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"O Elinga foi entregue por quem tinha esse poder e direito"

JOSÉ MENA ABRANTES

São 35 anos entre os palcos nacionais e internacionais, a se reinventar para enfrentar o mundo. Com a redução da ameaça de demolição, o Elinga Teatro continua a albergar a cultura nas várias formas. Os financiamentos são uma preocupação, mas é proibido desistir.

O que é hoje o Elinga Teatro?

O Elinga hoje é o que tem sido durante estes 35 anos. O grupo foi fundado no dia 21 de Maio de 1988 e tem desenvolvido uma actividade, mais ou menos regular, um pouco pela situação que o País foi atravessando ao longo desses anos. Mas podemos dizer que em 35 anos tivemos 62 espectáculos apresentados, grande parte deles são de autores nacionais, incluindo a mim, e alguns nomes do teatro universal. Já temos presença registada em mais de 50 festivais, incluindo festivais nacionais, como o CIT, FESTECA, o próprio festival do Elinga.

E nos espectáculos internacionais...

Acho que em termos de presença no panorama teatral de Luanda, o Elinga é o grupo que, de certeza, levou à cena mais dramaturgos internacionais, daqueles mais conhecidos da história do teatro. Não sei o que os outros apresentaram, por exemplo, o Horizonte ou o Oásis. E temos várias vertentes, não só para fazer espectáculos inspirados em histórias tradicionais ou em romances angolanos já existentes, também apresentamos obras próprias e do acervo internacional.

Como é que sobreviveu aos desafios ao longo dos tempos?

Superamos muitas crises, sobretudo ligadas ao processo político do País, em que havia recolher obrigatório e muito dos nossos actores tinham que dormir aqui no Elinga, sobretudo em períodos anteriores à estreia, porque não podiam circular, por falta de livre trânsito. Houve períodos que ensaiávamos à luz de velas, porque não tínhamos electricidade.

As dificuldades mantêm-se?

Sim, para além de todas as outras dificuldades, porque a grande maioria dos actores vive nos bairros periféricos, e é sempre um problema, por causa do transporte. Só o transporte para vir aos ensaios onera qualquer produção que queiramos levar à cena, porque é preciso, diariamente, pagar o transporte a quem não tem carro próprio.

São problemas financeiros adicionais à produção das peças?

Pois é. Não temos meios próprios e depender da bilheteira não nos permitiria fazer nada. Nos primeiros anos, no tempo ainda da guerra, tivemos alguns apoios de instituições do Estado e de bancos. Mas depois, pouco a pouco, com as crises em que o País caiu, aquelas instituições deixaram de apoiar as nossas actividades.

E o público é exigente...

A grande dificuldade que temos é que as produções são cada vez mais elaboradas, envolvem mais gastos. Os actores deixaram de trabalhar por amor, porque também têm que sobreviver. Portanto, precisamos de encontrar soluções para proporcionar-lhes o mínimo. Alguns trabalham também no cinema ou televisão, assim têm a oportunidade de obter outros recursos. Mas aqui no Elinga Teatro, a não ser um patrocínio ocasional, não temos grande capacidade em manter o funcionamento do grupo.

As condições sociais esfriaram a dedicação?

Não necessariamente. O Elinga tem entre 15 a 20 elementos activos, mas há um núcleo que está quase desde o início e são, no fundo, a espinha dorsal, os que garantem a continuidade do espiríto com que o grupo nasceu. E vamos integrando outras pessoas, como é o caso da Claudia Pucuta. Em 2022 montei um espectáculo, por exemplo, com 19 pessoas novas, e quatro ou cinco ficaram.

O espaço é rentabilizado?

Temos alugado a várias pessoas, mas neste momento ninguém está a explorar o bar, que nos permitia remunerar o pessoal de base para a manutenção, a limpeza. Normalmente, quando não temos esse rendimento que o bar proporciona, é dos nossos próprios bolsos que sai o dinheiro para pagar a secretária, a trabalhadora de limpeza e pequenas manutenções do espaço.

Não têm estes apoios porque não solicitam ou porque lhes é negada a solicitação?

Sabendo da realidade da verba que é entregue ao Ministério da Cultura, nós, às vezes, já nem pedimos nada, porque já sabemos qual será a resposta.

Leia o artigo integral na edição 737 do Expansão, de sexta-feira, dia 11 de Agosto de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)