Novos ventos
Está a chegar uma geração mais jovem, talvez ainda poucos, que não trazem o cartão e o pedigree colado na testa, mas que estão dispostos a lutar por uma vida melhor. Para si e para o seu País. Dão luta, contestam, são críticos, apresentam soluções e não se deixam intimidar.
No que realmente interessa, há hábitos que vêm de trás e que não conseguimos perder - gastar dinheiro sem justificação, não definir as prioridades certas nas despesas, alimentar a vaidade das pessoas com dinheiros públicos, não aplicar a meritocracia nas organizações, não premiar devidamente os bons profissionais quando não são do nosso clube partidário ou familiar, não ter uma cultura de responsabilização e punição na gestão pública, e ter uma adoração especial em contratar consultores estrangeiros. Mesmo quando não fazem falta nenhuma.
As boas novidades é que há cada vez mais pessoas a falar nisto, mesmo publicamente, porque a incompetência incomoda mesmo muito. Hoje percebemos que a nossa actividade económica está totalmente distorcida por uma legislação desfasada da nossa realidade e por uma intervenção das instituições públicas, que no final beneficia quase sempre os mesmos. Os que conseguem passar por cima das barreiras burocráticas porque têm a password do sistema, que conhecem a forma como passar nos corredores do Poder em passo de corrida, sem ter de parar em todas as estações e apeadeiros, que diga-se, ainda são muitas.
Mas, como referi, há boas novidades, porque existe uma geração de empreendedores, leia-se empresários, que não desistem, não emigram, nem mudam os seus negócios para a Namíbia. São possivelmente menos, mas também está a chegar uma geração mais jovem, talvez ainda poucos, que não trazem o cartão e o pedigree colado na testa, mas que estão dispostos a lutar por uma vida melhor. Para si e para o seu País. Dão luta, contestam, são críticos, apresentam soluções e não se deixam intimidar. E estes, mais atrevidos, estão a contaminar outros que já eram críticos nos almoços de domingo, mas que agora já estendem esta "rebeldia" para as segundas ou terças-feiras.
Mas tenho ainda melhores novidades. Já existem ministros, secretários de Estado, deputados, gestores de empresas públicas e presidentes de instituições públicas que também defendem que existe um caminho e uma prática do passado que tem de ser erradicada. Não é fácil, claro, não o podem assumir publicamente porque a malha é muito apertada, mas na sua prática diária tomam decisões que acabam por fazer a diferença e moralizar todos aqueles que estão à sua volta e que acreditam numa gestão mais equilibrada e de contas certas, numa sociedade mais justa e solidária baseada na igualdade de oportunidades para todos os cidadãos.
O que vos quero dizer, é que sinto uma corrente, ainda tímida, de que podemos ter um País melhor. Sempre defendi que ventoinhas velhas não trazem novos ventos, mas hoje sinto- -me particularmente optimista numa nova forma de pensar que está a germinar nesta nova geração. Será o suficiente? Acredito que sim. Pode é demorar mais tempo!