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Operação de venda de activos do ex-BESA ao Grupo ENSA foi revertida em 2023

BANCO ESTÁ A VENDER IMÓVEIS RECUPERADOS APENAS A CLIENTES

Imóveis e carteira de crédito devolvidos. A ironia é que para comprar um imóvel um cliente não pode ter crédito em incumprimento, mas o mesmo não acontece com os seus accionistas, em que alguns são dos maiores devedores.

A venda de uma carteira de activos do ex-BESA ao Grupo ENSA, hoje INVESTPAR, avaliada na altura em 445,8 mil milhões Kz, que pesava nas contas da empresa pública há vários anos sem lhe garantir qualquer rentabilidade, foi revertida em 2023, apurou o Expansão junto de fontes da instituição bancária.

Destes activos, 380,7 mil milhões Kz eram créditos concedidos pelo BESA e o restante estava relacionado com activos imobiliários. Ao que o Expansão apurou, a operação foi revertida em Maio do ano passado, e a solução do Banco Económico foi passar os activos imobiliários para um fundo imobiliário.

A carteira de imóveis que o banco possui está avaliado em cerca de 500 mil milhões Kz, sendo que cerca de 30% ainda não está devidamente documentado. "O banco tem estado a vender esse património que resultou da reversão da operação com o Grupo ENSA. Tem um ano para o vender e o prazo está quase a terminar", adiantou a fonte. Passado este prazo tem que o incorporar no fundo, sendo que depois pode comercializar títulos de participação no mesmo.

Nesta tentativa de realizar dinheiro o banco tem estado a vender alguns deles a clientes com depósitos em dólares, reduzindo assim a sua responsabilidade perante os depositantes. O último leilão interno decorreu esta quarta-feira. Ao que o Expansão apurou, houve 25 candidatos, dos quais foram aprovados 14. Estavam obrigados a ter depósitos no banco acima dos 80 mil dólares e não podiam ter crédito em incumprimento. Irónico, uma vez que para comprar um imóvel ao banco o cliente não pode ter crédito em incumprimento, mas para ser accionista já pode.

Esta venda de activos do ex-BESA ao Grupo ENSA foi a solução que o Governo em 2016 utilizou para "safar" o banco, quando este foi incapaz de encontrar interessados numa emissão de 50 mil milhões Kz em instrumentos subordinados que o iria capacitar com liquidez para enfrentar os enormes desafios que tinha pela frente. Mas esse dinheiro não veio dos cofres da seguradora, foi o Estado que lhe deu, emitindo títulos de dívida pública para o efeito.

Além de uma verba que o Grupo ENSA avançou na altura, o remanescente de 398,8 mil milhões Kz era para ser pago em cinco prestações anuais no valor de 79,8 mil milhões Kz, mais juros de 7%, a partir de 15 de Junho de 2017. O que nunca aconteceu. Pelo meio decorreram negociações e o Grupo ENSA conseguiu estender os pagamentos até 2041, em vez dos iniciais 2022.

Entretanto, a contas com uma dívida de quase 257 mil milhões Kz ao BNA, o Económico conseguiu em 2017 que o banco central aceitasse que fosse o Grupo ENSA a fazer esse pagamento. Ou seja, as prestações que o Grupo ENSA teria de pagar ao BE seriam pagos directamente ao banco central na altura liderado por Valter Filipe. Só que como também nunca pagou, dois anos depois o BNA reverteu essa operação, com o Económico a voltar a ter de pagar ao banco central. O que também nunca aconteceu, e apesar de o BNA já ter essa divida provisionada, o certo é que ainda hoje esse valor consta nas contas da instituição liderada por Manuel Tiago Dias.

Depois da saída da Sonangol da estrutura accionista do Banco Económico e com a reversão da operação com o Grupo ENSA, hoje denominado INVESTPAR, já quase não há exposição de entidades públicas a este banco, apenas o BNA tem por receber uma verba que até já deu como perdida. Esta é mais uma das razões para nos corredores do poder hoje se entender que o Económico já não representa grandes riscos em caso de uma intervenção do banco central.

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