FEVEREIRO: Inflação mensal acelera com o pior arranque dos últimos oito anos
Pior só mesmo em Janeiro de 2016, ano em que o Governo aumentou o preço da gasolina e em que se deu início a um ciclo de cinco recessões económicas. 2024 foi um ano de recordes negativos para a inflação, mas à medida que se aproximava o fim do ano essa pressão inflacionista foi desacelerando.
O ritmo de subida mensal do custo de vida a nível nacional acelerou 2,5% em Janeiro, de acordo com o Índice de Preços no Consumidor Nacional do Instituto Nacional de Estatística (INE), 1,7 pontos percentuais a mais do que o mesmo mês de 2023. Tratava- -se, assim, do pior arranque dos últimos oito anos - pior só mesmo em 2016 quando abriu com uma inflação mensal de 3,3%, o que se deveu, sobretudo, à subida dos preços dos combustíveis no primeiro dia do daquele mês
Em Janeiro deste ano, a inflação homóloga estava a subir há 9 meses consecutivos para 22,0%, o valor mais alto em 19 meses. Estava, assim, dado o mote para aquilo que seria o resto do ano: uma inflação a bater recordes negativos face aos anos anteriores, ainda que nos últimos meses do ano essa pressão inflacionista tenha abrandado ligeiramente.
Já a nível da capital do País, Luanda, a situação é ainda mais negativa, uma vez que a inflação mensal arrancou com 3,4% e a homólogo com 29,2%, precisamente o pior resultado em 91 meses (mensal) e 23 meses (homólogos). Chegou a bater nos 42,8% em Julho, o valor mais alto desde 2004, mas no final de Novembro era de 34,5%.
Olhando para este quadro, em que 2024 registou o pior arranque em termos de subidas de preços desde o mesmo mês de 2016, especialistas admitiam já naquela altura que o pior estaria mesmo para vir, até porque o Governo previa continuar com o processo de retirada gradual dos subsídios aos combustíveis, o que se verificou logo a 23 de Abril, mas apenas no gasóleo. "Quando for anunciado o fim dos subsídios aos combustíveis teremos uma realidade económica desastrosa, caso as autoridades não consigam estabilizar o mercado", advertia economista José Lopes ao Expansão.
O próprio Fundo Monetário Internacional (FMI) antevia para 2023 um quadro de aceleração da inflação face aos anos anteriores, sendo mais pessimista do que o Governo, uma vez que a instituição multilateral apontava inicialmente a uma inflação de 25,6%, quando o Executivo, no Orçamento Geral do Estado 2024, apontava a "apenas" 15,3%. Já o BNA estimava em 19%. No entanto, ao longo do ano acabaram por rever em alta essas projecções: FMI 28,4%; Governo 23,4% e BNA 27,0%.
Entretanto, de acordo com o relatório do INE sobre a inflação em Novembro (último dado disponível), a mensal foi de 1,6% e a homóloga de 28,4%. Como já bateu a previsão do FMI, é expectável que até ao final do ano seja ligeiramente superior aos 27,0%, um valor alto até tendo em consideração anos anteriores como 2022 (13,9%) e 2023 (20,0%).
E as causas da inflação alta no País são sempre as mesmas: procura superior à oferta, fraca produção nacional, dependência de produtos importados e desvalorização do kwanza face às principais moedas estrangeiras (dólar e euro).
Entre Dezembro e Novembro, os preços subiram mais nos sectores da Saúde (33,0%) transportes (28,9%), Vestuário e calçado (28,1%) Hotéis, cafés e restaurantes (27,6%) e Alimentação e bebidas não alcoólicas (27,1%), valores preocupantes já que a inflação é uma espécie de "imposto escondido" que "come" os rendimentos das famílias.
O comportamento dos preços ao longo do ano não surpreende, uma vez que a taxa de inflação tem sido afectada por medidas potencialmente geradoras de aumentos de preços, como a entrada em vigor da nova pauta aduaneira e o aumento do preço do gasóleo, na sequência da redução dos subsídios decidida pelo Governo. E há que ter em conta a desvalorização de que foi alvo o kwanza face ao dólar, já que o percurso crescente da inflação em Luanda e no País ocorreu precisamente após uma desvalorização profunda do kwanza em quase 40% verificada entre Maio e Junho do ano passado.