Sistema financeiro prepara-se para os riscos climáticos
Os riscos que podem afectar as organizações são de várias naturezas, como regulatórias, financeiras, de compliance, de reputação, cibernéticas e sociais e com o avanço das mudanças climáticas as acções de sustentabilidade devem ser o caminho.
As alterações climáticas têm trazido às organizações fortes debates sobre a sustentabilidade ambiental, o futuro das sociedades e dos negócios. É neste ambiente que o Conselho de Supervisores do Sistema Financeiro (CSSF) definiu quatro princípios de sustentabilidade do sistema financeiro angolano para atenuar e adaptar-se às alterações climáticas, porque as actividades desenvolvidas pelas empresas impactam e são impactadas pelo meio ambiente.
Tratam-se dos princípios de Promoção da Formação e Conhecimento, Identificar e Incorporar os Riscos Socio-ambientais no Modelo de Governação e de Gestão de Riscos, Alavancar Parcerias para Aprofundar a Compreensão das Questões e Práticas de Sustentabilidade e a Promoção da Inclusão Financeira.
Esses princípios, de acordo com o documento do CSSF publicado no site da ARSEG, têm o objectivo de garantir a resiliência do ecossistema financeiro face à eventualidade de ocorrência de riscos socio-ambientais, bem como incentivar iniciativas que visam a sua mitigação, integrar a consideração dos riscos financeiros decorrentes das alterações climáticas nos seus mecanismos de governação, entre outros.
Estas mudanças climáticas constituem hoje um dos principais riscos que ameaçam o bem-estar da humanidade, sendo que, actualmente, o aumento da frequência e magnitude de fenómenos meteorológicos extremos tem causado a perda de vidas, diminuição dos meios de subsistência, a redução da produção agrícola e pecuária, entre outros impactos adversos.
No entanto, a aplicação destes princípios permite, por um lado, aprofundar o nível de conhecimento e compreensão dos riscos socio-ambientais, promovendo o desenvolvimento da capacidade institucional, sectorial e individual necessária para identificar, avaliar e gerir os riscos e oportunidades socio-ambientais das instituições. Por outro lado, permite garantir o alinhamento de competências e a actuação concertada dos diversos players do sistema financeiro angolano.
Os riscos num banco podem, por exemplo, estar em créditos concedidos, captações, por isso, os bancos, em matéria de concessão de crédito, devem saber identificar os riscos climáticos existentes na carteira de crédito, desenvolver metodologias de classificação dos riscos e considerar os riscos climáticos, no processo de concessão de crédito.
As seguradoras devem incentivar os segurados a adoptar medidas de mitigação de riscos climáticos: como melhorias de infra-estruturas resistentes ao clima e práticas sustentáveis (por exemplo agrícolas), o que não apenas reduzirá os riscos, mas também pode tornar os prémios de seguro mais baixos.
Por exemplo, um agricultor que tenha um seguro agrícola deve ter uma infra-estrutura adequada que lhe permita armazenar a colheita e não estar exposto a qualquer acidente climático, tudo uma prática de sustentabilidade.
As seguradoras devem ainda incorporar critérios ambientais, sociais e de governança (ESG) nas suas decisões de investimento, isso pode incluir a alocação de capital para projectos de energia renovável, infra-estruturas resilientes ao clima e iniciativas de sustentabilidade, ou adoptar estratégias de diversificação de riscos para evitar concentrações excessivas de exposição em áreas propensas a riscos climáticos. Isso pode envolver a expansão para novos mercados ou a oferta de cobertura para uma variedade de riscos.
A nível interno, as instituições financeiras devem desenvolver e adoptar uma abordagem prática para integrar as considerações relativas aos riscos socio- -ambientais, como identificar e classificar os riscos socio-ambientais com impacto sobre a sua governação, desenvolver políticas de sustentabilidade apropriadas para integrar os riscos socio-ambientais no processo de tomada de decisão.
Como neste processo, o capital humano é fundamental, as empresas precisam de identificar os trabalhadores com funções e responsabilidades relevantes para compreensão das matérias relacionadas com a sustentabilidade, criar programas de formação específicos sobre sustentabilidade para os colaboradores e stakeholders, participar em fóruns nacionais e internacionais sobre sustentabilidade.
Leia o artigo integral na edição 764 do Expansão, de sexta-feira, dia 23 de Fevereiro de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)