Quando um arquipélago alcança o mundo Lições para as empresas africanas
Como uma nação diminuta, com recursos limitados e dispersão geográfica, Cabo Verde poderia ter ficado à margem dos grandes sonhos. Mas não ficou. O que fez foi inspirador: construiu um projeto coletivo, mobilizando a sua diáspora e unindo talentos espalhados pelo mundo.
Hoje é um dia para celebrar - e aprender. Cabo Verde, um país formado por 10 pequenas ilhas plantadas no Atlântico, com pouco mais de meio milhão de habitantes, fez história ao garantir a sua participação na Copa do Mundo.
Para muitos, é uma proeza futebolística. Para mim, é também uma metáfora poderosa sobre propósito, estratégia e ação - três pilares que qualquer empresa africana pode aplicar.
Como uma nação diminuta, com recursos limitados e dispersão geográfica, Cabo Verde poderia ter ficado à margem dos grandes sonhos. Mas não ficou. O que fez foi inspirador: construiu um projeto coletivo, mobilizando a sua diáspora e unindo talentos espalhados pelo mundo.
Os descendentes cabo-verdianos, residentes em Portugal, França, Holanda ou nos Estados Unidos, foram convocados não apenas pelo sangue, mas pela vontade de vestir a camisola da sua origem. Essa força identitária - e não o tamanho do país - levou-os ao mundial.
Este modelo de mobilização de talentos na diáspora é uma lição estratégica para as empresas africanas. Mostra que, quando há propósito partilhado, visão clara e cooperação, é possível ultrapassar limitações estruturais.
Imagine se as empresas africanas, e em particular as angolanas, começassem a olhar para os seus colaboradores com a mesma visão: não como meros funcionários, mas como embaixadores da missão e dos valores da organização.
O que Cabo Verde nos ensina
01. Ter uma visão inspiradora
Desde o início, o objetivo não era apenas "chegar lá". Era mostrar ao mundo que uma pequena nação pode sonhar e concretizar. Essa visão mobilizou esforços para além do desporto.
02.Valorizar a diáspora e o talento global
Cabo Verde soube reconhecer o potencial dos seus filhos espalhados pelo mundo. Empresas africanas podem fazer o mesmo: integrar profissionais da diáspora, consultores e parceiros internacionais que partilhem o mesmo ADN cultural e ético.
03. Construir identidade e orgulho coletivo
Vestir a camisola é um ato simbólico de pertença. Quando os colaboradores sentem orgulho em representar a empresa, tornam-se mais produtivos, leais e resilientes.
04.Planeamento e disciplina
A qualificação de Cabo Verde não foi sorte, mas resultado de anos de trabalho disciplinado: treino, gestão, planeamento e foco. Nas empresas, estratégia sem execução é apenas discurso.
Da competição à cooperação
E se nas empresas houvesse menos rivalidade e mais trabalho em equipa? E se os líderes inspirassem colaboração, confiança e interdependência, em vez de medo e competição?
Os resultados seriam notórios: menos desgaste, mais inovação e uma cultura de coesão que sustentaria o sucesso a longo prazo.
Quando as equipas cooperam, somam talentos e multiplicam resultados. Quando cada um compreende o papel que desempenha no propósito global da empresa, surge um novo tipo de motivação: o sentido de missão.
O exemplo para as empresas angolanas
Muitas empresas em Angola ainda enfrentam o desafio de unir pessoas com origens, formações e mentalidades muito diferentes.
A diversidade é uma riqueza - mas só se for acompanhada de um propósito comum. Tal como Cabo Verde uniu a sua diáspora em torno de uma causa nacional, as empresas precisam de unir os seus colaboradores em torno de uma causa organizacional: servir, inovar e criar valor sustentável.
Isso exige lideranças com visão sistémica e inteligência emocional, capazes de:
Escutar com empatia;
Comunicar com clareza;
Alinhar estratégia e valores;
Inspirar os outros a dar o seu melhor.
O colaborador que "veste a camisola" não é o que trabalha mais horas, mas o que acredita naquilo que faz. E quando isso acontece, a produtividade e o compromisso tornam-se naturais.
Lições para empresas africanas
01. Propósito compartilhado gera pertença
Quando cada funcionário sente que "fala pela empresa", o engajamento muda qualitativamente. O propósito deixa de ser decorativo e torna-se vetor de motivação diária.
02. Mobilização de talento remoto
Se Cabo Verde conseguiu reunir a sua diáspora para vestir a camisola nacional, empresas angolanas podem mobilizar colaboradores externos, expatriados ou especialistas na diáspora para fortalecer culturas corporativas. A distância geográfica não precisa ser uma barreira - com tecnologia e liderança consciente, pode tornar-se um recurso.
03.Identidade como fator de coesão
Cultura empresarial é identidade viva. Quando as pessoas se reconhecem no "jeito de ser" da empresa, conflitos internos "secundarizam", e a cooperação se prolonga. Em vez de rivalidades, nasce uma rede de suporte mútuo.
04.Estratégia com execução disciplinada
Objetivo ambicioso exige disciplina operacional. Muitas empresas africanas falham por subestimar a execução: falta acompanhamento, mensuração e ajustes constantes. A vitória de Cabo Verde no desporto resume isso: não bastou sonhar. Foi preciso agir bem, continuamente.
05.Cooperação em vez de competição interna
Em vez de medir individualismos, valorize sinergias. Em vez de rivalidades entre departamentos, promova pontes. Um colaborador que se sente parte de um coletivo maior produz mais e com mais significado.
Leia o artigo integral na edição 848 do Expansão, de sexta-feira, dia 17 de Outubro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)
ARIANA ORTET VIGELANDZOON, Escritora, Coach, Terapeuta Holística e Assessora Organizacional