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Opinião

"Mandioca: O potencial complemento à produção de petróleo em Angola"

Convidado

A economia de Angola é ainda muito dependente da produção do petróleo. Até 2020, mais de 30% do total da produção do País estava concentrada na exploração do petróleo. Esta realidade tem vindo a mudar, se bem que não à velocidade e com a profundidade que se deseja.

E, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), em 2023, o PIB petrolífero de Angola poderá representar apenas 24% do PIB total, o equivalente a 19 mil milhões USD, enquanto o remanescente será do sector não petrolífero.

Nestes termos, o desafio passa por identificar um sector alternativo ao petróleo que seja capaz de suportar o processo de transformação estrutural da economia e ajude na rápida diversificação das exportações de Angola.

Contudo, a diversificação não poderá ser feita de forma abrupta e sem a participação efectiva das milhares de famílias que vivem em condições de indigência pelo País. Poder-se-á eternizar as desigualdade sociais e regionais do País, por tal intento. Por outro, é necessário que alguns produtos, pelas suas vantagens comparativas e pelo seu potencial económico e social, mereçam atenção especial de modo a serem uma mola impulsionadora dos outros.

E, aqui, a produção da mandioca seria uma boa alternativa. Primeiro, porque temos uma produção relevante pelo País. Segundo, porque temos um mercado enorme na Zona de Livre Comércio Africana para suportar um potencial excedente de produção. Terceiro, porque temos de ter urgência em incrementar os níveis de produtividade da cultura para contribuir para melhorar a condição de vida das famílias que trabalham com a cultura e libertar poupança para outros sectores a montante - Pequena e média indústria transformadora. Quarto porque é uma cultura do interior do País, logo com potencial para reduzir as assimetrias regionais.

Em suma, a mandioca é uma cultura com potencial de aumentar a renda das famílias de baixo rendimento, incrementar a inclusão social, reduzir os níveis de pobreza pelo País e com fortes possibilidades de exportação.

Devo notar que, actualmente, a produção da mandioca em Angola está avaliada em 2,99 mil milhões USD, reflexo de uma área plantada de 945 mil hectares e 9 milhões de toneladas colhidas, com um preço médio de 100,8 Kz/Kg, segundo dados da campanha agrícola 2018/2019 do Ministério da Agricultura e Pescas. Neste nível, em termos brutos, os valores já se apresentam robustos e estão mesmo acima da produção bruta de alguns sectores da economia.

E mais. Com base no tipo de produção predominante - Produção de Unidades de Exploração Familiar (UEF) com uma concentração de 94% da produção total -, existe espaço para que a mesma aumente e consiga posicionar-se de forma mais consistente, sendo que, para a presente campanha agrícola, por exemplo, o Ministério da Agricultura aponta uma produção de 11 milhões de toneladas, que, se verificados, deverão representar um incremento de 22% face ao nível apurado na campanha agrícola 2018/2019, níveis de produção que podem muito bem ser capitalizados, tendo em conta o que pode ser feito:

Primeiro, vontade política de querer ver a mandioca como um produto relevante na economia do País. Dar à mandioca a mesma relevância política e estratégica que o petróleo teve nos últimos anos seria uma condição fundamental. E essa vontade pode ser materializada com a definição de um regime fiscal e cambial à altura - Com calendarização e prazos bem definidos para não criar comodismo no sector - e investimentos em infraestruturas de armazenamento e de distribuição consistentes.

Segundo, na redução da atomização do mercado. De acordo com o relatório do Ministério da Agricultura referente à campanha agrícola 2018/2019, perto de 94% da produção da cultura foi realizada pelas UEF. Este facto impõe desafios à canalização de financiamentos para a aceleração da produção. Neste quesito, urge a necessidade de revitalizar instituições como a UNACA para que junto das famílias consigam
estruturar cooperativas da mandioca e facilitar o diálogo com o sector bancário na estruturação de produtos financeiros alinhados às necessidades objectivas dos produtores/camponeses.

*Economista

(Leia o artigo integral na edição 612 do Expansão, de sexta-feira, dia 19 de Fevereiro de 2021, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)