Banca Angolana: Transformar o progresso em impacto real
Mais do que nunca, é tempo de passar da liquidez ao impacto, de financiar não apenas empresas, mas também oportunidades, inovação e esperança. A banca angolana tem diante de si uma oportunidade única: converter a sua maturidade regulatória e eficiência operacional em desenvolvimento tangível para o país e para os angolanos.
O sector bancário angolano vive um momento decisivo. Depois de um ciclo intenso de reformas estruturais, modernização regulatória e avanços tecnológicos, o sistema financeiro nacional apresenta sinais de maior solidez e eficiência. Mas, à medida que se aproxima de padrões internacionais, a banca enfrenta um novo teste: transformar essa robustez em inclusão, proximidade e impacto económico real.
Nos últimos cinco anos, assistiu-se a um progresso notável. Num contexto de desafios globais - volatilidade cambial, choques externos e restrições no financiamento internacional - o sector bancário angolano revelou resiliência, adaptabilidade e uma capacidade crescente de alinhar-se com as melhores práticas internacionais.
As reformas regulamentares promovidas pelo Banco Nacional de Angola (BNA) têm sido determinantes nesta trajectória. Desde o Aviso n.º 2/2020, que reforçou as regras de governance, à Lei n.º 14/21, que estabeleceu um regime mais moderno e robusto para as instituições financeiras, o sector deu um salto qualitativo em transparência, solidez e supervisão. A estas medidas somaram-se o regime jurídico das Instituições de Moeda Electrónica (IME) e o lançamento do SPTR 24/7, que permitiu a liquidação instantânea de transferências bancárias em tempo real - um marco na digitalização do sistema de pagamentos.
A inovação continuou com a introdução do KWiK - Kwanza Instantâneo, que abriu espaço à inclusão de novos segmentos populacionais e impulsionou o comércio digital. E mais recentemente, o alinhamento com normas internacionais como Basileia II/III e auditorias BCBS 239 reforçou o compromisso de Angola com um sistema financeiro sólido e preparado para o futuro.
Eficiência elevada, inclusão ainda por alcançar
Comparativamente a economias africanas similares, como Gana, Quénia ou Nigéria, a banca angolana distingue-se pela elevada eficiência e rentabilidade. Contudo, o desafio da bancarização permanece expressivo. Com apenas cerca de 31% da população com acesso formal ao sistema financeiro, Angola ainda tem um longo caminho a percorrer para garantir que o crescimento do sector se traduz em inclusão económica e social.
As zonas urbanas concentram a maioria das agências bancárias, enquanto o interior do país permanece com baixa cobertura. Esta desigualdade territorial limita o impacto da intermediação financeira e reforça a urgência de expandir canais digitais, agentes de pagamento e soluções acessíveis. Em 2024, o número de agentes bancários cresceu 641% e os agentes de pagamento 203%, sinalizando que a mudança já está em curso.
O objectivo definido pela Estratégia Nacional de Inclusão Financeira (ENIF) de alcançar 36% de bancarização até 2027 é ambicioso, mas possível - desde que os bancos apostem numa proximidade real com as comunidades, em produtos adaptados à economia informal e numa pedagogia financeira contínua.
Financiar o real, impulsionar as PMEs
A consolidação do sistema financeiro só será completa se caminhar lado a lado com o desenvolvimento da economia real. O Aviso n.º 10/2022-2024 do BNA estabeleceu um princípio essencial: obrigar os bancos a canalizar parte do crédito para sectores produtivos como agricultura, indústria transformadora e comércio.
Esta medida representa uma mudança de paradigma. Angola precisa de um sistema bancário líquido e rentável, sim, mas também de uma banca que financie o progresso, que seja parceira das PMEs, que alavanque o empreendedorismo e que contribua para a diversificação económica. A análise da KPMG mostra que é precisamente nas Pequenas e Médias Empresas (PME"S) que operam nos sectores com maior peso no PIB nominal, nomeadamente, agro-pecuária, silvicultura, pesca e comércio que reside o maior potencial de crescimento. O futuro da banca, portanto, estará nas sinergias com estas actividades e na sua capacidade de transformar crédito em desenvolvimento.
Perante este antagonismo eficiência vs inclusão, a necessidade de apoiar as PMEs e diversificação - A pergunta que se levanta é óbvia: Qual é plano para o Futuro?
A KPMG identifica cinco áreas prioritárias para sustentar a próxima etapa de evolução do sector bancário angolano. Basicamente, o que propomos é um caminho onde os bancos deixam de ser só intermediários e passam a ser motores activos de desenvolvimento. Entendemos que os bancos têm hoje as condições tecnológicas, regulatórias e humanas para desempenhar um papel central no desenvolvimento económico e social do país. Cinco alavancas estratégicas para o futuro:
01. Expansão do acesso e inclusão financeira | Aumentar a cobertura territorial e digital, reforçando a rede de agentes, de canais móveis e de produtos adaptados às necessidades da população;
Leia o artigo integral na edição 847 do Expansão, de Sexta-feira, dia 10 de Outubro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)
*DANILSON SEMEDO, Partner de Advisory da KPMG Angola