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Carros chineses e indianos arrasam vendas de marcas tradicionais

CRISE ARRASA VENDAS NO I SEMESTRE

O pessimismo é cada vez maior no seio das concessionárias das marcas tradicionais, porque os indicadores da economia não são positivos. Quem hoje compra uma viatura nova, por norma, já prefere uma marca chinesa ou indiana, motivado pelos preços muito mais em conta. Só os órgãos do Estado são mais avessos.

Há cada vez mais angolanos a comprar viaturas importadas na Índia e na China, com preços mais em conta, deixando para trás as marcas tradicionais, que depois de um ano em crescimento em 2023, preparam-se para o pior em 2024. É sobretudo o factor preço que leva à tomada de decisão.

As vendas de carros novos nas concessionárias tradicionais, membros da Associação dos Concessionários de Equipamentos de Transporte Rodoviário e Outros (ACETRO), no primeiro semestre de 2024 equivalem apenas a cerca de 30% do total de veículos vendidos em todo o ano de 2023. Entre Janeiro e Junho, de acordo com as contas do Expansão com base nos dados da ACETRO, os concessionários venderam apenas 2.114 veículos novos de diversas marcas e categorias, enquanto no ano passado foram vendidos, um total de 6.982 unidades, pelo que nada faz antever que a situação vá melhorar até ao final do ano.

Num país onde ano após ano as famílias têm vindo a perder poder de compra, devido à alta inflação provocada pela forte desvalorização cambial, que não é compensada por aumentos salariais, é normal que o factor preço esteja hoje a pesar na hora de decidir, admite o presidente da Associação dos Concessionários de Equipamentos de Transporte Rodoviário e Outros (ACETRO), Nuno Borges, que ainda assim não deixa de lembrar que a exportação de viaturas chinesas é bastante apoiada pelo governo daquele país, o que permite às construtoras do gigante asiático apresentar preços muito competitivos nos mercados. "Não podemos deixar de referir que as políticas de apoio do governo chinês à exportação permitem uma redução de custos que, adicionados ao seu impacto no pagamento de taxas de importação, poderá permitir-lhes uma maior vantagem competitiva".

Ainda assim, Nuno Borges considera que as marcas tradicionais se diferenciam a relação às outras sobretudo pela qualidade comprovada e assistência técnica consistente. Ou seja, praticamente só perdem no preço.

Segundo uma fonte da Daimic e Changan, nos últimos dois anos, o facto de as vendas de carros chineses e indianos terem aumentado permitiu a muitas empresas angolanas sobreviverem à crise cambial que o País atravessa, e equipar as suas frotas automóveis, garantindo competitividade. No entanto, não esquece que as marcas tradicionais ainda continuam a ser a preferência para as entidades protocolares da administração pública e do funcionalismo público. Tudo a seu tempo, admite.

Os indicadores divulgados pela ACETRO mostram um semestre tímido, o que indicia uma retracção do consumo. O recuo é justificado, segundo o presidente da ACETRO, pelo arrefecimento da economia e pela queda brutal do poder de compra dos angolanos. No entanto, não esquece que "as perspectivas da ACETRO para 2024 são bastante pessimistas face às limitações em moeda estrangeira para pagamento a fornecedores". Nas entrelinhas, Nuno Borges faz entender que a problemática cambial tem vindo a agravar a vida de muitas empresas ligadas ao mercado automóvel em Angola.

Lembra, por outro lado que os membros da ACETRO vivem um sentimento de imprevisibilidade e de pessimismo do que resulta uma forte contenção nos custos e adiamento de investimentos com significativo impacto no emprego e na queda de receitas fiscais.

Ainda sobre a retracção das vendas de veículos novos, outra fonte revelou que as incertezas sobre a evolução da economia, no curto prazo, também estão a impactar nas contas das empresas e também das famílias, que gastam cada vez mais dinheiro em bens primárias como alimentação ou saúde, restando pouco para outro tipo de despesas, como a compra de uma viatura nova.

Nuno Borges admite que se tudo continuar como está, com as empresas concessionárias a terem dificuldades para aceder a divisas, várias empresas deste sector deverão fechar portas. Para já, os indicadores apresentados apontam uma inversão no crescimento do sector automóvel das concessionárias da ACETRO nos últimos três anos, mas ainda assim, o ano de 2020 continua a ser considerado como o pior desde que há registos, muito longe daquele que foi o melhor ano, 2014, quando foram vendidos 44.536 viaturas novas no País.

Em termos globais, segundo disse, "não existe recuperação do mercado automóvel em Angola." "Em 2023 tivemos um crescimento de cerca de 45% em relação a 2022, o que se traduziu num certo optimismo mas, infelizmente, foi frustrado a partir do segundo semestre de 2023 [afundanço do kwanza], tendo-se agravado em 2024 com a cada vez maior escassez de moeda externa, perspectivando-se uma queda nas vendas em cerca de 35 a 40% em 2024 comparativamente a 2023", disse, Nuno Borges.

Leia o artigo integral na edição 786 do Expansão, de sexta-feira, dia 26 de Julho de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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