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Opinião

A inflação em 2021 e a insistência no erro

Chancela do CINVESTEC

Em 2021, a inflação acelera sem que ocorram as causas "habituais": aumento dos salários (nunca foi o nosso caso), aumento da moeda em circulação e depreciação cambial. Comparando o 2.º Trimestre de 2021 com o 4.º Trimestre de 2020:

¦ O M2 em moeda nacional reduziu-se 4,2%

¦ A taxa de câmbio apreciou-se 1,6%.

¦ Não sabemos qual a oferta ao consumo no 2.º Trimestre; no 1.º Trimestre cresceu 16,8% relativamente ao 4.º Trimestre de 2020.

Deveria, portanto, ter havido deflação, em 2021.

De onde vem, então, a inflação?

Há quem adiante a hipótese do efeito substituição, isto é da alteração do pacote médio de consumo. Contudo o peso desta componente é muito reduzido. Por exemplo, a "alimentação e bebidas não alcoólicas" passou de um peso de 43,95% para 55,67%. Imaginemos que os preços destes produtos tenham crescido 30%, enquanto, todos os restantes apenas 20%: o efeito global seria a passagem da inflação de 24,4% para 25,6% (1,2%). Logo, esta não pode ser a origem de uma inflação no patamar de 25%!

Outros, ainda, falam no crescimento da inflação mundial que ainda não conhecemos devidamente. Na verdade, algum crescimento dos preços a nível mundial também terá um efeito reduzido. Imaginemos que a inflação mundial tenha atingido 5%. Como a componente importada foi de 28%, o efeito seria igual a 5% x 28% = 1,4%. Mesmo com o crescimento do valor dos fretes também não pode ser esta a origem da inflação no patamar de 25%! De outra forma estaríamos a assistir a taxas de inflação semelhantes por todo o continente.

Estes dois efeitos são importantes, mas incapazes de explicar o núcleo da inflação!

De onde poderá então provir a inflação galopante em 2021? Comparando o 2.º Trimestre de 2021 com o 2.º Trimestre de 2020:

¦ O M2 em moeda nacional aumenta 16,5%. Contudo, não se observou qualquer efeito de aumento da procura. Este aumento do M2 foi, na nossa opinião, anulado pela redução da velocidade de circulação por se ter tratado, sobretudo, da transformação de títulos de dívida do Estado, sobretudo OT indexadas, em depósitos a prazo que ficaram, em geral, imóveis à espera de oportunidades de investimento de rentabilidade semelhante.

¦ A taxa de câmbio deprecia-se 11,6%, com um efeito de 3,2% sobre a inflação(2).

¦ A oferta ao consumo até ao 1.º Trimestre decresce 18,5% com um efeito na inflação de cerca de 23%.

¦ Assumindo uma redução semelhante da oferta ao consumo no 2.º Trimestre e somando os dois últimos efeitos teríamos um efeito total homólogo de 26% contra uma inflação homóloga de 25%.

¦ Se fizermos um exercício semelhante para 2020, teremos uma pressão inflacionista de 40%, sem a componente monetária e uma inflação de 25%.

Provavelmente, assistimos, em 2020, a uma retracção das margens quando os empresários procuraram segurar os seus clientes face às restrições da actividade. Em 2021, as margens podem estar a ajustar-se, sobretudo porque a pressão da concorrência é cada vez menor. Parece, portanto, que é a redução da oferta ao consumo e da concorrência que estão, hoje, na origem da inflação!

Analisemos a tendência:

Apesar de haver alguma correlação com a linha de regressão linear e os desvios em relação à linha de tendência se reduzirem a partir de 2020, pensamos que será útil uma análise mais profunda.

A variação trimestral mostra uma tendência de redução durante o ano de 2018 e início de 2019, atingindo um mínimo de 3,3%, no 2.º Trimestre.

Posteriormente, temos uma subida quase linear até atingir o patamar médio de 5,7%, no 1.º Trimestre de 2020. Sabemos que esta linha foi distorcida nos 3.º e 4.º Trimestres mas estes trimestres podem ser eliminados como anomalias quando estudamos a tendência.

*Economista e director do Cinvestec

(Leia o artigo integral na edição 638 do Expansão, de sexta-feira, dia 20 de Agosto de 2021, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)