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Opinião

O produto até ao 3.º Trimestre de 2022

CHANCELA DO CINVESTEC

A enorme dependência dos rendimentos petrolíferos determinou uma queda considerável da produção de valor, com a destruição de inúmero capital e emprego formal, tendo sido agravada pelo choque da crise do IVA/Taxa Flexível e pela Covid-19. Esta circunstância deveria servir-nos de guia para o que estamos a fazer, agora que os rendimentos petrolíferos estão a crescer e a aumentar o emprego, o produto, o investimento e o número de empresas.

Há muitas formas de calcular o PIB. Devido aos múltiplos problemas do cálculo do INE apresentamos como leituras alternativas o PIB deflacionado pela inflação do INE, pela inflação corrigida pelo CINVESTEC e em USD deflacionados.

Dividimos o PIB nominal em duas componentes: a produção interna "consumida" internamente (Despesa Interna em Produtos Internos - DIPI), também por vezes chamada, incorrecta mas sugestivamente, de "produção interna"; e a produção interna "consumida" externamente (exportações).

Porque não termos esta divisão no PIB em medidas de volume apresentamos estas componentes apenas nos cálculos deflacionados.

Observando a figura 1, qualquer que seja a perspectiva de leitura, a "produção interna" decresceu ao longo da legislatura, sendo muito tímida a recuperação até ao final de 2022.

A enorme dependência dos rendimentos petrolíferos determinou uma queda considerável da produção de valor, com a destruição de inúmero capital e emprego formal, tendo sido agravada pelo choque da crise do IVA/Taxa Flexível e pela Covid-19. Esta circunstância deveria servir-nos de guia para o que estamos a fazer, agora que os rendimentos petrolíferos estão a crescer e a aumentar o emprego, o produto, o investimento e o número de empresas. Do que hoje fizermos dependerá o futuro do país: ou nos mantemos neste sobe e desce ao sabor do petróleo ou, definitivamente, ganhamos a nossa segunda independência, aproveitando o petróleo em vez de nos deixarmos aprisionar por ele!

Infelizmente está totalmente enraizada na população, nos políticos e até na academia a ideia de que, quando há rendimentos do petróleo, a prioridade é consumir!

Na figura 2 podemos observar que a variação das exportações deflacionadas mostra que os decréscimos nominais em USD foram anulados pela relação entre a taxa de câmbio e a inflação interna. Medido em produtos transaccionados no mercado externo, o valor das exportações ultrapassa ligeiramente o valor do 4.º Trimestre de 2017 nos 1.º e 2.º Trimestres de 2022, mas volta a cair no 3.º Trimestre. Tendo em consideração a artificialidade das taxas de câmbio durante uma boa parte da série e os problemas com o cálculo da inflação, o valor em USD deflacionados da inflação mundial parece, apesar de tudo, ser o que melhor corresponde à realidade. A principal preocupação com a evolução das exportações é, naturalmente, a referente à produção e aos preços do petróleo, que pode ser observada na figura 3.

A actual estabilidade da produção permite uma ligeira ultrapassagem da produção prevista entre 2027 e 2029. Porém, os dados continuam a mostrar que a produção deixa de ser significativa no final da próxima legislatura (500 milbarris/dia em 2028), praticamente desaparecendo em 2032.

Desde 2019 até 2022 (Agosto), a produção efectiva reportada pela OPEP situou-se sempre abaixo da previsão apresentada, em 2018, pelo BNA: -4%, -11%, -18% e -11%, nos anos sucessivos.

Porém, observando a figura 3, vê-se que os preços anormalmente altos do petróleo não estão a atrair mais investimento para o sector, com os valores a oscilarem entre 6 e 7 mil milhões de USD por ano, sendo sempre inferiores às saídas de IDE petrolífero. Sem investimentos mais significativos não se conseguem estudar novas reservas que substituam a produção dos poços em fase de esgotamento, e as previsões acima apresentadas parecem mais assertivas. Há a tese contrária que defende, comoptimismo, que a produção estagnará por volta do milhão de barris/dia. Gostávamos de acreditar nesta previsão, mas, sem dados para a sustentar, a probabilidade parece remota.

No gráfico do PIB (figura 4) já é possível apresentar o cálculo do INE em medidas encadeadas de volume. O valor nominal deflacionado pela inflação do INE é muito mais próximo das medidas de volume, demonstrando ambas as mesmas inconsistências: durante a pandemia o produto cai muito pouco para os nível de confinamento e restrição da actividade a que estivemos sujeitos, recuperando logo para os níveis pré-pandemia no final de 2020, quando ainda vigoravam fortes restrições sanitárias; a recuperação em 2021 é pouco significativa e, em 2022, há uma queda da actividade nos 2.º e 3.º Trimestres, sem qualquer sentido que nos parece ser apenas resultante de um valor excessivo da inflação.