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Opinião

Educação e trabalho

EDITORIAL

Esta "onda" de jovens entre os 15 e 24 anos que não trabalha nem estuda, hoje cerca 1,2 milhões, continua a crescer. O problema é enorme e parece que está toda a gente a assobiar para o lado, uma vez que não se veem medidas ou acções concretas

Existe na verdade um número crescente de jovens que não estudam nem trabalham, confirmado pelos números do INE, que nos deve preocupar a todos. Estamos a falar de uma geração sem perspectivas num País que tem tanto por fazer. Parece estranho que passemos o tempo todo a falar da necessidade de defender os angolanos, mas depois não se consiga criar condições para lhes dar o mínimo - a possibilidade de estudar e aprender uma profissão, ou a possibilidade de terem um trabalho.

Obviamente que as soluções não são fáceis e as explicações não são lineares. Mas não se pode querer diluir a responsabilidade desta situação, que começa obviamente em que gere o País e no sistema de educação, que continua demasiado frágil para a nossa realidade. E neste aspecto houve claramente um desinvestimento, possivelmente mesmo uma estratégia das elites em fragilizarem o sistema público, sendo que no entanto, colocaram os seus filhos e sobrinhos a estudar no privado e no estrangeiro, por forma a limitarem que outros sem as mesmas condições financeiras pudessem ter acesso ao mesmo tipo de formação.

Mas esta selecção também tem sido feita no acesso ao trabalho, onde as questões familiares e de pertença ao mesmo partido político, ainda são decisivas no preenchimento das oportunidades. Há excepções á regra, claro, exemplos de alguns que conseguiram estudar e formar-se, ter acesso a lugares de destaque, sem obedecer a estes critérios de selecção que foram sendo implantados ao longo dos anos. Mas são ainda poucos para se possa dizer que o elevador social funciona em Angola, e mais, que a sua energia é a meritocracia. Não é mesmo, e não vêm melhorias neste aspecto!

Por isso quando se olha para estes 47 anos de independência, a educação e a igualdade de oportunidades, continuam a ser projectos adiados. O primeiro passo é valorizar o sistema de educação, os professores, os programas escolares. Garantir a que todas as crianças, independentemente da sua família e posição social, possam ter acesso a uma formação condigna. Infelizmente continuamos a analisar o sector da educação pelo número de escolas construídas, sem nunca questionar se funcionam, em que condições, com que professores e com que nível de aprendizagem para os miúdos.

E esta "onda" de jovens entre os 15 e 24 anos que não trabalha nem estuda, hoje cerca 1,2 milhões, continua a crescer. O problema é enorme e parece que está toda a gente a assobiar para o lado, uma vez que não se veêm medidas ou acções concretas. Por mais que se tenham discursos bonitos e se reúnam com as associações dos jovens do partido da maioria, se prometam casas aos filhos e sobrinhos, a situação não se vai resolver por si. É necessário ser inclusivo, olhar para todos e fazer reformas estruturais. Não há outra forma. São todos jovens angolanos!