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Empresas & Mercados

Condições económicas, literacia financeira, informalidade e regulador atrasam sofisticação

MODELO DE NEGÓCIO DOS BANCOS ESTÁ A MUDAR

A conjuntura económica social do País, caracterizada por dificuldades financeiras enormes e uma acentuada falta de literacia digital, não permite uma aposta mais forte na sofisticação e aproximação dos produtos e serviços bancários aos clientes, como acontece um pouco por todo o mundo.

Numa altura em que o modelo da banca tradicional começa a estar ultrapassado devido à evolução da tecnologia, o XIV Fórum Banca do jornal Expansão juntou, no dia 19 de Julho, operadores do sector para discutir a "Sofisticação e o futuro da banca em Angola: novos produtos e serviços". Entre as várias dificuldades apresentadas na mesa redonda, destacam-se a falta de taxação das operações dos clientes bancários e a resistência do órgão regulador à inovação, como as principais barreiras para promover maior investimento em novos produtos e serviços, e uma maior bancarização da economia angolana.

Importante acrescentar que a sofisticação obriga a custos elevados que, nesta altura, não podem ser suportados pelas famílias angolanas que passam por enormes dificuldades financeiras. Para Luís Gonçalves, presidente do conselho executivo (PCE) do Banco de Fomento Angolano (BFA), não há capacidade de crescer no negócio do banco assente na forma tradicional. Um modelo que não permite, por exemplo, a cobrança de comissões aos clientes mass market (mercado das massas). Ou seja, dos 16 milhões de clientes que existem, só devem existir 10% de maior rendimento, ou conhecidos por affluents, e empresas, um número muito reduzido.

"Se a regulamentação não mudar vai ser complexo para alguns bancos conseguirem garantir os recursos necessários para continuarem a fazer investimentos na sofisticação do negócio. Nós subvencionamos todas as operações a mais de 80% dos nossos clientes", reforçou.

Luís Teles, presidente do conselho de administração do Standard Bank Angola, considera que a última coisa que um banco quer é entrar em campanhas comerciais de abertura de contas e depois estas contas ficarem dormentes ou com saldo de zero, fruto das dificuldades financeiras das famílias angolanas.

No mercado angolano, de acordo com Luzolo de Carvalho, PCE do Banco de Poupança e Crédito (BPC), o contacto com o cliente final ainda não é feito com desenvolvimento tecnológico. "O desenvolvimento tecnológico neste momento custa muito caro e nem sempre tem retorno".

Acrescenta que a característica do nosso mercado exige que haja uma alteração no modelo de negócio dos bancos, já que grande parte dos clientes continua a ser os que têm menos literacia financeira digital.Em termos práticos, existe uma faixa limitada de clientes que entende as novas tecnologias ou tem acesso elas, por causa do fraco poder de compra dos angolanos, o que faz com os investimentos em serviços e produtos digitais não tenham retorno para a banca. Por isso, o avanço na sofisticação do sector é tímido em comparação a outras realidades.

Junta-se a isto outro aspectos próprios da configuração da nossa economia que é demasiada informal, com uma taxa acima dos 80%. "O que está a acontecer é o facto de estarmos a utilizar soluções tecnológicas bancárias para dar acesso a pessoas não bancarizadas. E os fundos destas operações vão para a informalidade. São temas mais complexos do que aquilo que realmente aparenta", lamentou.

Regulador à moda europeia

A flexibilidade dos bancos centrais são fundamentais no processo da transformação digital da banca. E, no conjunto do sistema financeiro angolano, o regulador é o que mais apresenta resistência à inovação tecnológica, de acordo com Juvelino Domingos, administrador executivo do BAI.

"Nós temos um regulador que na sua génese segue a tendência do regulador europeu. Sabemos que na Europa o regulador, por natureza, regula e depois é que deixa inovar, o que faz com que a Europa fique atrás, perante a China e os Estados Unidos, que deixam os bancos inovar e só depois é que regulam.

Em relação ao regulador, Luís Teles afirmou que BNA é reformista, extremamente exigente e quer aplicar as melhores práticas internacionais. " Talvez não devêssemos trazer modelos e soluções que existem na Europa e aplicar aqui de imediato. Queremos aplicar soluções e modelos de mercados extremamente sofisticados e evoluídos, quando tiveram centenas de anos para chegar onde estão hoje", diz.

Acrescenta que a economia africana é mais propensa a receber inovação por ter uma população mais jovem e com tendências empreendedoras.

Leia o artigo integral na edição 786 do Expansão, de sexta-feira, dia 26 de Julho de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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