A Ucrânia e o efeito borboleta
Foi preciso acender uma guerra no Leste da Europa, para muitos de nós ficarmos a saber duas coisas importantes: 1) afinal, a Ucrânia é um dos maiores produtores de trigo do planeta: 2) África não produz comida para os seus povos. Quem engendrou a guerra na Ucrânia como uma simples "operação especial" profiláctica no quadro da velha e milenar estratégia dos "quintais imperialistas", que já vem desde a Babilónia de Assurbanípal e da grande Roma de Júlio César, esqueceu-se que a interdependência do nosso mundo assenta no efeito borboleta.
Na verdade, a sociedade humana é hiper-sensível, e qualquer variação brusca nas condições inicias da sua estabilidade provoca o caos. A explicação mais simples defende que o bater de asas de uma simples borboleta num ponto qualquer do planeta pode provocar um tsunami nos antípodas. Esta situação faz-nos recuar a um passado remoto, quando o general romano Júlio César se deixou vencer pelas curvas ronronantes e faraónicas de Cleópatra, com quem teve dois filhos. O Egipto, já quase um deserto naquela época, era a maior potência mundial na produção de trigo, nas margens e no delta do Nilo.
A guerra fez inchar os preços dos alimentos. A segunda maior potência mundial e o país especialmente ocupado por ela desde 24 de Fevereiro exportam um terço do trigo, 55% do óleo de girassol e 17% do milho e da cevada que consumimos globalmente. Só para dar uma ideia da magnitude deste comércio, este ano, a Rússia e a Ucrânia tinham planificado exportar 16 e 14 milhões de toneladas de milho e trigo, respetivamente, conforme dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
*Jornalista, escritor e professor
(Leia o artigo integral na edição 678 do Expansão, de sexta-feira, dia 10 de Junho de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)