A inflação ainda se vai intensificando
A inflação em Angola depende preponderantemente das receitas de exportação de petróleo bruto, com mais volatilidade no preço do que na quantidade. Quando o preço do petróleo diminui, a taxa de inflação aumenta, e vice-versa.
O preço do petróleo Brent, referência para o de Angola, mudou de sentido, passando a diminuir em Julho de 2022. Em consequência disto, o kwanza passou a depreciar-se e a crise inflacionária iniciou, em Setembro do mesmo ano, como evidencia o gráfico deste artigo.
Porém, de vez em quando, o impacto do preço do petróleo sobre a inflação é temporariamente atrofiado por outros factores. O caso mais recente foi o da redução dos subsídios à gasolina, em Junho de 2023, o que agravou a inflação em Junho, Julho e Agosto de 2023 e a desagravou em Maio, Junho, Julho e Agosto de 2024, como demonstra o gráfico.
Enquanto o preço do petróleo continuava em baixa, foram precisamente estas quedas da taxa de inflação mensal - acompanhadas aritmeticamente por diminuições da taxa homóloga - as que geraram a impressão de que se tratava de início do fim da crise.
Passemos a mais detalhes: o preço do petróleo Brent continua em tendência de queda, nos meses mais recentes - médias mensais: Abril, 88,02; Maio, 82,62; Junho, 82,37; Julho, 83,03; Agosto, 78,09; Setembro, 72,33 e Outubro 75,02 USD - o que provoca contínua depreciação do Kwanza e, por consequência, tende a moderadamente elevar as taxas de inflação mensais.
No entanto, o impacto do preço do petróleo foi recentemente contrariado pelos efeitos finais da redução dos subsídios à gasolina. Atendendo às variações do gráfico, de Junho de 2023 a Abril de 2024, as empresas formais e informais passaram a aumentar os preços de venda dos seus bens e serviços intensamente, reajustando- os aos então elevados preços da gasolina. A seguir, de Maio a Agosto de 2024, as empresas, sentindo-se satisfeitas, terminaram os reajustamentos dos seus preços, deixando de os aumentar tão intensamente, o que implicou as recentes quedas da inflação.
Portanto, estas quedas da inflação não significam "fim de crise inflacionária". Significam, sim, o regresso à tendência de subidas moderadas da taxa de inflação em crise, guiada pelo preço do petróleo, o cerne das causas de inflação em Angola.
No gráfico, a linha tracejada é uma estimativa da trajectória da taxa de inflação mensal sob apenas a influência do preço do petróleo, portanto, como se não tivesse havido redução dos subsídios à gasolina.
Os factos de o preço do petróleo estar em queda considerável, particularmente desde Maio do ano corrente, e de consequentemente o kwanza permanecer em depreciação já induziam as pessoas em dúvida, sobre a recente queda da inflação. Porém, a ligeira retoma de elevação da taxa de inflação mensal, em Setembro, só veio confirmar que, infelizmente, não se tratava de fim da crise inflacionária.
É provável que as taxas de inflação mensais subsequentes venham a apresentar-se em sentido ascendente. Assim sendo, a taxa de inflação homóloga tenderá certamente a terminar o ano 2024 próxima de 30% e a voltar a ultrapassar esta percentagem, no primeiro semestre do ano seguinte.
Em tempos da dúvida entre fim e continuação de crise inflacionária, devem permanecer as medidas de política monetária restritiva.
No caso recente de Angola, a melhor opção de política monetária seria a de não parar de aumentar as taxas de juro básicas e aumentá-las de modo mais intenso, evitando o risco de início de uma espiral inflacionária. Assim, restaria aos agentes económicos, privados e públicos, incluindo o Ministério das Finanças, gerirem as respectivas finanças com maior parcimónia.
No entanto, o Banco Nacional de Angola abrandou a sua postura na medida em que o respectivo Comité de Política Monetária deixou de elevar as taxas de juro nas decisões bimestrais tomadas em Julho e em Setembro. Entretanto, não passou a reduzi-las, o que teria sido pior.
Com o preço do petróleo em queda, particularmente desde Maio do ano em curso, e já tendo voltado a subir a taxa de inflação de Setembro, é expectável que o apuramento da taxa de Outubro, por parte do INE, venha a resultar em mais uma subida e que, em reacção, na reunião de Novembro, o Comité de Política Monetária retome os aumentos das taxas de juro.
Seja como for, a via mais apropriada de combate a crises inflacionárias como esta, causada por escassez de moeda estrangeira, é a política cambial em regime fixo: em bons tempos, o banco central acumula moeda estrangeira, principalmente dólares, em reserva internacional e, em maus tempos, utiliza a reserva para contrabalançar a escassez. É para isto que serve a reserva internacional. A política monetária torna-se complementar, neste caso.