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Opinião

A banca e os desafios actuais que exigem o seu reposicionamento

CONVIDADO

A emergência dos desafios com a Inteligência Artificial (IA), a Transição Energética e a emergência Paradigma Environment, Social and Government (ESG) estão a exigir um reposicionamento da banca no mundo. E Angola não deverá ser excepção, sob pena de tornar um sector não competitivo e com dificuldades em manter importantes parceiros, fundamentalmente, a banca de correspondência. Esta realidade, para um contexto de baixo nível de bancarização, desafios com a inclusão financeira e baixo nível de literacia digital, deverá obrigar o sector a andar em duas velocidades para manter-se competitivo a nível internacional e relevante a nível local.

A provisão de produtos e serviços bancário mínimos, como a abertura e manutenção de conta bancária, a realização de operações com o estrangeiro, o processamento salarial, a disponibilização de notas e moedas nas zonas rurais e periurbanas, ainda são desafios que muitos angolanos enfrentam e que os actuais 23 bancos comerciais ainda não conseguem dar solução. São problemas locais que exigem respostas locais que em muitos casos não são adoptadas pelo facto de o sector andar em duas a três velocidades, entre aquilo que é a estrutura económica e social de Angola, os constrangimentos financeiros do Estado, às exigências da banca de correspondência e as agendas internacionais.

É exactamente o que está a acontecer actualmente. A emergência dos desafios com a Inteligência Artificial (IA), a Transição Energética e a emergência Paradigma Environment, Social and Government (ESG) estão a exigir um reposicionamento da banca no mundo. E Angola não deverá ser excepção, sob pena de tornar um sector não competitivo e com dificuldades em manter importantes parceiros, fundamentalmente, a banca de correspondência. Esta realidade, para um contexto de baixo nível de bancarização, desafios com a inclusão financeira e baixo nível de literacia digital, deverá obrigar o sector a andar em duas velocidades para manter-se competitivo a nível internacional e relevante a nível local.

Assim, o futuro da banca em Angola passa pela i) readaptação do actual modelo às dinâmicas internacionais; ii) a alteração do padrão do investimento - muito exposto ao risco Angola -; iii) A maior flexibilidade quanto às expectativas dos consumidores, liderada por uma população jovem, exigente e com vontade de ter cada vez mais uma experiência bancária autónoma e digital; iv) à necessidade de ajustar às alterações da estrutura de accionistas, muito por conta das alterações da economia política do país e a maior exposição ao mercado de capitais; e, v) a emergência de um mercado de capitais com o potencial de cooptar relevantes recursos e penalizar a rentabilidade do sector bancário e de um sistema de pagamento mais desconcentrado, eficiente e inclusivo.

Paralelamente, e muito por conta da Agenda das Nações Unidas até 2030, os bancos comerciais em Angola deverão estar muito mais alinhados com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), através da implementação do paradigma ESG enquanto pilar estratégico, o que por arrasto, exigirá a formulação de serviços e produtos financeiros mais alinhados com os desafios da sustentabilidade ambiental.

Esta realidade vai exigir dos bancos em Angola criatividade, inovação e ousadia para, por um lado, manter o nível de rentabilidade, solvabilidade e liquidez e, por outro, acompanhar os desafios de diversificação económica, desenvolvimento do capital humano e melhoria da competitividade da economia, enquanto objectivos de longo prazo de Angola. Por conseguinte, poderá começar a assistir-se no sector bancário angolano à disponibilização de produtos financeiros mais sustentáveis, como é o caso do Blue, Green e Social Bonds, muito em linha com os potenciais da Economia Azul e da Economia Verde e os desafios sociais de Angola, ao mesmo tempo que os bancos serão mais flexíveis no financiamento de projectos com impactos ambientais e sociais comprovados, para além da responsabilidade social.

Outra tendência que deverá acelerar a sofisticação do sistema bancário e exigir uma rápida adaptação é a emergência da IA que, para além de produzir os próximos grandes negócios, vai destruir outros tantos. De acordo com a McKinsey (2023)(1), em todo o sector bancário global, a IA poderia acrescentar entre 200 mil milhões e 340 mil milhões de dólares em valor anualmente, ou 2,8 a 4,7% das receitas totais da indústria, em grande parte através do aumento da produtividade. Esta oportunidade será extensível ao sector bancário em Angola, mesmo que em proporções modestas.

Mas é importante ter os pés bem assentes no chão, por ser um cenário que exigirá investimento com rápido impacto na desmaterialização de processos, traduzindo-se no encerramento de agências bancárias e na aposta no self banking e na digitalização dos serviços, uma realidade que poderá retardar o processo de inclusão financeira no país, e atrasar o nível de literacia financeira, em linha com a baixa literacia digital, fomentar a fraude e intensificar os ataques cibernéticos. Pois, à medida que os bancos e outras instituições financeiras avançam para implementar rapidamente a tecnologia, surgem desafios.

De acordo com a Deloitte (2024)(2), acertar na implementação da IA nos processos poderá desbloquear um valor tremendo e errar pode levar a complicações consideráveis. As empresas de todos os sectores enfrentam riscos de geração de IA, incluindo a geração de informações falsas ou ilógicas, violação de propriedade intelectual, transparência limitada no funcionamento dos sistemas, questões de parcialidade e justiça, preocupações de segurança e muito mais.

Nesta conformidade, os bancos deverão ser obrigados, por um lado, a estruturar produtos que atendam nichos de negócio com activos não tangíveis, com particular destaque para os big data, tecnologias de informação, desenvolvimento de software, automação, da biotecnologia e robótica, sendo que a emergência destes negócios, para além de exigir um sector bancário muito bem capitalizado, vai impor a alteração na qualidade e especificidade da força de trabalho e a migração das ciências económicas e financeiras, para as ciências mais exactas.

Leia o artigo integral na edição 785 do Expansão, de sexta-feira, dia 19 de Julho de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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