Só se faz eventos para manter o nome, não para ganhar dinheiro"
"Mais DJ do que produtor musical" é a frase que o define melhor, depois de conquistar o público através da sensibilidade para os ritmos "house". O artista fala do sector, dos desafios que enfrenta e do desejo de lançar um novo álbum de originais.
Entrou na profissão de DJ a 25 de Abril de 1995, em simultâneo com o seu irmão Ricardo Alves, que também é DJ. Uma profissão que despertou com o hábito de ouvir rádio...
Claramente. O bichinho de ser DJ0 começou pela rádio. Na altura havia um programa na LAC (Luanda Antena Comercial), que era o Top Lazer (foi ao ar em 1992) e foi este programa que me despertou. Fui praticando e mais tarde entrei para a rádio.
À época era esta a trajectória que o DJ tradicional fazia, passando primeiramente pela rádio para depois abrir-se para outras aventuras?
As rádios, na altura, eram as grandes plataformas. Não se falava de programas de DJ"s na televisão. Não havia o streaming, nem as plataformas digitais. Em 1995 não havia nada disso. A rádio era a plataforma ideal para quem quisesse começar e dar a conhecer o seu trabalho.
Também não havia as pen- -drives, o youtube e todos estes equipamentos e ferramentas da nova geração.
Era muito difícil ser DJ nos anos de 1990. O único equipamento que estava preparado para as técnicas de mistura eram os gira-discos. E os discos não eram baratos, sobretudo cá em Angola.
Quase não havia comércio de discos vinil.
Neste período tivemos a RMS [casa de venda de CD e edição de discos], que foi muito importante no início da nossa carreira, porque muito dos discos que tocávamos no programa de rádio eram emprestados pela RMS, que na altura era a única loja de venda de discos de vinil em Angola, sobretudo, house music, que é o estilo de música que toco desde o início.
Mas não foram só os discos de vinil emprestados que vos mantiveram no ar.
Não. Foi também por pura sorte. Havia um DJ na altura, que era o Zé Maria, que decidiu seguir outro caminho na vida e sentiu que nós (eu e o Ricardo Alves e mais um vizinho de prédio, o Bruno) tínhamos gosto pelo deejaying. E como estava a mudar de rumo ofereceu- -nos uma caixa com 150 discos de vinil, entre músicas mais antigas e mais recentes da época, o que foi muito importante para o início da carreira. Porque na altura era muito difícil comprar discos. Para quem não ganhava dinheiro com a música o preço era proibitivo. Mas para pessoas com outro poder financeiro era mais fácil.
Mais tarde tiveram mesmo que conseguir equipamentos próprios para abraçar e juntar outros rumos à paixão pelas ondas radiofónicas?
Lembro-me que os primeiros equipamentos eram gira-discos da Technics, um aparelho com 50 anos, mas que continuam muito actuais. Os primeiros Technics que tivemos foram na época do primeiro contrato com a discoteca Paralelo 2000, de 1995 a 1996.
De lá pra cá a rádio sempre esteve ligada a si e ao seu irmão?
De 1995 para cá temos feito programas de rádio e também alguma sonorização a esse nível. Depois deixei de ser apenas um DJ e passei a ser um profissional de rádio. Já fiz trabalhos muito interessantes, como coberturas de entrevistas, reportagens, isso na parte técnica. Entretanto, os estúdios que pertenciam à FM Stereo passaram para o que é hoje a Rádio Cinco. Tivemos que nos mudar para o CEFOJOR. Depois de 28 anos, em 2022, tivemos esta mudança para a Afrirádio, onde estamos agora. É uma excelente proposta para quem gosta de música. É um projecto muito interessante, que foge um pouco do que é habitual na rádio angolana - caracterizada por muita palavra e muito debate. É uma proposta diferente e que se enquadra melhor com o produto Mix FM.
A saída do programa Mix FM foi um divórcio pacífico, mas ficou no ar a questão da morte da FM Stereo e o nascimento da Rádio Cultura Angola (RCA).
Se quer ouvir a minha opinião, sou a favor do projecto RCA, mas não sou a favor de matar um projecto que já tinha mais de 30 anos para abrir a RCA. A FM Stereo era uma rádio diferente, apesar de não se conseguir tornar numa grande marca, porque eles não quiseram. A FM Stereo não era uma grande marca. E digo sem medo de errar que o programa Mix FM era mais conhecido do que a rádio. O que pode ser normal, já que o Mix FM já foi fazer trabalhos fora de Luanda, já foi fazer eventos na Namíbia, na África do Sul, em Portugal, entre outros.
Havia pessoas que eram aficionadas por se tratar de um produto diferente. O que provocou aquela mudança drástica?
Nunca conseguiram transformar aquilo numa grande marca. Nós tentamos contribuir para isso. Já era uma cena que muita gente ouvia no carro, quando não queria ouvir mais conversa ou programas de debate. Repito: não sou contra uma rádio que fale da nossa cultura, dedicada à cultura angolana. Mas que arranjassem outro canal! A sustentabilidade de um projecto de rádio tem também muito a ver com a economia. Aquilo sobrevivia do Orçamento Geral do Estado, era um canal da Rádio Nacional de Angola e tinha trinta funcionários para fazer passar música.
Leia o artigo integral na edição 760 do Expansão, de sexta-feira, dia 26 de Janeiro de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)