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"Sou abençoado, desde cedo consegui espaços para expor os meus trabalhos"

GONÇALO MABUNDA

Artista moçambicano trouxe nove esculturas para a exposição "Armas para a arte", com artefactos militares da guerra do seu país, que traz a reflexão sobre como o mal pode ser reaproveitado para o bem. E reclama para os africanos toda a riqueza gerada com os recursos do continente.

O que traz na bagagem, para a exposição "Armas para arte"?

Trago obras de arte feitas de artefactos obsoletos, que foram usados durante a guerra civil no meu país, Moçambique, que durou muitos anos e reaproveitei para dar uma outra forma. A forma do bem.

Porquê Angola para apresentar estas obras?

Porque Angola é um país que também esteve em guerra e achei que seria bom termos aqui este tipo de experiência, que é o que fazemos em Moçambique, que trocamos aquilo que era para o mal pelo bem. O bom é que aproveitamos para recriar estes artefactos de guerra para o bem. Trazemos esta reflexão para as pessoas entenderem que podemos destruir as coisas feitas para o mal e fazê-las ressurgir para o bem, criando uma nova dinâmica de vida.

O que significam os tronos e as máscaras da exposição?

Os tronos representam o poder normal que é feito com naturalidade, mas, por vezes, nós, enquanto africanos, conseguimos esse poder com a força e a brutalidade. Existe também a particularidade de que eles prometem e nunca cumprem. E isto dói-me, por isso, uso muito as máscaras como uma mentira.

Em todos os casos...

Estão sempre a mentir ao povo e, passado um tempo, lá estamos nós outra vez com esperanças de mudança, votamos e mentem de novo.

O que fazer para não cair nestas mentiras?

É possível, mas é preciso um trabalho profundo. Temos de combater o nepotismo, muitos pensam que é só chegar, mas não. É preciso subir os graus um por um. Como é que alguém tem dois mil pares de sapatos? Vai usar como e quando? Se o ano só tem 365 dias? Temos de reflectir em torno disto.

Muitos artistas estão a reaproveitar outros resíduos como forma de manifestação?

Claro, trago aqui esta vertente mais militar, mas em Moçambique, por exemplo, também uso o metal normal que recolho dos meninos, chamamos de "tchovas", que apanham nos contentores, passam de porta em porta em busca de material metálico. Então, compro das mãos deles e dou-lhes cor e vida. Muitas vezes, já solicito o formato do material que quero e até cores que quero usar para um determinado trabalho.

Compra apenas aos "tchovas" ou tem outras alternativas?

Antes tínhamos mais e era fácil de encontrar, mas actualmente compro também da sucata "Vulcano", que surgiu de uma explosão que aconteceu em Moçambique há alguns anos, causada por um paiol. A cidade inteira achava que era o retomar da guerra em Maputo, mas não. Foi apenas um erro dos militares. Compro lá o material que preciso e encontro lá muitas alternativas.

Com que impressão as pessoas ficam ao ter contacto com as suas obras do género?

A impressão é diversa, depende de cada pessoa. Uma vez, levei as obras para uma exposição em Xai-Xai, uma cidade de Moçambique, onde as pessoas sofreram muito com a guerra. Então, nesta cidade, eles olham assustados para as minhas obras, mas depois percebiam que aquilo, como estava já não mata e elogiavam até. Mas há outros que não viveram a realidade da guerra e olham de outra forma. A impressão é sempre relativa.

Já tem atelier?

Já tentei dar aulas aos meninos de rua, mas não tive muito sucesso, foi uma coisa a que chamei de "Universidade de Rua". A dinâmica era ter os meninos de rua para aprender comigo que o ferro que eles pisam é algo que podem usar para fazer algo melhor, como é o meu caso. Foi

Leia o artigo integral na edição 744 do Expansão, de sexta-feira, dia 29 de Setembro de 2023, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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