O Kwanza continua a cair de forma muito preocupante, o que merece por parte de todos uma análise mais profunda. Primeiro ponto, a moeda nacional caiu cerca de 16% desde as eleições. Por mais que se queira ir á procura de outras explicações, o fenómeno da valorização do kwanza durante os primeiros oito meses do ano afinal teve motivações políticas e não económicas. Ou seja, não foi uma consequência do funcionamento do mercado, das políticas e das medidas do banco central, mas das convicções de quem manda que precisava de uma moeda a um valor mais alto para fazer passar a mensagem da melhoria do País.

Sei que pode parecer injusto dizer que afinal esta valorização da meda nacional foi uma enorme encenação, manipulada pelos preços com que a banco central e a o ministério das finanças referenciavam nas compras de divisas por parte dos grandes importadores. Pode parecer uma injustiça ainda maior acrescentar que esta oscilação da moeda nacional fazia parte de uma estratégia, que os maiores agentes económicos ligados ao poder estavam informados, e que em consequência disso, terão ganho milhões de kwanzas. Todos!

Não querendo ser injusto, não vou alimentar a teoria acima descrita. Vou antes tentar explicar que o País aumentou brutalmente as suas importações, precisou de moeda estrangeira para fazer face às necessidades, uma vez que a produção interna de bens e mercadorias continua a ser residual, e por lógica de mercado, o kwanza caiu. Agora explicar um deslize de 16% em apenas três meses, é que é mais complicado. E como é que com esta desvalorização galopante da moeda nacional vamos manter uma meta de inflação à volta dos 16%? Também não obedece a uma explicação simples.

A este propósito deixem-me só acrescentar que esta norma do BNA para que os grandes importadores tenham acesso directo à plataforma Blomberg não vai ajudar a economia. Pelo contrário, vai contribuir para a feitura de monopólios, os maiores grupos terão enormes vantagens, vão ter moeda estrangeira a preços mais baixos que os pequenos e médios importadores que terão de manter-se nos circuitos normais, e no longo prazo contribuiu para acabar com a actividade produtiva. Mas proporciona enorme vantagens a estes "novos" grupos económicos, que por agora são as estrelas do governo de João Lourenço. Ficaram certamente muito satisfeitos!

Resumindo, depois de o BNA ter criado um mecanismo que parecia ter sob controlo a nossa política monetária, de termos todos ficado a sensação que o sistema implantado era eficiente e acabava com as práticas de distorção do mercado do passado, eis que parece que estamos a andar outra vez para trás no tempo. Por que será? Quem vai ganhar com isso?