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Opinião

Processo AGT

EDITORIAL

Não podem argumentar que foram apanhados de surpresa, uma vez que há anos que existiam rumores destes esquemas e vários empresários queixaram-se publicamente, apesar dos responsáveis da AGT responderem sistematicamente que não havia provas. Pelos vistos, agora há!

É estranho o silêncio dos responsáveis máximos da AGT no âmbito do processo do desvio dos 7 mil milhões Kz, apesar do argumento utilizado de que não vão falar para não atrapalhar a investigação do SIC. A tutela , Ministério das Finanças, fez um comunicado lacónico a dar conta da situação, mas, à medida que as detenções foram aumentando, não fez mais nenhum comentário. Avançaram já com cinco exonerações, o que indicia que pelo menos as suspeitas são fortes, o que justificaria possivelmente, uma abordagem pública do assunto.

Também não podem argumentar que foram apanhados de surpresa, uma vez que há anos que existiam rumores destes esquemas e vários empresários queixaram-se publicamente, apesar dos responsáveis da AGT responderem sistematicamente que não havia provas. Pelos vistos, agora há!

Não era necessário um pedido formal de desculpas por terem deixado "fugir" uma verba considerável que era de todos, de possivelmente ter contribuído para a falência de muitas pequenas e médias empresas, de ter alimentado um esquema de corrupção que beneficiava os infractores e alterava o ambiente de concorrência. Bastava uma explicação, até porque é importante para os cidadãos que a imagem da instituição não seja confundida com estas práticas de alguns dos seus integrantes. Mas uma coisa tem de ser realçada, a postura predatória e de arrogância na relação da instituição com os empresários e contribuintes, muitas vezes evidenciada pelo Expansão, levou a uma sensação de impunidade que foi mal interpretada por alguns dos seus técnicos e potenciou este esquema. Cabe acrescentar que não se sabe ainda até onde vão estes tentáculos, uma vez que as investigações prosseguem.

O momento não é, no entanto, de "atirar" em direcção da instituição, até porque o País precisa de uma AGT forte, com uma imagem de credibilidade e confiança. Mas para os responsáveis o momento é certamente de repensar processos e procedimentos, de ter a coragem de assumir uma outra cultura dentro da instituição, de dar maior atenção e levar a sério as reclamações dos contribuintes e de ter uma maior cuidado no recrutamento dos seus quadros. E, já agora, estar mais atento aos sinais exteriores de riqueza dos seus técnicos. Muitos nem faziam questão de os esconder.

Mas este é seguramente um problema mais abrangente na nossa sociedade, em que a cultura da impunidade nos serviços públicos se generalizou, mas que, diga-se, acontece em quase todas as instituições do Estado. Mesmo naquelas que deveriam tratar da nossa segurança e do nosso bem-estar. Por isso, também não vale a pena fazer da AGT o bode expiatório de todos os problemas do País.

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