"Estamos a trabalhar e as pessoas estão a ver e a consumir a arte que estamos a fazer"
Com cinco anos de estrada, actriz e modelo está de olho na internacionalização. Defende que o que é nacional deveria passar em canal aberto para que os angolanos tenham mais acesso aos produtos dos fazedores de arte.
Tem dado vida a várias personagens em novelas e filmes nacionais. Depois do Rio, que projecto se segue?
Terminei de gravar o Rio. Gravei também o Windeck, como uma das personagens principais. Recentemente, terminei de gravar a minha participação no Hotel Palanca, que é uma nova produção também da Diamond Films.
Das artes cénicas a que se dedica, qual surge primeiro?
Comecei com o teatro. Mais tarde, a convite do Raul de Rosário, actor e agora director de elenco de algumas actividades da Diamond Films, para fazer um casting dirigido, tive uma participação na novela o Rio. Fui apta e aí começou o meu percurso no mundo cénico. Depois surgiram outros desafios como a novela Windeck, recebi a proposta de gravar o meu primeiro filme, "O Lastimável", uma realização de Satanha Sinfélio.
Começou no teatro. É um desejo que vem da infância ou teve influência externa?
O teatro não foi um desejo de infância. Por acaso, mais nova, eu sonhava ser miss e ser actriz, quando assistia muitas séries da Disney Channel. E pensava dentro de mim, quando eu crescer, quem me dera um dia também ter uma participação numa das séries angolanas. Mas os meus pais nunca deram credibilidade às artes. Não queriam que a filha fosse atriz, nem modelo. Então, preferi deixar essa paixão de ser modelo e entrei para o desporto, fiz andebol. Passados anos, os meus pais separaram-se, eu conheci alguém que era actor e, por ciúmes, também decidi entrar no grupo teatral, já que não poderia pedir que ele deixasse a sua vida profissional. Aí nasceu a minha paixão pelas artes cénicas. Comecei no grupo Amor à Arte, da Marisa Júlio. Dois anos depois, emigro para o grupo Elinga Teatro, de José Mena Abrantes, onde estou até hoje.
E a internacionalização...
Há tempos fiz uma turné em Portugal, actuámos em vários distritos daquele país europeu, pelo que, posso dizer que estou a fazer o meu caminho para me consagrar como actriz internacional. Trabalhei com a Cláudia Pucuta, que agora é considerada a melhor actriz da África Austral. Fizemos par na peça "A mesa", uma obra de José Mena Abrantes.
Com o caminho que está a fazer. Como avalia o nosso mercado cinematográfico e de produção de novelas?
Vou dizer que estamos a lutar para crescermos. Porque até ao momento só temos ainda uma produtora que realiza novelas, que é a Diamond Films. Acho que seria relevante para o mercado, termos outras produtoras também a lutarem pelo mesmo objectivo. Entendo que, quando existem desafios, quando uma instituição ou organização se sente ameaçada pela presença da outra, o crescimento é maior, ou seja, a vontade de produzir é mais elevada ainda. Então, acho que ainda nos falta um bocadinho para conquistarmos a nossa indústria cinematográfica ou a nossa indústria audiovisual, comparando com os outros países PALOPs ou mesmos países africanos também.
Fora a formação adquirida nos grupos, fez uma formação académica?
A minha formação não está relacionado às artes. Estudava comunicação social, mas tive de trancar o ano lectivo por questões financeiras. É muita responsabilidade. Porque apesar de ser uma jovem de 22 anos, sou uma menina que acarreta muitas responsabilidades. Sou irmã mais velha de quatro irmãos e só vivemos com a mãe. Então, preferi adiar os meus estudos e priorizar os estudos dos meus irmãos e outras coisas.
A arte que exerce garante estabilidade financeira?
Não no seu todo, mas já me ajuda, sim, a cobrir algumas questões. Devido à arte, eu consegui comprar uma casa para a minha mãe. Consigo pagar a propina dos meus irmãos. Devido à arte eu consigo sustentar- -me de certa forma. Porém, importa realçar que, além da arte, eu faço outras actividades. Também vendo perucas, por exemplo.
Só a arte não chega?
Não! É preciso fazer outras actividades para poder complementar as necessidades financeiras. Porque se nós já tivéssemos uma indústria cinematográfica, eu acho que aqui o artista já poderia sobreviver apenas da arte, como acontece noutros países como a Nigéria, a África do Sul. Eu ia falar de Hollywood, mas Hollywood é outro nível. Mas nós aqui ainda não estamos bem sustentáveis em termos de cinematografia. Então é mesmo importante que, além de fazermos arte, ainda precisamos recorrer a outras fontes de rendimento. Eu acho que aqui todo o actor, além de ser actor, faz outra coisa. Ou faz voz-off, ou faz parte de várias campanhas publicitárias, ou é doutor, ou é professora, ou é treinador de um ginásio. Só com a arte, acho que ainda não conseguimos sobreviver.
Como considera a relação intergerações nas artes cénicas?
Eu, particularmente, tenho boas relações com os nossos mais velhos. Mas vou aqui dizer uma coisa. Eu gosto de ser sincera. Eu acho que a minha geração, nós os actores mais novos, ainda não somos tão unidos. Olho para a geração da Grace Mendes, do Kayaya, do Sílvio Nascimento, eu consigo notar que eles, naquela altura, eram bem unidos. E não se compara com a união que nós temos agora, da nova geração. Eu troco muitas experiências com actores mais velhos, como a Grace Mendes, eu tenho-a como uma mentora, a Érica Chissapa, o Sílvio Nascimento, a Cláudia Pucuta...
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