Angola em risco de não poder vender mais diamantes no mercado europeu
Os fornecedores externos de Catoca estão a recuar e os bancos não querem trabalhar com a maior diamantífera angolana, que explora o quarto maior kimberlito do mundo. As sanções às empresas e diamantes russos estão na base de muitos fornecedores importantes questionarem a parceria de Angola com a Alrosa.
A ideia de que Angola corre sérios riscos de perder o mercado europeu para a venda de diamantes está a agitar os industriais do subsector dos diamantes. Tudo porque, no início de Março, a União Europeia activou o sistema de rastreio à importação, aquisição ou transferência directa ou indirecta de diamantes provenientes da Rússia. Esta proibição aplica-se aos diamantes originários da Federação Russa, exportados da Rússia, em trânsito pela Rússia e aos diamantes russos quando transformados em países terceiros.
A questão que está a gerar "confusão" é o entendimento de que os diamantes produzidos em Angola, sobretudo os da mina de Catoca, são da multinacional russa Alrosa, empresa sancionada pela União Europeia, no âmbito da invasão russa à Ucrânia. A explicação europeia é de que a medida aplica-se directamente aos diamantes naturais e sintéticos não industriais, bem como aos diamantes para joalharia de origem russa.
Fontes do Expansão junto do Processo Kimberly (PK), indicaram que esta interpretação está a gerar um grande desconforto e lembram que os diamantes da Sociedade Mineira de Catoca não são diamantes russos, mas angolanos.
"Os diamantes são angolanos e não russos, como tem sido propalado. O PK é um órgão de certificação de diamantes em que a Rússia participa em mais de 50 países. A empresa russa Alrosa é operadora na mina de Catoca e tem uma participação indirecta na Sociedade Mineira do Luele. É contraditório afirmar que os diamantes de Catoca são russos e não podem ser comercializados em nenhum país europeu", disse a fonte, garantindo, desde já, que há três anos que a Europa (Bélgica) deixou de ser o maior destino das exportações de diamantes angolanos.
"Nos últimos três ou quatro anos, o maior destino dos diamantes angolanos tem sido os Emirados Árabes Unidos (EAU) e não a Bélgica. A explicação é simples: a Europa e os Estados Unidos da América têm se debatido com níveis de inflação e juros muito altos e isto inibe os consumidores na procura de produtos de luxo, com destaque para os diamantes. As empresas angolanas do segmento dos diamantes têm preferido o Médio Oriente para vender a sua produção", explica a fonte do Expansão.
A parte angolana tem tentado explicar que impor sanções aos diamantes produzidos pela Catoca não seria a melhor medida, porque a Alrosa é sócia da Endiama e o que os sócios repartem, não é o produto, mas sim, os dividendos resultantes das vendas da produção. No entanto, a nossa fonte admite que a presença da empresa estatal russa Alrosa no mercado angolano tem sido bastante contestada por vários círculos externos, por entenderem que é uma das companhias que está a contribuir no financiamento da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
Saída da Alrosa de Angola
Apesar das dificuldades nas negociações entre Angola e Rússia, a saída da Alrosa do mercado angolano é o cenário mais provável, sendo que agora as conversações estão a ser feitas ao mais alto nível, entre as presidências dos dois países.
Uma fonte junto do processo negocial garantiu ao Expansão que as conversações entre a parte angolana e russa foram inconclusivas, ou seja, os russos não querem largar as operações na Sociedade Mineira de Catoca, em Saurimo, na Lunda Sul, mas o certo é que caberá ao Presidente da República a última palavra, tendo em conta o "imbróglio" diplomático causado entre os dois países.
A fonte sublinha que a parte angolana defende uma saída amistosa, ou seja, que os russos partam, sem colocar entraves, para que os diamantes angolanos não entrem na lista negra da União Europeia, que apesar de tudo tem sido um bom mercado para as gemas angolanas. No entanto, os russos têm como entendimento que devem receber o valor dos investimentos que foram feitos na mina ao longo dos anos.
Leia o artigo integral na edição 767 do Expansão, de sexta-feira, dia 15 de Março de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)