"Deixei de temer represálias dos homens por causa do que penso"
Depois da música, autor vai no seu segundo livro, onde expressa a liberdade de espirito, de consciência e união entre os africanos. Dog Murras fala de empreendedorismo e de estar a viver fora do País, porque lá sente-se a crescer e a ser quem realmente é. O músico promete um álbum para breve.
raz o segundo livro, "Ubuntunós por nós". O que é?
"Ubuntu" é o princípio basilar, o fio último da cultura africana, uma filosofia de vida, um princípio que existe antes de nós e que é, ao mesmo tempo, a nossa razão de ser em referência ao direito natural. "Ubuntu" nasceu através da minha permanente interconexão com a minha gente. Vem da necessidade do resgate de uma abordagem humanista, ética e de solidariedade às nações africanas, em especial à angolana. Venho indicar caminhos e mostrar que a única saída para nós é a nossa união em torno de nós. Viver em comunhão é a única garantia de estabilidade para todo o "mwangolê" e seus descendentes.
É um projecto antigo ou começou a ser idealizado após o lançamento de "Matemática da Coerência"?
Comecei a idealizá-lo em tempos de pandemia. A minha intenção era escrever uma obra sobre a magnitude de Nelson Mandela e acabei por me inclinar no princípio "Ubuntu" que o doutrinou e que fez dele um símbolo vivo de Temperança, Humildade e Paz.
Porquê Bonga Kwenda como prefaciador do livro?
Porque aquele que caminha com os mais velhos, sob os seus ensinamentos e direcção, jamais se perderá no caminho do mato.
Esgota-se aqui a publicação de livros ou podemos esperar mais?
Sou um homem em constante reciclagem, as minhas obras são o reflexo da realidade que observo e a forma de expor o que sinto, que pode ser cantada ou escrita, que permite uma imersão mais aprofundada, tudo de acordo com a necessidade premente.
Serve como um incentivo?
Mas é preciso deixar claro que do outro lado do muro quero incentivar os meus seguidores, principalmente a camada mais jovem à leitura, quero estimulá-los a buscarem permanentemente o conhecimento por ser a única via que garante a verdadeira Liberdade.
Mas nada de novo, sendo que as suas letras sempre evidenciaram os temas de sofrimento, irmandade, união...
Sim, a minha música é "Fala Angola", através de versos profundamente reflectidos apresento um retrato de tudo o que observo ao meu redor. Trago à tona variadas questões que insistem em ser veladas e, até certo ponto, ignoradas por quem de direito. Por isso, retrato tempos turbulentos, violência, a falta do básico para o meu povo, mas sem deixar de lado o factor plantar esperança. Por isso, me escutam a dizer que quem não quer ajudar, não atrapalha e quem vem para ajudar, não avacalha.
Quando começou a aparecer nos vídeos, as pessoas diziam: agora ficou "revú". É isto?
É constatado, geralmente um sentimento de indignação e descontentamento na pessoa do revolucionário, essa é a semelhança que vigora em mim também. Mas eu sou contra a manifestação de qualquer tipo de violência, sou um afro-optimista, seguidor de Nelson Mandela, por isso, proponho temperança e, até mesmo como empreendedor e progressista, trago na minha abordagem propostas de mudança, inovação e reformulação do pensamento.
Parou de compor e deu lugar apenas aos livros, ou podemos esperar, para breve, algumas músicas?
A música representa vida para mim. Parar jamais. Dei lugar aos livros por causa da profundidade da mensagem que precisava passar nas minhas duas obras. Mas não parei de compor e, brevemente, apresentarei novas obras musicais.
De acordo com estudiosos, a música é uma forma de ajudar no desenvolvimento da mente?
Sem sombra de dúvidas e é até comprovado pela ciência que a música é uma modalidade que desenvolve a mente humana, porque promove o equilíbrio, proporciona um estado agradável de bem-estar, facilita a concentração e o desenvolvimento do raciocínio. Falo isso por experiência própria.
Como?
Por exemplo, o único momento em que não escuto música é somente quando estou a compor música. Fora disso, para tomar banho, ao conduzir, ao escrever, ao pesquisar, ao treinar, ao caminhar só funciono com música, porque em todo o momento que escuto música tenho leveza espiritual. Ela retira o stress e os bloqueios mentais.
O que o levou a trabalhar com a editora brasileira, Liter África Editora, quando temos editoras angolanas?
Porque é uma editora com pujança, que honra e dignifica os autores africanos no Brasil e parte da América Latina.
Houve receio de represálias?
Sou um servo daquele Deus que não dorme, do único Rei e senhor dos exércitos, deixei de temer represálias dos homens por causa do que penso e exprimo desde a tenra idade.
Leia o artigo integral na edição 741 do Expansão, de sexta-feira, dia 08 de Setembro de 2023, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)