguramente a melhor solução. Temos de olhar é par os gastos. Ter o discernimento e a humildade para cortar no volume enorme de despesas correntes, muitas delas só servem para alimentar as vaidades pessoais dos que integram o actual regime, e perceber que o Estado e as instituições públicas estão a viver acima das possibilidades que o País pode pagar.

Apesar de toda a "banga" que gostamos de fazer lá fora, de mostrar ao mundo que somos os tios ricos, de passear em aviões privados ou em primeira classe, de passear em carros acima dos 150 mil dólares, por dentro a corda está a rebentar. Fatos italianos com roupa interior rasgada não é, definitivamente, a melhor solução para o crescimento do País. Aliás, existe uma diferença muito grande entre a forma como gerimos a nossa imagem no estrangeiro, e depois como gerimos a economia dentro do País.

Esta coisa de querer viver em dois mundos não vai resultar, de anunciar obras e medidas que nunca se realizam, de adiar sistematicamente os prazos das obras estruturais (por falta de dinheiro), de prometer uma coisa e acontecer outra, não resolve os nossos problemas. Deixem-me apenas acrescentar que muitos dos actuais governantes e gestores estão de acordo que é necessário ser mais racional com os gastos e que os exemplos devem vir de cima, mas depois nada se faz. Desabafam no almoço de domingo com os amigos e familiares mas na segunda-feira tudo volta ao mesmo. Sem medidas disruptivas o País não vai avançar. Acho eu!

Logo Jornal EXPANSÃO Newsletter gratuita
Edição da Semana

Receba diariamente por email as principais notícias de Angola e do Mundo