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Podem ter pena de mim!

CAPITAL HUMANO

A pena pode levar a actos de solidariedade e carinho, ou pode ser uma forma de nos tentarem manipular ou diminuir. De qualquer forma: o que os outros sentem ou dizem define-os a eles, não a nós. No entanto, se o que os outros dizem funciona como um gatilho e despoleta uma reacção agressiva ou defensiva: importa analisar porquê.

Uma daquelas situações que parecem mexer com algo profundamente enraizado em nós é o horror de que tenham pena de nós! Aprendi que é preciso muita cautela ao dizermos algo como: "Oh, coitado!", ou "Oh, coitada!", pois a primeira reacção parece ser: "Eu não sou coitado!". Costumo pedir aos meus alunos: "Quem não gosta que tenham pena de si levante a mão, por favor". Invariavelmente, a turma toda levanta a mão. Quando pergunto porquê, respondem: "Não preciso que tenham pena de mim!"; "Não sou coitado!"; e frases parecidas. Há um grande desconforto interno perante a alusão de poderem ser considerados merecedores de pena.

Porque é que nos preocupamos com o facto de os outros poderem ter pena de nós?

Creio que nos preocupamos tanto por três razões fundamentais: o medo da opinião dos outros; o medo de nos mostrarmos vulneráveis; feridas emocionais que foram feitas quando éramos crianças.

Uma das principais prisões em que vivemos é a opinião dos outros. E se a opinião dos outros é importante, por exemplo, para conseguirmos um emprego ou uma promoção, não deveria ser minimamente importante para o afecto que deveríamos nutrir por nós, ou para a forma compreensiva como deveríamos falar connosco, dentro da nossa mente. Michael Gervais, em "A primeira regra da excelência: pare de se preocupar com o que os outros pensam" ("The first rule of mastery: stop worrying about what other people think", 2023), fala-nos do FOPO ("fear of what other people think" - medo do que os outros pensam) e explica-nos que este medo nos mantém estagnados, limitados, amedrontados. Valorizamos a opinião dos outros, porque precisamos dos outros para sobreviver. Mas é preciso entender que nem todos nos ajudam a ser felizes e melhores. Há que seleccionar bem quais as opiniões que importam.

A outra prisão é o medo de nos mostrarmos vulneráveis. Aprendemos que os homens não choram, lutam na guerra, são os líderes das empresas, os chefes de família. A pior coisa que poderia acontecer seria terem pena dele. Com as mulheres, apesar de a pressão para não mostrarem vulnerabilidade ser, aparentemente, menor (afinal, podem chorar), a verdade é que a mulher tem de ser guerreira; tem de criar os filhos muitas vezes sozinha; tem de trabalhar fora de casa e dentro de casa; tem de ser, tantas vezes, mãe dos filhos, mãe do marido e mãe dos pais; tem de estar sempre atenta, para garantir a felicidade dos outros e fazer a gestão de conflitos familiares; entre outros.

Leia o artigo integral na edição 803 do Expansão, de sexta-feira, dia 22 de Novembro de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui.

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