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O futuro é certo e o passado imprevisível

CAPITAL HUMANO

Se olharmos para os "anos de ouro" do petróleo, é fácil cair na armadilha da nostalgia: a saudade dos tempos em que os cofres públicos transbordavam e parecia haver uma promessa infinita de prosperidade. Mas será que esses tempos eram tão bons como nos lembramos?

O futuro é certo e o passado imprevisível". Na União Soviética estalinista fazia-se esta piada recorrente sobre a adulteração do passado. No entanto, é curioso como esta ideia se aplica à economia, sobretudo em países onde os ciclos de bonança e crise moldaram gerações, como Angola. Se olharmos para os "anos de ouro" do petróleo, é fácil cair na armadilha da nostalgia: a saudade dos tempos em que os cofres públicos transbordavam e parecia haver uma promessa infinita de prosperidade. Mas será que esses tempos eram tão bons como nos lembramos?

Na altura o preço do petróleo era alto, mas também eram as incertezas. Angola dependia quase exclusivamente de um recurso finito cujas oscilações estavam fora do seu controlo. Muitos estavam preocupados com a falta de diversificação económica, com a corrupção e a ausência de investimentos sustentáveis, mas hoje, ao olharmos para trás, conhecemos o desfecho dessa história: apesar das dificuldades, Angola sobreviveu.

A nostalgia económica é perigosa porque distorce a realidade. Vemos o passado como um tempo de certezas, quando, na verdade, estava repleto de dúvidas e desafios. A crise de 2014, quando o preço do petróleo colapsou, foi um lembrete brutal disso. Nessa altura, muitos sentiram que o país estava à beira do abismo. Empresas fecharam, o desemprego aumentou e a inflação disparou. Contudo, se perguntarmos a alguém hoje sobre 2014, a resposta provavelmente será: "Sim, foi difícil, mas superámos." E é aqui que entra o poder da resiliência.

Angola enfrentou tempos difíceis e embora ainda esteja longe de uma economia plenamente diversificada, houve alguns avanços significativos. O sector agrícola tem recebido atenção e investimento, a digitalização transformou alguns serviços e infra-estruturas essenciais foram construídas. Estes progressos são fruto de uma capacidade inata de adaptação, uma qualidade que muitas vezes subestimamos no presente, mas celebramos em retrospectiva.

Curiosamente a resiliência não é apenas uma questão de sobrevivência, mas também de memória selectiva. Esquecemos o quão difíceis foram os tempos de crise porque nos habituamos a lidar com os seus impactos.

Há uma lição importante a retirar: o presente nunca parece tão bom quanto o passado porque estamos imersos na incerteza. Sobrevivemos a choques económicos, a instabilidade política e a crises globais e sempre que a poeira assenta, olhamos para trás e percebemos que somos mais fortes do que pensávamos. Hoje, enquanto Angola enfrenta desafios como a inflação, a pressão cambial e as consequências de uma economia global interligada, é fácil cair na tentação de dizer: "Tudo era melhor antes." Mas será que era mesmo?

Se há algo que a nostalgia nos deve ensinar é a importância de olhar para o presente com olhos diferentes. Reconhecer que os desafios de hoje serão as histórias de superação de amanhã. Que o medo e a ansiedade que sentimos agora são naturais, mas não permanentes.

Talvez o verdadeiro poder da resiliência angolana esteja na capacidade de aprender com o passado sem o romantizar, enfrentando o presente com pragmatismo e fé no futuro. Afinal, se Angola sobreviveu a crises tão profundas, quem disse que não sairá mais forte das dificuldades de hoje? Olhando para trás, o passado não foi tão bom quanto nos lembramos. E, olhando para a frente, o amanhã talvez seja melhor do que imaginamos. A chave é aprender a viver no presente, reconhecendo que a resiliência que nos trouxe até aqui será suficiente para levar- -nos ainda mais longe.

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