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Opinião

Acredito que é possível

Editorial

Sabem, há duas mentiras que nunca alimentei - "são todos iguais" e "nunca vão mudar". Acredito profundamente na diferença e na evolução

Existe um imaginário, lá em cima, naquela parte que separa o sonho irrealista de uma ideia possível, que realmente me faz acreditar que é possível transformar este num País com condições para todos. Pode parecer estranho para quem lida todos os dias com números que nos dizem o contrário, com realidades e conversas que apontam num outro sentido.

A vantagem desta profissão é conhecermos muitas das motivações dos factos que relatamos, e muitas vezes não publicamos porque não existem dados concretos, mas sabemos do que se trata. E acreditem que muitas destas motivações são apenas pessoais e únicas, e que se podem contar sem chegar aos três dígitos, os que na verdade pensam primeiro no País. E isso deixa-nos profundamente desmotivados, porque percebemos que as conversas públicas são apenas encenações com o objectivo último de deixar tudo na mesma.

E é nesses momentos que um pequeno sinal, uma atitude inesperada, volta a encher a aura de esperança de que vai ser desta. É assim que me alimento, juntamente com os que estão à minha volta. É por isso que não aceito esse discurso profundamente negativo de que não há solução, que é irreversível esta marcha para o abismo, que é o caos que nos espera no final de cada passo ou atitude. Posso parecer desequilibrado, mas eu acredito na mudança, das pessoas e das instituições, e tenho a secreta esperança que alguns dos nossos compatriotas vão ganhar vergonha na cara e mudar o seu comportamento.

Sabem, há duas mentiras que nunca alimentei - "são todos iguais" e "nunca vão mudar". Acredito profundamente na diferença e na evolução. E também já vi isto muito pior, embora muitos tendam a esquecer as experiências de anos passados, dos tempos em que em defesa da teoria da acumulação primitiva de capital se transferiu para fora das nossas fronteiras a riqueza de pelo menos três gerações. Penalizar, se calhar não. Perdoar, talvez sim. Esquecer, nunca!

Isto tudo a propósito de um ambiente um pouco estranho que se vive no País, onde parece que o controlo e a pressão sobre a liberdade de opinião está a aumentar. Onde em alguns se nota um aumento do nível de arrogância e soberba, e de outros, o assumir que é necessário ser mais inclusivo. Embora com a camisola do mesmo clube, temos jogadores que definitivamente acham que não fazem, nem vão fazer, parte de um todo colectivo, que são únicos e iluminados, e outros, que perceberam que só é possível ganhar o campeonato com o apoio do público. E por isso caminham para as bancadas à procura de perceber o que querem os seus adeptos e porque é que os adeptos dos clubes rivais não gostam da sua equipa.

E são estes últimos que alimentam este meu optimismo. Não estou a ironizar, acredito mesmo que é possível ter um País para todos. E mesmo que a equipa técnica tenha dúvidas, também devemos ser nós a mostrar que é possível. A dar a nossa contribuição.