"O ambiente de negócios não é favorável para a agricultura"
O antigo secretário de Estado para a Agricultura e Pecuária defende que é necessário repensar a agricultura angolana no seu todo, de A a Z, acabar com a postura de dar, e criar um sistema de subsidiação forte em toda a cadeia agrícola. E ter uma política de desenvolvimento rural, que ainda não existe.
Desde os anos 80 que oiço os mais velhos dizerem que o futuro do País são os agrodólares e não os petródolares, mas a verdade é que nunca aconteceu. Podemos dizer que hoje esta máxima está desactualizada?
Desactualizada não diria. Infelizmente não podemos dizer com a mesma convicção de há uns anos atrás que os agrodólares são o futuro de Angola. Há 50 anos atrás a agricultura era muito forte no País, mas hoje tem-se feito muito pouco para aquilo que necessitávamos.
Tivemos todo um período de guerra que, efectivamente, não permitiu que se desenvolvesse a agricultura ou que se desse continuidade à produção agrícola.
Passado é passado. Vamo-nos cingir ao que se passou a partir de 2002. Todos esperávamos mais da agricultura, mas ela sofre dos mesmos males do resto da economia. O ambiente de negócios não é nada favorável para a agricultura em toda a sua extensão, desde o conhecimento, o acesso aos insumos e equipamentos, o crédito...
Está a dizer-me que não existe um plano, uma política nacional para que a agricultura se possa desenvolver?
Tenho-me batido por isso há muitos anos a esta parte. Não há metas concretas para a produção das diversas culturas. Precisamos de uma política com uma estratégia bem definida, onde se afirmasse o que era prioritário para a agricultura. Nós temos limitações de recursos, temos limitações de conhecimento, temos limitações em vários sentidos. Temos de pôr o foco numa determinada estratégia, que deve definir quais são as culturas fundamentais para mitigar o problema da fome em Angola. E são quatro - milho, arroz, feijão e soja, por inerência de rotação de culturas.
Com metas de produção concretas e realistas..
Exactamente! Com estas quatro culturas e metas objectivas, temos que atingir em 2027 ou 2030 cerca de 2 milhões de toneladas e vamos pôr todos o foco nisso. Vamos todos trabalhar neste objectivo. Agora nós não temos essas metas. Falamos da pobreza, falamos do combate à fome, mas é tudo muito genérico. Se nós apostarmos nestas quatro culturas, estamos também a permitir um desenvolvimento na avicultura, na suinicultura, um aumento da produção dos pequenos ruminantes e até na carne bovina.
Portanto, focar em menos culturas mas com mais resultados.
Poderíamos pensar, por exemplo, em culturas de exportação. Não vamos pensar em 10, 15 ou 20. Duas, café e cacau. Pôr o foco nessas duas. Olhar para o café como uma cultura industrial que pudesse ser uma cultura de exportação nos próximos quatro anos. Temos que pôr o foco nisto.
Mas hoje o discurso vai muito no sentido do desenvolvimento da agricultura...
Costumo explicar da seguinte forma. Em 1976, o que é que nós decidimos relativamente à economia em Angola? Quem é que nos poderia garantir o suporte para o desenvolvimento numa situação que tínhamos de guerra, isolamento político? Focámo-nos nos petróleos. Criou-se o Ministério dos Petróleos na altura. Criou-se uma empresa, a Sonangol, a quem se deu recursos e condições para poder funcionar. E evoluiu, hoje temos uma Agência Nacional de Gás e Petróleo. E o que é nós fizemos na agricultura ao longo destes anos?
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