JANEIRO: Russos da Alrosa saem do capital social da Catoca e entra empresa de Omã
As sanções imposta à Rússia estavam a estrangular a empresa e a impactar o negócio dos diamantes angolanos. Um ano de conversas ao mais alto nível culminaram com a saída da Alrosa da Sociedade Mineira da Catoca. No entanto, não se conhecem nem os termos, nem os custos do "divórcio".
A 19 de Janeiro o Expansão fez manchete com o esforço do Governo angolano para que os russos da Alrosa aceitassem sair do capital da Catoca, o maior projecto diamantífero do País. No início do ano tinha havido uma reunião no Dubai entre as autoridades dos dois países, em que o nosso Governo "forçou" a saída dos russos, propondo um divórcio amigável entre as partes.
Em causa estavam as sanções que caiam sobre a Rússia e que limitavam a venda dos diamantes angolanos nos mercados internacionais, com um impacto significativo sobre as receitas do sector para a economia do País. Também esteve em Luanda nesta altura o ministro do Interior da Rússia, numa viagem que passou despercebida aos holofotes públicos.
A posição russa transmitida às autoridades angolanas foi clara, aceitavam sair mas queriam ser ressarcidos do investimento que tinham feiro durante os 29 anos em que estiveram ligados à empresa diamantífera. Já do lado angolano, a posição era de que o património era angolano e não era admissível estar agora a pagar contrapartidas, uma vez que a Alrosa já tinha beneficiado de muitos milhões de USD durante a sua presença em Angola.
Com o crescendo da intensidade das sanções que foram sendo decretadas ao longo do ano aos interesses económicos russos no mundo, alguns bancos recusaram trabalhar com a Catoca, e os nossos diamantes deixaram de estar presentes nos principais mercados europeus e americanos. O Dubai passou a ser o o local privilegiado para a comercialização dos nossos diamantes. Em Abril, o director geral da Catoca, Benedito Paulo Manuel, em entrevista ao Expansão, confirmava que as sanções impostas à Rússia estavam a impactar muito a vida da empresa, havendo inclusive alguns fornecedores que se recusavam a prestar serviços ou a vender equipamentos à empresa.
Em Maio deste ano, o vice-ministro russo das Finanças, Alexey Moiseev, falou pela primeira vez publicamente sobre este assunto, e revelou que as negociações para a saída da Alrosa estavam a desenvolver-se "numa direcção construtiva", e que o preço da participação da Alrosa em Catoca está a ser discutido com "investidores amigos". Admitiu que a saída era inevitável, uma vez que a Alrosa era um activo tóxico para o negócio dos diamantes angolanos. Sem avançar datas, voltou a reafirmar que a empresa estatal russa pretendia uma saída pacífica.
Em Outubro, uma fonte da empresa confirmou ao Expansão que pelo terceiro ano consecutivo a Alrosa não tinha conseguido repatriar dividendos para a Rússia, e o valor retido no País chegava aos 320 milhões USD. Foi também anunciado que havia negociações com a empresa sul-africana De Beers. Uma semanas mais tarde, foi o próprio ministro Alexey Moiseev que confirmou à agência russa Taas, que a Alrosa tinha rejeitado a oferta dos sul-africanos, porque entendiam que o proposto estava longe do que entendiam ser o preço justo pelos 41% que a Alrosa detinha na Sociedade MIneira da Catoca.
Foi depois do Conselho de Ministros de 28 de Novembro que o ministro Diamantino Azevedo veio anunciar que o casamento de 29 anos com a Alrosa tinha chegado ao fim e que os russos iam sair da empresa, abrindo a porta de entrada da Maaden International Investment, subsidiária do Fundo Soberano de Omã. Não foram revelados mais pormenores, nomeadamente os valor envolvidos, a forma de transição ou a composição accionista. Espera-se por isso que até ao final do ano possam ser conhecidos mais pormenores desta operação.