Sem apoio do governo as empresas de transportes interprovinciais fazem disparar preços dos bilhetes
Os transportes rodoviários interprovinciais estiveram paralisados durante 17 meses devido à pandemia, os custos operacionais elevados, a que se juntou o que chamam de "asfixia fiscal" devido à implementação da taxa de 14% do IVA e a falta de apoio financeiro por parte do Governo, apesar de prometido, aos operadores de transportes, levou a que os preços tenham disparado agora que se retoma gradualmente a actividade. Uma viagem de Luanda a Benguela, por estes dias, pode custar o dobro do valor pago no ano passado.
O Governo aprovou, através do decreto presidencial n.º98/20, de o Abril, um conjunto de medidas de alívio económico, e para o sector dos transportes terrestres destinou 488 mil milhões de kwanzas, mas o presidente do conselho de administração da Macon diz que as empresas não viram nem um vintém.
Luís Máquina, em conversa com o Expansão, revelou que no ano passado enviaram cartas aos ministérios das Finanças, da Economia e Planeamento e dos Transportes, a solicitarem apoio financeiro a fim de verem a situação das empresas do sector aliviada, mas, na prática, nada aconteceu.
"O governo tinha disponível 488 mil milhões Kz para financiar empresas de vários sectores, sendo os transportes um segmento importante para alavancar a economia, porquê que não fomos contemplados?", questiona o PCA da Macon.
Depois de meses de paralisação devido à cerca sanitária imposta a Luanda em Março do ano passado, o que aconteceu a partir do dia 1 de Setembro, a Macon voltou a ligar a capital a outras províncias, mas aumentou de força significativa o preços dos bilhetes.
"Somos obrigados a transportar 75% da lotação dos autocarros com capacidade para 50 lugares, quando os aviões da TAAG transportam 100%. Quem vai pagar os outros 25%? O utente é o maior sacrificado", admite Luís Máquina, e prossegue, "apesar de termos dois serviços, com o transporte urbano de passageiros, o interprovincial representa cerca de 80% da facturação da empresa. Com a paralisação deste serviço, ficámos com as contas no vermelho".
O responsável da Macon acrescentou que os custos operacionais elevados são também o resultado do mau estado das estradas nacionais, das dificuldades da aquisição de peças no mercado internacional, devido a variação cambial, entre muitos outros.
Uma outra empresa, a AngoReal, e de acordo com um funcionário que falou com o Expansão sob anonimato, os preços actualmente praticados poderão sofrer alguma redução, caso haja algum apoio do governo ou um acordo para a suspensão temporária dos impostos às empresas de transportes interprovinciais.
A fonte acrescenta que a empresa está com muitas dificuldades para pagar as contas, e este ajuste nos preços das tarifas dos bilhetes poderá trazer algum alívio às contas da operadora de transportes.
"Neste momento, ainda temos dívidas com os trabalhadores, com salários em atraso, devido à situação financeira da empresa que não é saudável", partilhou.
O Expansão fez um períplo pelas ruas de Luanda, passando pelos terminais de passageiros das operadoras Macon e AngoReal, e constatou que os preços dos bilhetes sofreram efectivamente um aumento significativo.
Para a rota Luanda/Benguela, o preço do bilhete de passagem cobrado pela operadora Macon aumentou 38%, para 14.300 Kz contra os anteriores 8.900 Kz. Se sair da capital para a província da Huíla, o preço também disparou de 18.900 Kz para 25.900 Kz, um aumento de 27%. Para a província do Huambo o preço do bilhete de passagem passou de 12.300 Kz para 15.100 Kz, um aumento de 19%.
Os preços dos bilhetes praticados pela operadora Ango Real também sofreram alterações. Para sair de Luanda para Benguela, os passageiros têm que desembolsar 14.300 Kz, contra os anteriores 6.500Kz, antes da pandemia da Covid-19, ou seja, o bilhete mais do que duplicou de preço.
Na rota Luanda/Huambo o preço do bilhete custa 15.100 Kz, quando no primeiro trimestre do ano passado custava 7.500 Kz. Neste momento, a empresa trafega apenas para dois destinos (Benguela e Huambo).
Em Luanda, existem outros terminais informais de transportes de passageiros e carga onde os automobilistas praticam os preços das passagens em função da procura.
Muitos passageiros foram surpreendidos com os ajustes das tarifas dos bilhetes de passagem e, disseram ao Expansão que antes do levantamento da cerca sanitária da capital, já pagavam valores avultados para viajar de e para Luanda.
Por não terem outras opções, alguns passageiros disseram que vão continuar a viajar com as operadoras de transportes no mercado, apesar dos preços, mas esperam que nos próximos tempos, o Governo tome alguma medida em relação à redução dos preços dos bilhetes, tal como o fez com a suspensão temporária de impostos aduaneiros em alguns produtos da cesta básica.