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Angola

Venda de bolsas académicas internas e externas é negócio de milhões

ESQUEMA ENVOLVE FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS

Chegam a cobrar 400 mil Kz para garantir uma bolsa de estudo interna e 2 milhões Kz para uma bolsa para estudar no estrangeiro. Direcção do INAGBE diz que nunca foram recebidas queixas sobre qualquer funcionário. Especialista recomenda terceirização do concurso para uma empresa idónea.

Estudantes universitários denunciam casos de alegados funcionários do Instituto Nacional de Gestão de Bolsas de Estudo (INAGBE) e de outras instituições público-privadas onde os trabalhadores têm direito a bolsas de estudos para os filhos, de estarem a comercializar, de forma clandestina, vagas que estas instituições têm para atribuir no ano lectivo 2024-2025.

Supostamente, a bolsa de estudo deve ser concedida a pessoas com menos de 25 anos de idade, e que tenham obtido desempenho positivo nos últimos três anos (ver caixa), entre outros requisitos. Mas, estão a ser comercializadas a preços que variam entre 400 mil Kz para as bolsas internas e 2 milhões Kz para as bolsas externas, constatou o Expansão junto de "micheiros" e de estudantes envolvidos neste esquema ilegal.

"Na minha universidade conheço pessoas que não reúnem o mínimo de requisitos para serem bolseiros. Por exemplo, tenho três colegas com mais de 30 anos de idade, trabalham e vêm para a escola com carro próprio, têm bons rendimentos, mas são bolseiros. Como é possível se esta vaga é para pessoas necessitadas?", protesta Sarafina da Piedade, estudante da Universidade Privada de Angola (UPRA), sublinhando que estes esquemas acabam por penalizar pessoas que realmente precisam e que deveriam ter acesso a estas bolsas.

Para os vendedores destas "facilidades" trata-se de um negócio bastante rentável que ajuda as duas partes. "As vagas são sempre inferiores ao número de concorrentes, devido às dificuldades económicas que são transversais no nosso País, onde o estudo é realmente muito caro. Cobro 400 mil Kz para facilitar e garantir uma bolsa", afirmou um dos vendedores que preferiu o anonimato.

No caso das bolsas externas, este processo é muito mais difícil de se concretizar para quem não reunir os requisitos estabelecidos no regulamento do INAGBE. Aqui, o esquema é um pouco diferente já que os "facilitadores" exigem que o candidato cumpra à partida as exigências do INAGBE para conseguirem "fintar" as regras. "Para bolsas externas só é possível se o candidato tiver os requisitos regulamentados, como a média de 14 valores, estar dentro da idade exigida, entre outros. Para isto, nos meus links onde fiz o negócio cobram 2 milhões Kz", revelou um estudante que está a poucos dias de viajar para Moscovo, na Rússia, onde vai frequentar o curso de Engenharia de Petróleo e Gás.

O Expansão solicitou esclarecimentos ao INAGBE, que respondeu não ter qualquer registo de queixas sobre funcionários da instituição envolvidos neste negócio. Refere que o acesso a bolsas de estudo é de caráter gratuito, não devendo os cidadãos pagar por qualquer serviço para ter acesso a uma bolsa de estudo. Reforça ainda a necessidade de se denunciarem tais práticas às autoridades competentes.

O director-geral do INAGBE, Milton Chivela, realça que está atento e caso seja detectado qualquer funcionário neste esquema será sancionado. "Em caso de um funcionário público ser considerado como prevaricador de algum procedimento administrativo, existe a possibilidade de o funcionário ser desvinculado da função pública", realçou.

O responsável explicou que os encargos financeiros para com os bolseiros internos são pagos directamente na conta bancária da Instituição de Ensino Superior, e caso haja algum valor remanescente, este é pago, sendo considerado como subsídio, directamente para a conta bancária do estudante.

Segundo apurou o Expansão, nestes casos em que o Estado paga os subsídios dos estudantes directamente para a conta da universidade, o candidato que conseguir a bolsa por via de um negócio garante o pagamento ao vendedor através destes valores remanescentes, considerados como subsídios de alimentação, transporte e outros que o Estado paga directamente na sua conta.

Leia o artigo integral na edição 787 do Expansão, de sexta-feira, dia 02 de Agosto de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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