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Opinião

Estratégia intencional

Editorial

Começa a ser claro para todos que esta estratégia de roubo do erário público, sob a capa da acumulação primitiva de capital, tendo como maior ambição ter o dinheiro suficiente para ter casas e carros no estrangeiro, filhos a estudar nas melhores universidades, capacidade para mandar os familiares e amigos tratarem-se nas clínicas europeias e americanas, foi construída de forma intencional e propositada.

Com o apoio de juristas, economistas, consultores dos países amigos, sempre sob a bandeira da angolanidade e da necessidade de serem os angolanos a usufruir das riquezas de Angola. Ouvimos tantas vezes estes discursos quando os sinais de riqueza eram mais que evidentes, que, confesso, até eu tive a tentação de acreditar.

Só que a ambição humana não tem limites e o dinheiro fácil é mais viciante que qualquer droga conhecida e, por isso, nunca há um limite. Aqueles que se deixaram "agarrar" neste esquema nunca vão parar, por muito que pareçam arrependidos ou que mudaram. Uns vão acabar nos tribunais, outros nem tanto. "Um homem que se vende uma vez, vende-se a vida inteira", ouvi diversas vezes do meu pai. Mas também ouvi outros dizer, "todos os homens têm um preço. É só achar o certo". Por isso é que a corrupção, o nepotismo, a apropriação indevida de bens do Estado, são crimes que cruzam de forma transversal a nossa sociedade.

A apologia destas práticas foi suportada pela tal estratégia feita de forma intencional que deu a muitos poucos tudo o que País gerou, e mais o que ficou a dever para os próximos 30 anos, no mínimo. E as práticas não mudam por decreto, a "sem vergonhice" não desaparece com um banho de água quente.

E aqueles que questionavam o que é claro hoje, acabaram por ser mal tratados ou afastados, outros foram convidados também a sentarem-se à mesa e aceitaram, passaram a dormir em melhores colchões, mas com sonhos mais turbulentos, e houve ainda outros, que, no desejo de chegarem a tão fausto banquete, fizeram de tudo para defender aquela meia dúzia que ganhou milhares de milhões de dólares e que hoje acham que não têm nenhuma responsabilidade nesta história. Só porque ficaram apenas com as migalhas que caíam das toalhas quando eram sacudidas. Alguns destes, curiosamente, são hoje os mais agressivos contestatários.

Hoje a luta passa por alterar os mecanismos de controlo, descentralizar o poder, dividir as competências, tornar as instituições mais fortes, não deixar que estas coisas se repitam. Ou pelo menos com tanta frequência. E não esquecer que trocar de fato não é trocar de personalidade. É apenas isso, mudar de roupa.