Não seja perfeito. Seja notável!
Durante muito tempo, a perfeição foi vendida como sinónimo de sucesso: a ausência de erros, o domínio total sobre processos, a imagem imaculada. No entanto, o ambiente corporativo mais competitivo e exigente já provou que o excesso de foco na perfeição pode tornar-se numa armadilha que limita o crescimento...
No contexto empresarial actual, marcado por rápidas mudanças, pressão por resultados e crescente complexidade nas relações de trabalho, surge uma necessidade urgente de rever o modo como medimos desempenho e valorizamos talento. Durante muito tempo, a perfeição foi vendida como sinónimo de sucesso: a ausência de erros, o domínio total sobre processos, a imagem imaculada. No entanto, o ambiente corporativo mais competitivo e exigente já provou que o excesso de foco na perfeição pode tornar-se numa armadilha que limita o crescimento, sufoca a inovação e impede a construção de equipas resilientes.
A história de um gestor médio, numa unidade de negócio em Luanda, ilustra bem esta mudança de paradigma. Durante anos, foi visto como modelo de eficiência. Entregava sempre dentro do prazo, evitava conflitos e mantinha uma imagem de controlo absoluto. Contudo, a sua equipa apresentava elevados níveis de rotatividade, baixo engajamento e pouca colaboração. Num momento de crise, foi confrontado com a necessidade de mudar o seu estilo de liderança. Descobriu que, por detrás da sua imagem "perfeita", havia medo de errar, dificuldade em confiar e resistência em delegar. Ao iniciar um processo de desenvolvimento pessoal e liderança transformacional, percebeu que ser notável exigia escutar mais, mostrar vulnerabilidade e incentivar a autonomia da equipa. O resultado? Um aumento significativo na produtividade, criatividade e bem-estar do grupo. A perfeição não havia construído pontes. A autenticidade, sim.
No universo corporativo, notabilidade traduz-se em reputação de valor. Não basta saber fazer. É preciso saber ser. As competências técnicas são necessárias, mas não suficientes. As empresas que lideram o mercado são aquelas que apostam em formar líderes que inspiram pelo exemplo, que sabem lidar com incertezas e que assumem responsabilidade sem necessidade de perfeição.
Num mercado onde competências técnicas podem ser rapidamente adquiridas, são as qualidades humanas, consistência, adaptabilidade, ética e comunicação que diferenciam os profissionais e líderes de referência. Empresas que compreendem isto deixam de contratar apenas pelo currículo e passam a investir em potencial, propósito e atitude.
Esta mudança de mentalidade é também o que sustenta programas que primam pela evolução continuada, uma abordagem estruturada para promover crescimento pessoal e profissional com foco em valores, alinhamento estratégico e cultura de melhoria contínua. Programas que propõem uma viragem do foco externo para a construção interna. Não se trata apenas de bater metas, mas de formar profissionais capazes de sustentar performance com integridade e visão sistémica.
Adoptar uma cultura corporativa centrada na notabilidade implica desenvolver lideranças humanizadas, criar ambientes psicologicamente seguros, e estabelecer indicadores de desempenho que reconheçam o esforço, o progresso e a colaboração, não apenas os resultados finais. Empresas que recompensam tentativas e aprendizados constroem uma cultura de inovação e pertença. E é exactamente isso que as novas gerações procuram: sentido no trabalho, reconhecimento humano e espaço para evoluir.
Ser notável, nas organizações, significa também saber quando parar, quando pedir ajuda e quando adaptar. Implica sair do piloto automático e entrar em estados de presença plena. Profissionais notáveis gerem bem os seus limites, comunicam com empatia e cultivam relações saudáveis, elementos cada vez mais valorizados na construção de ambientes de alta performance.
Optar por ser notável é assumir uma responsabilidade madura sobre a própria trajectória. É decidir conscientemente crescer com coerência. A perfeição desgasta; a notabilidade sustenta. É por isso que cada vez mais organizações apostam em programas de desenvolvimento focados em soft skills, cultura de feedback, e inteligência relacional.
O maior activo de qualquer organização são as pessoas. E as pessoas que deixam marcas são aquelas que, mesmo sem serem perfeitas, são confiáveis, comprometidas e verdadeiras. São elas que constroem legados, elevam equipas, e impulsionam a inovação.
Leia o artigo integral na edição 847 do Expansão, de Sexta-feira, dia 10 de Outubro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)
*PAULA DE PAULA, Formadora | Analista comportamental e de carreira