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Opinião

Objectivos cumpridos

Editorial

Uma das questões que verdadeiramente me preocupa é a falta de humildade de quem nos dirige, a enorme dificuldade em admitir um erro e "emendar a mão" em tempo útil. Lido com muitos ministros, secretários de Estado, PCAs e PCEs de empresas e instituições públicas, consultores, para ter já uma ideia da forma como a generalidade pensa.

Uma das coisas que a distância nos dá é a capacidade de olhar de forma mais abrangente cada um dos problemas, que vistos ao perto parecem mais pequenos e isolados, quando na verdade estão interligados e fazem parte de uma realidade muito maior e muito mais complicada. Perceber porque é que ao fim destes anos todos, de todos os biliões que foram gastos no circuito produtivo, dos milhares de consultores e técnicos estrangeiros que importámos, não conseguimos ter um crescimento económico que, no mínimo, seja igual ao aumento demográfico. Muitos de nós sabemos as respostas, mas não queremos assumir a realidade.

A principal questão são as pessoas. Claramente que a qualidade de gestão do País, no geral, não tem sido boa. Dos erros do passado já falámos, também já escrevi várias vezes que o País perdeu mais dinheiro por incompetência do que por corrupção, que a maior parte dos empresários cresceu pendurado no Orçamento do Estado, que temos poucas empresas verdadeiramente sólidas, que nos andámos a enganar com essa "lenga lenga" que éramos ricos e bem sucedidos. Um sopro mais forte, o castelo de cartas desmoronou-se e os "grandes empresários" correram para debaixo da saia do Estado.

Uma das questões que verdadeiramente me preocupa é a falta de humildade de quem nos dirige, a enorme dificuldade em admitir um erro e "emendar a mão" em tempo útil. Lido com muitos ministros, secretários de Estado, PCAs e PCEs de empresas e instituições públicas, consultores, para ter já uma ideia da forma como a generalidade pensa. São raros aqueles que, sabendo que a solução que estão a implantar não é a melhor para o problema, voltam atrás e mudam a medida. Preferem manter a sua primeira decisão, deixar passar um tempo com os custos que isso implica, para que ninguém diga que foram pressionados a alterar a decisão e, passados uns largos meses, então alteram a decisão.

Mas porque é que é assim? Visto de fora, parece-me que se deve a uma cultura de impunidade que é alimentada de cima para baixo. Já repararam que nenhum ministro ou PCA de uma empresa pública foi demitido por incompetência? Ou seja, eu sabendo que estou errado, é mais fácil persistir no erro e arranjar outros argumentos, do que admitir que errei e ter de explicar isso ao chefe. Infelizmente, não temos o hábito do controlo dos objectivos na gestão pública e é mais fácil explicar um prejuízo de mil milhões do que admitir um erro numa determinada decisão.

Já repararam que em todos os conselhos consultivos dos ministérios e das empresas públicas, a primeira conclusão é que os objectivos foram cumpridos. Depois, se formos olhar para o que se tinha proposto no ano anterior, constata-se que em muitos casos nem 50% se fez. Mas isso não vi até hoje ninguém assumir. Ninguém assume os seus erros, o País continua a perder biliões de kwanzas, nós ficamos mais pobres, mas os objectivos estão a ser cumpridos...

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