"A marca SSP ficou maior do que nós"
Com 33 anos de musicalidade, os precursores do estilo rap em Angola juntam-se periodicamente para reviverem com os fãs os momentos que marcaram o grupo. Para o SSP, as suas músicas transmitiam esperança aos ouvintes num período tenso que o País vivia, por isso, estiveram, sexta-feira, 28, no CCB para celebrar também os 50 anos de Angola Independente.
O concerto de hoje, no CCB, é uma forma que o grupo encontrou para celebrar os 50 anos da Independência?
Sim, a ideia surgiu quando nós, enquanto produtores Karga eventos e SSP, achamos que, dentro destes 50 anos, tínhamos de celebrar Angola, por tudo e também pelo pequeno tijolozinho que nós ajudámos a construir. Achamos que a nossa geração, nos anos 90, foi uma geração que contribuiu muito para a dinâmica da própria juventude, do próprio País, que vinha depois das eleições de 1992, e que depois volta à guerra. Tanto o SSP e os nossos convidados, N"Sex Love, O2 e As Gingas foram extremamente importantes naquela altura para dar uma a lufada de ar fresco e uma esperança aos jovens. Daí é que o sucesso de qualquer um desses grupos conseguiu perpetuar durante três décadas. Conseguimos conquistar três gerações e continuam... Então, entendemos que devíamos fazer uma coisa em nome de Angola. Por tudo que nós fizemos.
Qual é a vossa expectativa?
A expectativa é sempre de muita diversão, nostalgia, acima de tudo. Ao longo desses anos, SSP é o que é. Então, a expectativa é dar um grande show e recordar os momentos passados. As pessoas vão ouvir e viver as músicas que nos levam a certos momentos no tempo e no espaço. Vai ser uma grande alegria.
Haverá alguma novidade nesse evento?
Não, novidade mesmo seremos nós. Nós vamos aparecer diferentes, com mais bochechas, mas com a mesma energia que sempre marcou o SSP. Um bocadinho diferente, porque também, o peso é outro. Vão sair alguns toques, mas com respeito. O nosso público tem agora 40, 50, 60 anos. Então, vamos ver muitos barrigudos na plateia, também para combinar connosco no palco e é essa junção que vai fazer com que realmente o show funcione. Muita gente talvez vá para esse show, que não vai a shows, mas o SSP marcou de tal maneira, que hoje ele tem uma mulher, tem filhos, graças à musicalidade do SSP, então tudo isso é que faz o show do SSP ser diferente de todos os outros shows.
As vossas músicas transcendem a vossa geração?
Claro! As pessoas da nossa idade conseguiram contaminar os irmãos mais novos e outros aos seus filhos. Mas é sempre divertido ver diferentes gerações no mesmo sítio a vibrarem pela mesma música.
As vozes?
Uma maravilha! Há transformação, que é da idade, todos nós somos assim, mas pensamos que o nosso público também vai perceber. Vai estar tudo compatível.
Passados 30 anos... qual é o sentimento?
Quando começámos a cantar não estávamos à espera do sucesso dos SSP, depois de 30 anos. Achamos que fomos extremamente importantes para o País. Fomos uma geração que revolucionou o mercado nacional numa altura em que se consumia, nos anos 90, a música cabo- -verdiana, a música brasileira, etc. Então, nós fomos os jovens que quebrámos a tendência do consumo das músicas internacionais com o nosso rap, com a Kizomba, com o semba, o kuduro depois também surgiu, ou seja, essa revolução toda, destes 50 anos, não pode passar despercebida. Então, tomamos a iniciativa de fazer esse evento e mostrar que cá estamos. Também colocamos a nossa pedrazinha durante esses 50 anos.
Que análise fazem à música nacional e do rap?
No geral, dá para dizer que houve uma evolução muito grande e, acima de tudo, a nova geração continua a manter a bandeira do hip hop que nós basicamente plantámos. A nova geração continua a manter o rap, agora um pouquinho diferente, o que é normal, mas continua a ser a representação da cultura hip hop, acima de tudo. E é sempre bonito ver esses jovens, porque nós na altura quando começámos com o SSP tínhamos só o sonho de querer cantar, de querer mostrar ao mundo que também temos grupos de raps aqui em Angola.
Há troca de experiência com a nova geração?
Nós sempre fizemos isso, conseguimos fazer a nossa parte. Por isso, é que as portas que nós abrimos fizeram com que outros surgissem. E os que estão a surgir também vão fazer a sua parte, e cada um vai sempre deixando o seu testemunho. Porque o mercado nacional de hoje, a realidade de hoje não é a mesma que nós encontrámos na altura. Naquele tempo não havia internet, não havia Instagram, Facebook, as plataformas digitais, somos do tempo das cassetes. Logo, há oportunidades que os jovens têm hoje, que o mercado nacional tem, que nós não tivemos. Contudo, fizemos aquilo que podíamos naquele tempo, hoje as pessoas têm outras facilidades, hoje qualquer pessoa pode gravar uma música, pode pôr na internet.
Os meios para a divulgação eram escassos...
Antigamente só havia a TPA1, Jornal da Angola, de rádios tínhamos a LAC, Rádio Nacional e Rádio Luanda e não havia mais nada. Ou seja, para se tocar a sua música não era fácil. Hoje as pessoas têm mais possibilidades e devem aproveitar isso.
Foi um desafio impor-se no mercado com o vosso estilo?
Nós viemos de um tempo mais difícil, em que tínhamos de pôr na cabeça dos mais velhos que essa música é feita por angolanos. No tempo em que nós só ouvíamos os músicos da primeira grandeza, todo o resto eram tidos como bandidos, os mais velhos olhavam assim. Então, para mudar todo esse conceito foi preciso muito boa obra, muita vontade, sacrifício e muito sangue, suor e lágrimas, como dissemos. Mas conseguimos. E hoje a nova geração tem de aproveitar isso, olhar para as nossas histórias, que estamos sempre a contar, e agarrarem as oportunidades, porque também ninguém lhes vai dar nada de borla. Muitas pessoas, às vezes, dizem não ter uma oportunidade, nós, SSP, criámos a nossa oportunidade, contra tudo e todos, conseguimos hoje, porque fomos à luta. E tivemos problemas com os nossos pais, de sermos expulsos de casa e outras questões. Mas a vida é mesmo assim. As únicas coisas que vêm de borla é a nossa fé e a chuva que caí, tudo o resto aqui na terra é resultado de luta. Por exemplo, nós estamos a criar o nosso próprio evento dentro dos 50 anos de Independência do País.
Leia o artigo integral na edição 815 do Expansão, de sexta-feira, dia 28 de Fevereiro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)