Garantias de riscos são a chave para destravar o acesso
Especialistas entendem que a construção de um sistema financeiro mais inclusivo exige que o crédito chegue às micros, pequenas e médias empresas, às cooperativas e aos jovens empreendedores. Números do INAPEM revelam que estão certificadas 40.144 microempresas, 3.328 pequenas e 2.886 médias empresas.
Os bancos comerciais ainda restringem o acesso ao crédito às Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPMEs) e aos projectos produtivos por falta de garantias de risco e outros requisitos que definem a concessão de crédito. A exclusão do financiamento a esses segmentos é um dos desafios enfrentados pelo sector empresarial, que precisa de ser melhorado para que o País alcance o desenvolvimento sustentável, apontaram especialistas do sector financeiro durante o XIV Fórum Economia & Finanças, promovido pela Associação Angolana de Bancos (ABANC), que debateu o tema "Financiamento à Economia: Desafios e Caminhos para um Sistema mais Eficiente e Inclusivo".
Assim, os especialistas entendem que a construção de um sistema financeiro mais inclusivo exige que o crédito chegue às micros, pequenas e médias empresas, cooperativas, aos jovens empreendedores e iniciativas que fazem a economia crescer a partir das comunidades.
O director de acompanhamento de recuperação de crédito do Banco de Fomento Angolano (BFA), Eduardo Mateus, explicou que a intermediação financeira tradicional ligada a situações estruturais do sistema financeiro, ao perfil do cliente, regulamentação, falta de literacia e de inclusão financeira, bem como a falta de garantias de riscos são os principais entraves na concessão de financiamento as MPMEs.
"Continuamos com desafios de formalizar as garantias ou registar os imóveis, e isso faz com que as MPMEs e outros projectos produtivos sejam excluídas do acesso ao financiamento", sustentou Já a administradora Executiva do BAI, Inokcelina Santos, diz que o problema da banca angolana não é o dinheiro. "A banca tem condições de financiar à economia, mas precisa desburocratizar e baixar as suas exigências, mas mantendo o controlo das garantias de risco" declarou.
Contudo, a responsável entende que "qualquer economia deve olhar para as MPMEs como motor de desenvolvimento sustentável".
Por sua vez, Bráulio Augusto, o PCA do Instituto Nacional de Apoio às Micro, Pequenas e Médias Empresas (INAPEM), garantiu que o País só terá empresas fortes se haver um mercado capaz de atender as suas necessidades, e que permita que as empresas, sobretudo as MPMEs tenham acesso ao financiamento. "Nós ainda vemos MPMEs com dificuldades de acessar ao financiamento, e isso não é pela falta de instrumentos financeiros, mas por falta de coordenação" declarou. "Não é só a banca que precisa ter confiança nas empresas, elas também precisão ter a confiança de que não haverá tanta burocracia na cedência do crédito quando essas cumprem com os requisitos exigidos para obter financiamento", acrescentou.
Crédito cresce, mas ainda é insuficiente
De acordo com os dados do BNA, o stock de crédito à economia cresceu 21,9% para 7,06 biliões Kz em Outubro face ao período homólogo, valor que ainda continua abaixo das necessidades de financiamento das várias empresas que precisam de dinheiro para impulsionar as suas actividades.
O crédito tem rivalizado com os títulos de dívida pública, que, no fundo, são os instrumentos mais apetecíveis e responsáveis pelos lucros da banca (ver página 2).
Ainda assim, o secretário de Estado para o Investimento Público, Ivan dos Santos, que foi um dos oradores do evento, apontou que o Governo reconhece o esforço da banca nacional "num contexto desafiante" e encorajou "a consolidação e ampliação deste papel estratégico para o desenvolvimento de Angola". Apesar da sinalização de uma trajectória de recuperação, Ivan dos Santos, afirmou que o crescimento da economia "precisa de ser aprofundado e, sobretudo, ampliado ao sector não petrolífero, que é a base da diversificação económica e criação de emprego", ao mesmo tempo que defende a inclusão financeira como uma plataforma indispensável para gerar empregos, aumentar a produtividade e reduzir as desigualdades regionais.
"Os bancos têm desenvolvido e implementado muita inovação, em termos de instrumentos financeiros para apoiar a nossa economia, o nosso empresariado. Temos também o Fundo de Garantias de Crédito, que tem implementado alguns instrumentos inovadores para servir de mitigação de risco a quem vai financiar os nossos empresários", realçou.
Já Mário Nascimento, presidente da Associação Angolana de Bancos (ABANC), apontou que a relação entre a ABANC, o BNA e o Governo têm contribuído para a criação de maior inclusão financeira, o que tem permitido o acesso a serviços financeiros e bancários à população.
"Ainda assim, é necessário melhorar a intermediação financeira, diversificar instrumentos de financiamento, melhorar o papel das políticas públicas para alinhar incentivos e criar com urgência um ecossistema de financiamento mais inclusivo, sustentável e orientado ao desenvolvimento do sector produtivo", rematou.
Os números do INAPEM revelam que estão certificas em todo País, cerca de 40.144 microempresas, 3.328 pequenas e 2.886 médias empresas, bem como 292 start-ups e 62 incubadoras.











