Petróleo safa exportações e importações afundam pressionando a inflação
O acesso a divisas acabou por ditar a queda das importações. Menos oferta para uma procura que aumenta todos os anos faz com que a batalha para combater a inflação seja um exercicio duro. Em seis meses apenas foram exportados 55,6 milhões USD em alimentos, pelo que a diversificação anda, mas devagarinho.
As exportações de mercadorias angolanas cresceram 7%, ao passar de 16.991,0 milhões USD no primeiro semestre de 2023 para 18.215,4 milhões nos primeiros seis meses deste ano, um aumento de 1.224,4 milhões USD. Mas se as exportações aumentaram, o mesmo não aconteceu com as importações, já que estas encolheram 1.327,3 milhões USD para 6.453,1 milhões, de acordo com cálculos do Expansão com base nas estatísticas externas do Banco Nacional de Angola (BNA). Desvalorização e acesso difícil a divisas explicam a quebra nas importações.
O aumento das exportações deve-se, essencialmente, às vendas do sector petrolífero (petróleo, refinados e gás) lá para fora, sector que exportou mercadorias no valor de 17.174,5 milhões USD, equivalente a 94% das exportações angolanas neste período. Dentro do sector petrolífero, a venda de petróleo bruto atingiu 16.041,2 milhões USD, o que representa um crescimento de 13,2% face aos 14.174,3 milhões registados no I semestre do ano passado (+1.866,8 milhões USD). Pesou para o crescimento das receitas brutas com a exportação não só o aumento dos barris exportados, que passaram de 183,3 milhões de barris para 193,1 milhões de barris (+9,9 milhões de barris), mas também do preço, cuja média passou de 77,4 USD para 83,8 USD.
Mas se a exportação de crude cresceu, o mesmo não aconteceu com o gás, cujas receitas com as vendas lá para fora afundaram 37,6%, ao passar de 1.553,1 milhões USD no I semestre do ano passado para 969,5 milhões USD, ou seja, menos 583,7 milhões USD. O volume de gás exportado caiu 24,2% para o equivalente a 16,4 milhões de barris (-5,2 milhões de barris), enquanto o preço médio de exportação também diminuiu (-18,4%), ao passar de 72,1 USD para 58,8 USD, de acordo com os dados do BNA.
Já o sector dos minérios e minerais, que vale 4% das exportações angolanas, viu as vendas para o estrangeiro encolherem 4,5%, ao passar de 793,2 milhões USD para 757,7 milhões, equivalentes a 5,5 milhões USD. Os diamantes valem 93,2% das exportações do sector minérios e minerais.
Quanto aos restantes sectores (ver gráficos) valem apenas 2% das exportações angolanas. Destaque para a exportação de bens alimentares que representaram apenas 55,6 milhões USD, apenas mais 410 mil USD do que foi verificado no mesmo período do ano passado. Os dados do BNA demonstram, assim, que a petrodependência da economia angolana está para durar, ao mesmo tempo que a diversificação económica tarda em dar sinais relevantes.
A contrastar com a subida das exportações estão as importações, que caíram 17,1%, ao passar de 7.780,4 milhões USD do I semestre de 2023 para 6.453,1 milhões USD no mesmo período de 2024. Foram importados menos -1.327,3 milhões USD em mercadorias. O BNA "arruma" as importações de mercadorias em três categorias: bens de consumo corrente (como alimentos, produtos de limpeza e higiene pessoal, electrodomésticos); em bens de consumo intermédio (produtos utilizados no processo de produção de produtos acabados); e os bens de capital (máquinas, ferramentas e equipamentos).
E a "culpa" do afundanço nas importações deve-se à queda nas compras de bens de consumo corrente ao estrangeiro, já que passaram de 4.943,7 milhões USD para 3.860,4 milhões (-21,9%), ou seja, menos 1.083,2 milhões USD. Quanto aos bens de capital, foram gastos menos 222,9 milhões USD na importação de equipamentos utilizados para a produção nacional. Por fim, a importação de matérias-primas para a indústria (bens de consumo intermédio) registou uma queda de 2,2%, menos 21,2 milhões USD.
As dificuldades em aceder a divisas por parte dos importadores acabou por ditar a queda das importações, a que se associa também uma queda do consumo provocada pela alta de preços que ainda se regista no País. Só para se ter uma ideia, em Junho a inflação homóloga em Luanda atingiu o valor mais alto em duas décadas ao bater nos 42,8%, enquanto a nível nacional era de 31,0%. Segundo especialistas, esta inflação descontrolada deve-se, essencialmente, à fraca oferta de produtos (que resulta da queda das importações e da fraca cobertura da produção nacional, que também depende das importações de matérias-primas) e ao facto de a moeda nacional estar hoje muito desvalorizada, em que o câmbio médio do período do dólar foi de 836,3 Kz e o do euro foi de 904,2 Kz.
Leia o artigo integral na edição 793 do Expansão, de sexta-feira, dia 13 de Setembro de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)