Sol, Económico e BPC foram os bancos com mais reservas levantadas pelo auditor externo
Ao Sol foram levantadas 11 reservas, seguido do Económico com 10. Já o BPC reduziu de 13 para 4 reservas. Deloitte auditou contas de 8 dos 19 bancos, detendo 42% da quota de mercado da auditoria à banca angolana.
Entre os 19 bancos que apresentaram os relatórios e contas de 2024, o Banco Sol foi a instituição bancária que registou o maior número de reservas do Auditor externo às suas contas. Depois de ter trocado de auditor externo (Crowe em 2023 para EY em 2024), o banco passou de duas para 11 reservas às contas de balanço, seguido do banco Económico com 10 e o BPC que registou quatro reservas.
As reservas do banco Sol estão ligadas ao crédito, reavaliação dos imóveis, investimento em filiais, bem como a formalização do procedimento de controlo interno que asseguram a conciliação regular de saldos activos e passivos do banco. Destaque para a carteira de crédito patrimonial e as responsabilidades extrapatrimoniais relativas a créditos documentos e garantias e avales prestados a clientes que ascendem aos 131,4 mil milhões Kz e 6,8 mil milhões Kz. "Constatamos que o processo de revisão, apuramento e registo de perdas por imparidade individual e colectiva ainda se encontra em curso e não nos foi possível obter informações suficientes e apropriadas sobre os parâmetros de risco considerados na estimativa das perdas por imparidades em 31 de Dezembro de 2024", aponta o auditor, afirmando que, consequentemente, na ausência de informação que permitisse ultrapassar esta limitação, não foi possível concluir quanto aos efeitos da mesa na quantificação das perdas por imparidade de créditos e outras contas a receber acumuladas e nas provisões.
Tal como avançou o CEO, Osvaldo Macaia, em entrevista ao Expansão, o banco tem um crédito malparado na ordem dos 51% e vai vender também imóveis avaliados em 30 mil milhões Kz.
O Sol iniciou, este ano, um novo ciclo estratégico com a aprovação, pelo Banco Nacional de Angola (BNA), do seu Plano de Recapitalização e Reestruturação (PRR) 2025-2027. Entre as novas medidas, estão o aumento de capital por parte dos accionistas, o encerramento de agências com baixa rentabilidade e a redução de 30% dos trabalhadores, segundo avança o banco. Ainda dentro do plano de reestruturação consta a reorganização da estrutura operacional, o reforço da recuperação de crédito malparado e da captação de novos depósitos, bem como a alienação de activos imobiliários não essenciais.
Por outro lado, as demonstrações financeiras do Banco Económico voltaram a ser alvo de várias dúvidas por parte do auditor externo. A Deloitte levantou 10 reservas, com destaque para os saldos relacionados com os imóveis recebidos na operação (entretanto revertida) com a Investpar (antigo Grupo ENSA), contratos de transmissão dos direitos económicos de operações de crédito e de unidades de participação em fundos de investimento imobiliários, bem como os contratos de cessão de outros activos detidos pelo banco. O auditor ainda levanta dúvidas sobre tem o aumento de capital, já que "não obteve informação dos termos em que as necessidades de um aumento de capital poderão ser concretizadas", sendo que as mesmas ainda poderão ser condicionadas por outros factores que não estão sob o controlo do Conselho de Administração do banco, entre os quais, a evolução cambial que, considerando a posição cambial em que o Económico se encontra, num cenário de desvalorização do Kwanza, poderá resultar em necessidades adicionais de capital. Os desequilíbrios que se têm verificado nos níveis de liquidez do banco que "condicionam o cumprimento de algumas das suas responsabilidades, incluindo a capacidade de movimentação pelos clientes dos seus depósitos", também foi outra reserva levantada pelo auditor externo.
Já o BPC limpou 9 das 13 reservas levantadas em 2023, ficando ainda com 4 reservas levantadas em 2024. No fundo, o auditor externo (também a Deloitte) volta a bater nas mesmas teclas e nas reservas mais importantes, que incidem sobretudo sobre dificuldades em confirmar saldos, pelo que este não é apenas um problema do BPC, já que acontece com inúmeras outras instituições.
Contudo, a Deloitte explica que a continuidade do banco vai depender do apoio do Estado. "A adequacidade do pressuposto da continuidade das operações do Grupo depende da continuidade do apoio dos seus accionistas, do sucesso da implementação do Plano de Modernização de Sistemas de Informação ("PMSI"), da concretização do plano estratégico 2024/2027 e das suas operações futuras", lê-se no relatório.
Ainda dentro dos bancos com reservas levantas pelo auditor independente está o BNI com três reservas e o Yetu com uma. Contas feitas dos 19 bancos com contas publicadas, cinco tiveram reservas do auditor externo.