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Mais de 70 mil espécies animais e vegetais do Centro de Ciência do Lubango aguardam por um Museu

Cariz científico do património ao nível dos melhores do mundo

Em 1992 um grupo de entidades sul-africanas veio a Angola munido de camião para comprar e levar um património ímpar guardado desde os anos 60 no Lubango. Os responsáveis de então recusaram entregar a colecção, cujo valor intangível, constitui o mais importante repositório de sempre sobre espécies da flora e fauna do País e dos seus ecossistemas.

O rosto do projecto é Fernanda Lage, bióloga, perita em biodiversidade, investigadora das colecções biológicas (herbário, aves), que se mudou para o Lubango, em 2007, "apaixonada" pela colecção, estimulada pela ideia de um futuro museu. Fernanda Lage quer sair, mas só depois de deixar a colecção em boas mãos.

São 44 mil aves, ovos, ninhos, embriões, esqueletos e peles; 5.000 mamíferos; 1.000 anfíbios e répteis e 20 mil exemplares vegetais.

A colecção está na mira de muitos investigadores, pela riqueza e diversidade, também porque integra espécies em risco de extinção.

A colecção não está na totalidade em exposição, o que não é mostrável está acondicionado em rigorosas condições de preservação, sob pena de algumas das peças se perderem, o que seria "indesculpável", atendendo a que "não têm preço do ponto de vista científico de toda a informação que comportam", refere ao Expansão Fernanda Lage, enquanto lista as mais valiosas.

Independentemente da valiosidade da colecção, ao nível das melhores do mundo, ao longo das décadas algum material acabou por desaparecer.

Esta possibilidade "inquietou" Fernanda Lage, que procurou "tirar as peças do sítio onde estavam", dado o cariz perecível das mesmas.

Ministro da Cultura interessado no projeto

O Expansão falou do projecto ao ministro da Cultura, Turismo e Ambiente, que admitiu desconhecer a colecção, mas que tem todo o "interesse em detalhar a importância do mesmo".

Jomo Fortunato manifestou total abertura por parte do ministério que lidera para "acolher projectos desta envergadura que sejam de interesse científico e museológico para o País".

Fernanda Lage, responsável pelas colecções está neste momento a organizar um dossier para desencadear contactos com o Executivo para levar por diante a execução de um Museu, que pode "trazer a Angola os mais reputados investigadores destas matérias", admite.

Do projecto ao polo científico e tecnológico

Depois de sete anos a germinar, na mente e nas pesquisas de um grupo de investigadores e académicos, em Outubro de 2020 foi inaugurado o Centro de Ciência e Tecnologia do Lubango.

Estava dado o primeiro passo para a constituição de um polo científico, para desenvolvimento de competências tecnológicas, resultado da congregação de esforços entre o Governo da Huíla e as instituições de ensino superior da província.

O 'arregaçar de mangas' ocorreu em 2015, quando a Direcção do Caminho de Ferro de Moçâmedes se associou ao projecto, cedendo pavilhões, que depois de restaurados passaram a albergar as colecções biológicas na antiga Estação do Caminho de Ferro de Moçâmedes, edifício de 1923, classificado como património edificado de Angola.

Foi fundamental o financiamento do Governo provincial da Huíla, a parceria técnica de Soraia Santos, reputada técnica de museologia, ex-directora do Museu Etnográfico da Huila e de Maria João Chipalavela, vice-governadora da província.

No princípio a ideia era ter um espaço museológico para acolher as colecções biológicas do antigo Instituto de Investigação Científica de Angola, que estavam ao cuidado do Instituto de Ciências de Educação da Huíla, conhecidas como Herbário do Lubango e Museu de Ornitologia e Mamalogia do Lubango.

Em 2018, o Governo da Huíla fundiu as diversas valências num projecto comum, com instituições académicas e científicas da província, com vista ao desenvolvimento da prática científica no País, com o apoio do Museu de História Natural e Ciência e do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, ambos da Universidade do Porto, Portugal.

Um ano mais tarde, o Governo Provincial da Huíla envolve-se numa parceria científica e académica com a instituição de ensino superior do norte de Portugal, no âmbito da Cátedra UNESCO Life on Land.