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Opinião

Vergonha

Editorial

Hoje não vou escrever sobre o major obcecado por sapatos que nas horas vagas coleccionava carros de luxo, nem na luta contra os fantasmas da presidência, preciso centrar a minha escrita naquilo que vai transbordando em todas estas histórias, falta de respeito pelo País e pelas pessoas. Esse espírito arrogante, que durante anos deu a uma classe mais iluminada a impunidade necessária para fazerem o que lhes apetece, beneficiar das riquezas que são de todos, e ainda nos encherem os ouvidos de que são mais angolanos e mais patriotas que nós todos. Essa forma de olhar para o próximo sem reconhecer que do outro lado está ali um ser humano, que tal como estes "super-heróis", também sente, ri, chora e, já agora, come e gosta de divertir-se. Não impressiona os milhões, os mil milhões ou os biliões, impressiona-me é a falta de respeito e humanismo. Como é que foi possível deixar esta gente engordar desta maneira de forma impune sem que que se tenha feito nada?

Não perceber que todas as forças armadas, que todos os políticos, que todos os dirigentes ficam com a imagem manchada junto do cidadão comum, é não perceber o que se está a passar. Fazer destas barbaridades shows televisivos é pôr todas as instituições em causa, é deitar abaixo a credibilidade do País, das pessoas envolvidas, mas também dos que estão nos lugares onde estes estavam. Até porque quase todos, com excepção de alguns jovens, já estavam nas estruturas do poder e no tempo certo não disseram nada. No final deste enorme espectáculo, todos vão sair com as barbas queimadas. Mas, pior, vai sair também Angola.

Que imagem e que valores estamos a passar aos mais jovens quando se colocam pessoas que gozam de algum prestígio social a fazer estas coisas? Alguém acredita que daqui para a frente alguém vai acreditar na defesa do segredo de justiça quando se mostram páginas dos relatórios da investigação, quando se tornam públicos trechos das acusações e provas que serão usados nos processos muito antes dos julgamentos?

São danos irreparáveis na imagem do País e, ao contrário do que alguns querem acreditar, não nos vão olhar como um Estado que combate a corrupção, antes como um "povo"de malfeitores que tem como objectivo roubar o que puder, safar-se, cada um por si, sem valores, e de que é necessário desconfiar sempre. Basta ouvir os comentários de alguns embaixadores acreditados em Luanda ou de técnicos estrangeiros que vivem por aqui. Qualquer cidadão honesto e de bom senso, depois destes episódios, não sente satisfação, sente vergonha. Muita vergonha!