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Opinião

África não está a pedir o direito para poluir, mas para se desenvolver

MILAGRE OU MIRAGEM?

No final de Maio teve lugar mais um evento anual da Fundação Mo Ibrahim sobre Governação em África. Como acontece todos os anos, para o evento a fundação publicou um relatório(1) que visa contribuir com factos e números actualizados sobre o impacto das alterações climáticas em África. No relatório podemos ver que, entre 1960 e 2020, as emissões de dióxido de carbono (doravante CO2) em África apenas representam 3,3% das emissões globais. Tendo em conta a dimensão do continente, os dados do relatório mostram que existe uma disparidade entre os países africanos. Por ex., em 2019 as emissões de CO2 da África do Sul foram cerca de 260 vezes mais do que as da RDC.

Apesar de ser o continente que menos polui, em comparação, por ex., com a Europa, América do Norte e China, África é a região que mais sofre. De 2010 a 2022, 10 dos países que tiveram mais problemas de seca encontram-se no continente, dentre eles Angola, na décima posição com 3 episódios e o país mais afectado o Quénia com 6 episódios. Dos 10 países mais afectados pelas inundações em África destacamos Angola na primeira posição com 24 episódios e o Quénia na segunda posição com 22. A ocorrência de seca e inundações põe em risco a sobrevivência das populações em África, já que na sua maioria dependem da agricultura. Por ex., em Angola, segundo os dados do INE, o sector da agricultura emprega 55,5% da população.

Se tivermos em conta que África é o continente onde encontramos as principais vulnerabilidades identificadas pelas organizações internacionais, por ex., pobreza extrema, desigualdade social, dificuldade no acesso a saúde e educação, insegurança alimentar, má governação, podemos concluir que as alterações climáticas no continente, combinadas com essas vulnerabilidades mencionadas, terão um efeito devastador. De facto, o relatório mostra que cerca de 78 milhões de pessoas em África terão fome crónica até ao ano de 2050. As alterações climáticas no continente serão responsáveis pela migração de cerca de 85,7 milhões de pessoas, muito maior do que os conflitos armados.

(Leia o artigo integral na edição 678 do Expansão, de sexta-feira, dia 10 de Junho de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)