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"O actor é uma marca que se torna mais cara com o tempo"

JOSÉ MARIA-LELECO

Formando em História, o actor que experimenta as várias vertentes das artes cénicas faz uma avaliação positiva do teatro nacional, mas defende que os produtos nacionais devem passar em canal aberto, a fim de que todo angolano possa consumir o que é feito em Angola.

No primeiro fim-de-semana de Junho vai representar a peça teatral "A Paixão de Pai José", pela segunda vez. Como estão a correr os preparativos?

Os ensaios já começaram, há mais ou menos um mês. A peça já foi exibida, a estreia foi no mês passado, na Casa das Artes. Desta vez, vamos apresentar nos dias 7 e 8 de Junho, no Elinga, para prestigiar aquelas pessoas que não puderam estar presentes na Casa das Artes.

É uma peça baseada em factos reais?

Sim, é baseado numa história real. Fala do processo de escravidão, esse caminho entre os escravos que saíram de Angola para o Brasil e Pai José foi um desses escravos que foi transportado para o Brasil. Por via de todas as coisas, foi um escravo, podemos assim dizer, sexual, para procriação, para poder procriar escravos negros fortes. Então, o Henrique Artes propôs trazer um bocado daquilo que é a história dos africanos, dos negros, dos escravos. Ao longo da sua trajectória como escravo sexual, para tentar libertar todos os negros nesta condição, deixou mais de 300 filhos.

Qual é a expectativa?

Esperamos que as pessoas recebam o espectáculo de muito bom agrado. Porque, enquanto artistas, estamos sempre dispostos a trazer alguma coisa que, em teorias normais, as pessoas não vêem. Poucas são as pessoas que gostam de ir à procura de histórias e que lêm. Muitas pessoas hoje estão no consumismo, nos telemóveis e não vão buscar muito essas coisas que estão lá atrás, no nosso acervo. Então, propusemo-nos trazer a "Paixão de Pai José", que é uma coisa de um século atrás, para elucidar, sobretudo a nossa juventude, sobre quem foi e o que realmente fez.

O teatro também tem esse carácter pedagógico?

O teatro é um meio de transmissão de conhecimento em qualquer sociedade, Angola não pode ser diferente. Da mesma forma que conseguimos enaltecer Shakespeare, temos de enaltecer Rainha Ginga, Pai José, Zumbi dos Palmares, entre outros.

Há quanto tempo faz teatro?

Já faço teatro há 18 anos.

O que é que o levou ao teatro?

Na verdade, eu acho que já nasci com essa veia artística, de andar pelas artes. E a paixão estava entre a música, o futebol e as artes cénicas. Então, pratiquei um bocado disso tudo, mas acabei por me fixar maioritariamente no teatro, nas artes cénicas. Acho que estou bem entregue.

Vive do teatro ou tem outra fonte de subsistência?

Sou funcionário de uma empresa pública. Mas, gostaria muito de viver só do teatro, só das artes, mas, infelizmente, em Angola, é um calcanhar de Aquiles, mas não vamos desistir. Nós vamos conseguir. E a Covid veio dar-nos uma grande lição, porque, enquanto artistas, começámos a ver artistas atirados ao além. Ficámos dois anos praticamente parados.

Mas outras artes usaram as redes sociais. O teatro também dá para ser exibido nas plataformas digitais?

Claramente! Hoje, com o mundo das TIC, todo avançado, há muitos quadros de TikTok, há muitos vídeos curtos em que os artistas conseguiram mostrar o seu trabalho. Aqui fizeram-se algumas lives e conseguiu-se ver alguma coisa. Mas não posso dizer que seja o suficiente para a classe artística poder sobreviver. Foi um passo bem dado. Foi um momento em que os artistas puderam aproveitar, se assim posso dizer, da dificuldade que apareceu.

Leia o artigo integral na edição 777 do Expansão, de sexta-feira, dia 24 de Maio de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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